cartaz-funcionario-do-mesAssim como Henry Hill, o personagem real vivido por Ray Liotta no sensacional “Os Bons Companheiros”, Checco (Checco Zalone) sempre teve quis apenas ser uma coisa na vida. Porém, ao contrário de Hill, ele não queria ser um gângster nem se envolver com o crime organizado. Mas se tornar um mero funcionário público, com todas as regalias que o governo pode fornecer a seus servidores e ser tratado como um verdadeiro rei por todos. A partir dessa premissa, o diretor Gennaro Nunziante faz uma divertida comédia que diverte ao mesmo tempo que critica os burocratas que adoram “mamar nas tetas” do Estado para se dar bem sem fazer muito esforço, algo que acontece bastante também no Brasil.

Em “Funcionário do Mês” (“Quo Vado?”), Checco vive confortavelmente numa pequena cidade italiana com sua família e com seu emprego estável. O que ele não contava é que o governo, precisando fazer cortes no orçamento, inicia um programa de demissões voluntárias, comandado pela Dra. Sironi (Sonia Bergamasco), que acaba atingindo justamente o seu setor. Desesperado em manter seu trabalho, Checco aceita ser transferido para vários lugares diferentes até parar no Pólo Norte, para proteger pesquisadores italianos de ursos polares. Lá ele conhece a cientista Valeria (Eleonora Giovanardi), que estuda animais que podem entrar em extinção. O burocrata acaba se apaixonando pela moça e passa a ter uma visão diferente da vida.

O que torna “Funcionário do Mês” uma comédia diferente da maioria que são exibidas atualmente no cinema é a maneira leve, porém contundente, de mostrar como funciona o trabalho burocrático na Itália, já que o protagonista representa (de forma exagerada, claro) todos os servidores públicos que preferem se acomodarem em seus cargos do que realizar algo relevante com o seu trabalho. Mas o filme também faz rir ao mostrar a maneira caricatural e, às vezes, melodramática que vivem alguns personagens, especialmente os pais de Checco, que, num dado momento, chegam a se chocar com as mudanças pelas quais o filho passa com suas novas experiências. Outro destaque está nas canções que permeiam o filme, que mostram como é a personalidade do personagem principal, bem divertidas, mas que fazem mais sentido se o espectador conhece melhor a realidade italiana.

O roteiro, escrito por Zalone e Nunziante, tira graça das desventuras de Checco para se adaptar à sua nova realidade, com seus trabalhos inusitados que ele aceita para não aceitar as propostas que recebe do governo, o que deixa a Dra. Sironi cada vez mais furiosa. Mas o texto também ganha pontos pelos diálogos travados entre ele e Valeria, que procura mostrá-lo que a vida é bem mais do que um ter simples emprego. O único porém é que, numa parte da história, o tom leve é trocado por algo um pouco mais sério, que pode causar um certo tédio para quem não embarcar na proposta apresentada no filme.

No bom elenco, o principal destaque vai, obviamente, para Checco Zalone, que já tinha trabalhado com Nunziante em outros filmes. Seu estilo de humor é diferente dos comediantes que o público brasileiro está acostumado, mas é bastante eficiente, e gera um grande carisma que faz o espectador torcer por ele, mesmo que sua moral não seja exatamente correta. Eleonora Giovanardi está bem como a idealista Valeria, assim como Sonia Bergamasco, que diverte com seus chiliques causados pela insistência de Checco em não se demitir. Os outros atores não são marcantes, mas também não atrapalham o resultado final.

Campeão de bilheteria na Itália, “Funcionário do Mês” merece ser descoberto pelo grande público pela maneira divertida que usa para tratar de um tema atual nos países europeus, mas que poderia perfeitamente acontecer no nosso Brasil varonil. Além disso, num mercado dominado por vários blockbusters americanos, é sempre bom ver uma produção italiana nos nossos cinemas. Portanto, vale a pena dar uma chance para curtir a engraçada saga de Checco para não largar seu amado emprego.

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