Vida (Life) / Eua, 2017. 104 min. / Direção: Daniel Espinosa / Com: Jake Gyllenhaal, Rebecca Ferguson, Ryan Reynolds, Hiroyuki Sanada

A ficção científica é um gênero que está sempre se adaptando conforme a época. Nos anos 50, era usado para expor a paranóia da população norte americana com ameaça comunista e nuclear em filmes onde animais gigantescos ou monstros deformados atacavam o planeta. Nos anos 60, Kubrick ofereceu uma visão transformadora sobre a origem da vida no operístico “2001 – Uma Odisséia no espaço” (1968), filme obrigatório para cinéfilos e estudantes de cinema. Em 1979, Ridley Scott inaugurou o suspense comercial com o claustrofóbico “Alien, O 8º Passageiro” – responsável por uma franquia ainda em andamento (“Alien: Covenant” dirigido por Ridley deverá estrear ainda este ano). Nos anos 2000 o scy-fi foi evoluiu para questões mais filosóficas onde os personagens questionavam o futuro da humanidade em filmes como “A Origem” de 2010, “Gravidade” de 2013, “Interestelar” de 2014, e o recente “A Chegada” de 2016.

Mas em “Vida” (Life no original) de 2017 dirigido pelo sueco Daniel Espinosa o gênero retrocede quase 40 anos para recontar uma trama onde um predador alienígena ameaça a vida dos tripulantes de uma aeronave. Sim, este filme pode ser tranquilamente considerado um rip-off (uma espécie de releitura) de Alien confirmando que a mesma história pode ser reprisada várias e várias vezes sem que o público sinta-se enganado.

A trama fala de um grupo de investigadores a bordo de uma estação espacial que descobre um organismo vivo em Marte com rápida evolução e de instinto assassino, batizado como “Calvin” e que os eliminará um a um. A criatura parecida com uma lula gosmenta tem inteligência suficiente para enganar tripulantes bem preparados e um poderoso instinto de sobrevivência que a faz invencível frente aos aparatos tecnológicos disponíveis. Embora seu suspense seja um grande deja vu (sem o impacto de sua fonte de inspiração), o filme levanta boas questões.
O roteiro de Rhett Reese e Paul Wernick (responsáveis pelo irônico Deadpool de 2016) parece querer dizer algo mais que o simples jogo de gato e rato.Em determinada altura, o astronauta David Jordan vivido por Jake Gyllenhaal, que está um ano sem ir à Terra por não ter condições de conviver com a violência no planeta, defende a criatura afirmando que ela não mata apenas por prazer e sim pelo instinto de sobrevivência. Ou seja, para que uma vida possa existir é necessária a morte de outras. Ao seguir esta trilha, o filme adquire um contorno muito mais amplo, e não menos assustador, ao querer amenizar a crueldade e a opressão nos dias de hoje.

“Vida” não mudará os rumos da ficção científica, mas oferece tensão e uma leve reflexão sobre o comportamento dos seres humanos, o que já é suficiente para valer a ida ao cinema.

 

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Zeca Seabra – Cinéfilo carioca com formação em Comunicação Social pela Puc em 1980 e em Hotelaria pela Estácio de Sá em 1983. A partir de 1995 participou de vários cursos e em 2006 começou escrevendo textos críticos para o blog paulista “Cinema com Pipoca”, um dos primeiros a tratar do assunto. Desde 2010 participa de debates e encontros com textos já publicados em catálogos de mostras especializadas. Em 2016 participou da oficina crítica cinematográfica com o renomado crítico francês Jean-Michel Frodon. É membro da ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro) desde 2013 e crítico do site Almanaque Virtual.

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