Vítimas da Tormenta (Sciuscià) / Itália, 1946. 93 min. / Direção: Vittorio de Sica
Com: Franco Interlenghi, Rinaldo Smordoni, Leo Garavaglia, Annielo Mele


Com o fim da 2ª guerra, os italianos, cansados de tanta tragédia, rejeitaram “Vítimas da Tormenta” com veemência devido à temática triste e melancólica preferindo consumir as produções americanas que chegavam às telas repletas de cores e mensagens leves.
Ironicamente, um ano mais tarde, o filme foi indicado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood recebendo um Oscar honorário pelo “esforço produtivo da Itália” (na época não havia a categoria de melhor filme estrangeiro).

Ou seja: De um lado, os italianos estavam cansados de tanta depressão devido à condição econômica do país (desemprego, fome, etc) e procuravam o cinema como uma válvula de escape para suas agruras. Do outro lado, a América se interessava pelas produções de caráter mais denso e profundo que refletiam alguma espécie de realidade, pois também se sentiam enfadados com as produções cada vez mais infantilizadas.

Todavia, nem um, nem outro deixou de ter razão, pois “Vítimas da Tormenta” é realmente um conto melancólico, sobre a amizade de dois amigos, repleto de tristeza que acaba em tragédia.

A história acompanha a vida dos meninos engraxates (Sciuscia é o nome em napolitano) num subúrbio de Roma numa narrativa linear sem ramificações focalizando a camaradagem de Pasquale e Giuseppe que dividem o mesmo sonho. Possuir um cavalo branco. Apesar de concretizar este sonho inicial, os dois metem-se numa enrascada aprontada pelo irmão mais velho de Giuseppe e vão parar hum reformatório para adolescentes delinqüentes. É, então, neste cenário que de Sica monta o palco de sua tragédia.

De Sica consegue retratar o abandono das crianças italianas pós-guerra, mostrando a dureza do sistema dos reformatórios para adolescentes acompanhando o rompimento e o deterioramento de dois parceiros e amigos Ele também fala da importância da liberdade (usando o cavalo como um elemento metafórico) e termina o filme com uma completa falta de esperança num futuro incerto (a Itália encontrava-se em completa falência após o término da guerra).

Na verdade, “Vítimas da Tormenta” pode ser encarada como o primeiro exemplar de uma trilogia sobre os oprimidos italianos, passando pelas crianças (Sicuscia), os desempregados (Ladrões de Bicicleta) e os idosos aposentados (Umberto D), todos importantes representantes do movimento neo realismo. Filmes obrigatórios para quem curte cinema.

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