O primeiro longa do diretor Hsu Chien baseado no conto “Motel” de Luis Fernando Verissímo e com roteiro não politicamente correto de Paulo Halm, mostra através de personagens bastante caricatos de forma criativa o cenário sócio econômico que vive o povo brasileiro.

A abertura é cinematográfica por fazer um panorama pela cidade do Rio de janeiro e usar os letreiros dos lugares como créditos. Nesta comédia não temos um protagonista, pois todos os personagens são “os donos da história” e terão seu momento de glória.

Para mostrar os “protagonistas” desta trama irreverente pessoas com realidades completamente diferentes “ficam presas” no “motel” por causa de um suposto vírus apresentado por um funcionário. O título contribui para fazer um parêntese do período político que vive o país e os “protagonistas” reforçam quando repetem o nome do filme nos diálogos. Como diz o diretor: “É um filme subversivo!”

Neste período de quarentena assistimos a transformação desses personagens no “Zeffilus”. Com “protagonistas” um tanto caricatos e desde o início sabemos com quem estamos lidando. A começar pela Juíza Letícia, personagem de Danielle Winits, que se julga acima do bem e do mal e trata os outros como meros objetos, como mostra a relação de humilhação que mantém com seu empregado Acauã (Tatsu Carvalho) que aceita tudo passivamente. Além de tratar com frieza a relação com seu único filho Caju (João Cortês) que nem ao menos sabe que está no mesmo lugar que ela, pois na concepção o dinheiro compra tudo, inclusive sentimento.

Essa personagem mostra de maneira explicita: “manda quem pode, obedece quem tem juízo” exatamente como fazem os nossos políticos. No Zeffiro’s, por exemplo, a recepcionista Edilene (Renata Castro Barbosa) nem precisa perguntar o que quer, a resposta é o famoso, o de sempre que no desenrolar da trama, essa afirmação cai por terra, na seqüência de reconciliação com o seu filho, pois ali vemos uma mulher frágil por amor e um adolescente que precisa da aceitação da mãe para ser feliz de fato, onde Caju consegue nos emocionar demonstrando o carinho especial que tem por sua mãe com seu olhar de afeto.

O casal de suburbanos é um dos pontos altos desta comédia, que de maneira exagerada e com uma interpretação carregada por “tintas fortes” apresenta uma mulher capaz de tudo para se casar. No romance de Suellen e Edu vividos por Letícia Lima e Emiliano D’Ávila mostra claramente que quem comanda a relação é a mulher.

O casal de adolescentes faz uma paródia aos enlatados americanos de forma descontraída, onde mais uma vez quem comanda a relação é o lado feminino, onde Bebel (Bella Piero) seduz o nerd Caju (João Cortês) filho da autoritária juíza Letícia, mas durante a quarentena as coisas mudam.

O casal mais improvável é o da virgem que se apaixona pelo seu próprio sequestrador e que povoa o imaginário popular dos amores bandidos. Mariana Santa de modo especial faz com que o espectador torça pelo “happy end” entre Margot e Alexandre (Rafael Infante) onde a sonhadora mocinha cativa o público com seu jeitinho de ser desde o começo.

A faxineira Francisca vivida pela irreverente Guta Stresser, a inesquecível Bebel de “A Grande Família” é uma mulher fanática pelo seu “dono” e faz de tudo para captar fiéis para a sua seita doentia em que os participantes aderem por estarem vulneráveis naquele momento. Mostra claramente que em casos extremos as pessoas mudam como acontece por não conseguirem fugir e se transformam em verdadeiros “zumbis” pela falta de perspectiva que gera a famosa lei da sobrevivência humana e até que grau de loucura é capaz de chegar como insana Francisca, que por mais incoerente que esta personagem seja, o que todos querem de verdade é encontrar a felicidade.

 

 

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3

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