Fragmentado (Split) / Eua, 2016. 90 min. / Direção: M. Night Shyamalan / Com: James McAvoy, Anya Taylor-Joy, Betty Buckley e Haly Lu Richardson.

 

 

 

 

Depois de amargar uma sequência de fracassos, iniciada com “Fim dos Tempos” (2008), passando por “O Último Mestre do Ar” (2010) coroando com o péssimo “Depois da Terra” (2013), M. Night Shyamalan decidiu por um freio e apelar para obras de cunho independentes sem abandonar sua zona de conforto que é o thriller convencional. Em “A Visita” (2015) o diretor conseguiu arrecadar alguma credibilidade com um filme barato e eficaz, embora sem grandes chances de cimentar sua antiga fama.

Mas em “Fragmentado” (Split no original) o que se vê é uma jogada maliciosa, provocativa e no mínimo ousada. O que está em jogo não é contar uma trama sobre um sociopata com múltiplas personalidades (mais precisamente, 24) que rapta três adolescentes e sim um conjunto imagético onde o diretor pode exercitar (novamente) sua capacidade de manter o espectador em freqüente dúvida sobre o que está assistindo. Parece que Shyamalan está sempre perseguindo a fórmula de seu grande sucesso (“O Sexto Sentido” de 1999) acostumando o público com um plot twist final (aquela reviravolta surpreendente), mas “Fragmentado” é mais complexo e agressivo do que aparenta. Embora esteja sendo vendido como um thriller de suspense sobre um serial killer maníaco, Shyamalan nos introduz aos subterrâneos do inconsciente catártico acrescentando contornos sobrenaturais e pincelando com aquele verniz padronizado que só o cinemão norte americano sabe produzir. O diretor introduz várias referências cênicas (homenageando clássicos como “Psicose” e “O Iluminado”) e as interpretações são deliciosamente surpreendentes, graças à divertida composição de James McAvoy e de Anya Taylor-Joy (vista recentemente em “A Bruxa”). A direção de arte reflete meticulosamente os meandros de uma mente perturbada alternando sequências sufocantes do porão mental de Kevin com flashbacks sobre o passado traumático dos personagens principais.

O espectador mais exigente terá dificuldades para conectar algumas pontas soltas que o roteiro (assinado por Shyamalan) apresenta, mas quem quiser embarcar neste pesadelo banalizado e intrigante que usa o surrado jogo de abdução não sairá decepcionado
“Fragmentado” transcende sua função artística, abre um link com “Corpo Fechado” (2000) e certamente será lembrado como um projeto onde se vislumbra o esforço de um cineasta em pleno conhecimento de seus códigos narrativos.

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