Paterson / Eua, França, Alemanha, 2016. 118 min. / Direção: Jim Jarmusch / Com: Adam Driver, Golshifteh Farahani, Rizwan Manj

Adam Driver é o Paterson do título, um motorista de ônibus da pequena cidade de Paterson em Nova Jersey. Ele mora com a iraniana Laura (Golshifteh Farahani) e o buldogue Marvin (Nellie) e seus dias são preenchidos por uma constante rotina. Levanta-se a mesma hora, prepara o mesmo desjejum, faz sempre o mesmo trajeto no trabalho, volta para casa e saboreia os exóticos pratos que Laura prepara, leva Marvin para um passeio, passa no bar para tomar uma cerveja e volta para casa para dormir.

A narrativa se concentra em sete dias deste cotidiano modorrento, cada dia, estruturado como na comédia “Feitiço do Tempo” (Groundhog Day), mas com um diferencial sutil. É o toque de Jim Jarmush – cineasta independente, autor de obras fantásticas sobre o tédio e suas conseqüências. Sua marca é contar a mesma história sem que nada aparentemente aconteça, levando o espectador a questionar sobre aquilo que está vendo. O compasso lento é intencional, pois tem a intenção de extrair beleza das coisas mais insignificantes que acontecem em nossas vidas. O filme também soa como uma declaração de amor às antigas tradições. Assim como Paterson – o personagem – que se recusa a ter um smart fone ou um alarme, Paterson – a cidade – foi a meca da indústria no início do século 20 e hoje vive semi deserta e distante.

O filme foi ganhou vários prêmios, mas o mais significativo foi a Palm Dog no último Festival de Cannes ao buldogue Nellie que faleceu meses após as filmagens por complicações caninas desconhecidas. Nem Jarmush bolaria um final como este.

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Zeca Seabra – Cinéfilo carioca com formação em Comunicação Social pela Puc em 1980 e em Hotelaria pela Estácio de Sá em 1983. A partir de 1995 participou de vários cursos e em 2006 começou escrevendo textos críticos para o blog paulista “Cinema com Pipoca”, um dos primeiros a tratar do assunto. Desde 2010 participa de debates e encontros com textos já publicados em catálogos de mostras especializadas. Em 2016 participou da oficina crítica cinematográfica com o renomado crítico francês Jean-Michel Frodon. É membro da ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro) desde 2013 e crítico do site Almanaque Virtual.

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