Paixão dos Fortes (My Darling Clementine) – Eua, 1946. 97 min. Direção: John Ford . Com: Henry Fonda, Linda Darnell, Victor Mature, Cathy Downs, Walter Brennan, Tim Holt, Ward Bond, Alan Mowbray, John Ireland, Roy Roberts, Jane Darwell, Grant Withers, J. Farrell MacDonald

Após um intervalo de sete anos (período em que esteve engajado com a 2ª guerra), John Ford produziu “Paixão dos Fortes” (My Darling Clementine no original), filme que marcaria seu retorno aos westerns, gênero que conhecia tão bem.

Sua escolha pelo emblemático duelo no OK Curral não foi á toa. Ford realmente conheceu Wyatt Earp em sua juventude e dizia, em entrevistas, que a sequência foi filmada do jeito que ouviu do próprio. Mais tarde admitiu que nem tudo era a verdade, ao mencionar algo como “Se a lenda for melhor que a realidade, filme-se a lenda”.

Rodado numa deslumbrante fotografia P&B de Joseph MacDonald (Pânico nas ruas), “Paixão dos Fortes” ostenta uma América crua e seca, onde a luz forte do céu está quase sempre presente sobre as cabeças dos personagens mostrando com clareza a imensidão dos cenários de Monument Valley – Grand Canyon – local de quase todos os faroestes de Ford.

Repleto de licenças poéticas, o filme preocupa-se muito mais em montar um painel sobre o arquétipo do herói do que contar a trajetória de Wyatt Earp até o famoso tiroteio em Ok Curral. Abrindo mão de vários registros históricos e introduzindo personagens com características bem marcantes (fazendo um dos maiores clássicos do gênero.

O xerife é um sujeito extremamente corajoso, dono de uma ética impressionante, galanteador, educado, decidido e romântico. Espertamente, Ford escala nada mais, nada menos que Henry Fonda, o bom moço americano, que tinha hábito de interpretar personagens fortes, defensivos e heróicos que procuravam paz e justiça. Reforçando o elenco, Victor Mature (o eterno Sansão) no papel do tuberculoso-pistoleiro Doc Holliday e Walter Brennan que resolveram apelar (depois de muito enrosco) para um dramático tiroteio com Ike e Billy Clanton, Frank e Thomas McLaury, e Bill Brocius. Matar ou morrer, e nenhuma opção no meio.

Assim como Wyatt, Ford sabia que um bom duelo não se trava apenas com arma em punho. Tem que usar astúcia e perspicácia para resgatar o interesse da platéia de uma forma bem abrangente.

Sendo assim, “Paixão dos Fortes” é muito mais que um simples western. É uma obra que evidencia a bravura e a firmeza dos homens do oeste sempre lutando pelo seu espaço face às injustiças sociais.

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Zeca Seabra – Cinéfilo carioca com formação em Comunicação Social pela Puc em 1980 e em Hotelaria pela Estácio de Sá em 1983. A partir de 1995 participou de vários cursos e em 2006 começou escrevendo textos críticos para o blog paulista “Cinema com Pipoca”, um dos primeiros a tratar do assunto. Desde 2010 participa de debates e encontros com textos já publicados em catálogos de mostras especializadas. Em 2016 participou da oficina crítica cinematográfica com o renomado crítico francês Jean-Michel Frodon. É membro da ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro) desde 2013 e crítico do site Almanaque Virtual.

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