Dirigido pelo italiano Giuseppe Tornatore, do ótimo Cinema Paradiso (1988), Lembranças de um Amor Eterno (La Corrispondenza) aposta em um romance melodramático com pano de fundo parecido com PS: Eu te Amo, mas sem chegar aos pés de sua inspiração.

Ao primeiro minuto do filme, somos apresentados ao casal protagonista (Jeremy Irons e Olga Kurylenko) em uma tomada eficiente, evidenciando a forte paixão entre os dois aos beijos em um momento silencioso. Por mais que seja interessante que Tornatore tenha optado por não usar uma música estereotipada para reforçar o sentimento em cena, os diálogos passam uma entonação completamente distinta do que estava por vir nas duas horas seguintes. Tal momento dita um tom de suspense intrigante que enganaria facilmente a quem não assistiu ao trailer. Aliás, o maior problema do filme é não saber que tipo de história quer contar.

O filme narra o romance entre a estudante universitária Amy (Kurylenko) e o professor de astrofísica Edward Phoerum (Irons). Os dois trocam mensagens e vídeos durante o tempo livre. Quando ele se nega a encontrar com Amy, ela descobre um triste segredo.

A narrativa flerta com o sobrenatural e praticamente ameaça ser uma fantasia sobre amor. Isso se deve ao fato de pequenos momentos (ainda) inexplicáveis ao longo do primeiro ato, quando, por exemplo, o personagem de Irons parece conseguir ler a mente de sua amada. Ou quando, por meio de uma conversa por vídeo, adivinha que Amy perderia suas chaves, e pior, sabendo exatamente a hora. Confesso que se o filme tomasse esse caminho fantástico seria mais interessante só pelo fato da surpresa. Entretanto, Tornatore opta por mergulhar em uma história muito mais melodramática do que crível. Sim, o momento na vida de Amy é trágico, mas o filme se torna muito mais pesado para o espectador com 120 minutos de lágrimas de sua protagonista com uma narrativa arrastada (o que nunca vejo como um problema se a mesma me prender). O diretor ainda faz questão de aumentar o peso dramático ao explorar uma história de perda no passado de Amy, revelada somente ao final do segundo ato. Interessante pelo fato de justificar seu interesse por trabalhar como dublê de cenas perigosas, mas absolutamente superficial no ponto de vista narrativo. O diretor deixa escapar belas oportunidades de aprofundamento, como por exemplo, poderia ter explorado os problemas morais de um relacionamento entre um professor com uma aluna bem mais nova. Nenhuma citação sobre o caso.

É inegável o charme que Jeremy Irons entrega na construção de seu personagem. Seu amor por Amy é bem estabelecido em cada momento em que o veterano surge em cena. Se esforçando ao dar vida a diálogos genéricos sobre astrofísica para dar uma complexidade desnecessária ao filme. Tornatore erra ao tentar fazer seu filme ser mais inteligente do que sua proposta exige. Graças ao talento de Irons, tais diálogos não se tornam ociosos.

Kurylenko também é prejudicada pela escrita, mas faz o que pode para dar veracidade aos sentimentos de Amy. Há um belo momento onde a protagonista cai em lágrimas ao servir de modelo para uma arte escultural, ou quando a mesma se revolta ao arriscar sua vida em uma cena de ação. Devo valorizar também o trabalho de Tornatore nestes breves momentos, que por mais que não se limitem a somente os citados, ainda deixa a desejar por reconhecer sua competência em longas anteriores.

Senti muito a falta de momentos bem-humorados no filme, ou até mesmo de um alívio (no melhor sentido da palavra) cômico. Há momentos que pediam muito bem uma cena inusitada de humor, mas o máximo que o filme alcança são alguns breves suspiros de graça vindo de Amy.

Há uma relevância promissora quando Amy decide conhecer alguns familiares de Ed, incluindo um interessante diálogo entre a protagonista e uma de suas entes, vivida por Shauna MacDonald, em uma cafeteria. Os sentimentos são bem explorados e executados pelas duas atrizes.

Enquanto isso, a música do gênio Ennio Morricone é o ponto altíssimo da produção. Guiando toda a história com emoção e, até mesmo, um suspense eminente. Suas melodias casam perfeitamente com as belas locações na Itália, tornando o filme um espetáculo visual. Uma pena que a eficiente fotografia seja muitas vezes prejudicada por tantas cenas de baixa qualidade durante as conversas por vídeo.

Lembranças de um Amor Eterno podia muito bem ser melhor. Há uma originalidade promissora no roteiro que lembra outras produções, mas o exagero no melodrama e o fato de não saber que tipo de gênero se aprofundar prejudicam altamente a produção.

Por Gustavo Brasil

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