Nascida para o Mal (In This Our Life) – Eua, 1942. 97 min – Direção: John Houston – Com: Bette Davis, Olivia de Havilland, George Brent, Dennis Morgan, Charles Coburn


O lançamento da série “Feud”, que em sua primeira temporada retrata a clássica rivalidade entre as duas maiores divas do cinema, Bette Davis e Joan Crawford, proporciona um olhar mais apurado sobre a carreira destas atrizes. O filme “O Que Aconteceu com Baby Jane” de 1962 (cujo texto está disponível nesta coluna) foi o medidor de forças de um tempo onde as estrelas eram muito mais importantes que os próprios filmes. Joan Crawford, por exemplo, exigia que seu nome aparecesse sempre em destaque antes do título inicial e a última sequência teria que ter obrigatoriamente sua presença. Bette Davis não admitia atrasos e fazia questão de escolher papéis que valorizassem seu talento (isso numa época onde os estúdios eram comandados por um sistema machista e misógino).

“Nascida para o Mal” de 1942 (In This Our Life no original) é um bom exemplo deste vigor explosivo, uma vez que o trailer original nem cita o nome do diretor John Huston, que aqui assina seu segundo filme, logo após o sucesso do clássico noir “Relíquia Macabra” (também conhecido como “O Falcão Maltês” de 1941). É impressionante assistir como Huston manipulava cenas íntimas conseguindo imprimir um tom excessivamente trágico nesta história sobre o deterioramento de uma família sulina cuja mimada e fútil Stanley (Bette Davis) é o pivô de uma tragédia.

Baseado no livro ganhador do prêmio Pulitzer de Ellen Glasgow e repleto de temas espinhosos como suicídio, alcoolismo, traições, incesto (no livro era explícito), racismo exacerbado e assassinato, a adaptação (a cargo de Howard Koch) foi repleta de problemas judiciais para os estúdios da Warner que fez alterações substanciais para conseguir levar às telas este verdadeiro representante do melodrama feminino dos anos 40.

Tudo é deliciosamente trágico e até a música de Max Steiner (sempre suave) desta vez é usada para aumentar o clima de insanidade dos personagens.

Bette Davis declarou em entrevistas que não gostou do resultado final, mas sua Stanley é um ciclone furiosamente exagerado, revirando seus grandes olhos em busca de uma solução para seus fúteis problemas. Olivia de Havilland, no papel da contida irmã Roy, se destaca pela suavidade com expressões que demonstram rancor e perdão com um equilíbrio impressionante. A comparação é evidente e as duas atrizes são forças cintilantes e esplendidas em um filme que merece ser revisado de tempos em tempos.

 

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