Através da Sombra – Brasil, 2015. 106 min. – Direção: Walter Lima Jr. Com: Virginia Cavendish, Ana Lúcia Torre, Mel Maia, Domingos Montaigner
Inspirado no famoso livro “A Outra Volta do Parafuso” de Henry James, “Através da Sombra”, dirigido pelo mestre Walter Lima Jr. tem como mérito transportar para o Brasil dos tempos coloniais, uma trama que fala sobre repressão, tensão sexual e mistério através de uma professorinha educada em um colégio de freiras. Contratada por um homem rico (Domingos Montaigner em seu último papel para o cinema) para cuidar de seus dois sobrinhos órfãos em uma distante e isolada fazenda de café, Laura se depara com estranhos acontecimentos que irão perturbá-la profundamente.
Walter parece perseguir a mesma linha clássica de “Os Inocentes” – a magnífica adaptação dirigida por Jack Clayton em 1961 – aonde a professora, aos poucos vai perdendo a sanidade diante do isolamento de um cárcere imposto, mas esquece de introduzir a ambigüidade necessária para que o espectador fique com a pulga atrás da orelha. Infelizmente as comparações com a produção inglesa são inevitáveis, mas aqui tudo é mais explícito e há mais ênfase nos reprimidos desejos sexuais de Laura, que se excita apenas por ver o corpo de um homem suado depois de uma luta, como se fosse o bastante para resolver uma complexa questão.
A atriz Virginia Cavendish, também produtora e idealizadora deste projeto, faz um belo trabalho de composição, embora sua evolução fique prejudicada por uma edição dissonante que impede que se crie uma atmosfera apropriadamente misteriosa. Alguns subtextos como a escravatura, o contexto político da época e as superstições do folclore brasileiro são completamente ignorados, abrindo mão de ricos códigos narrativos.
O elenco conta ainda com a participação correta de Ana Lúcia Torres, como a governanta da fazenda e os atores mirins Mel Maia e Xande Valois que cumprem o difícil papel de construir personagens suavemente perversos.
“Através da Sombra” tem a ótima intenção de trazer um texto literário para o cinema nacional, mas falha em recriar para a realidade brasileira.
