Parceiros da Noite (Cruising) / Eua, 1980. 102 min / Direção: William Friedkin / Com: Al Pacino, Paul Sorvino, Karen Allen, Richard Cox

Em 1973, William Friedkin causou uma enorme sensação ao dirigir o aterrorizante “O Exorcista” assustando metade do planeta e transformou o (já) impressionante livro de William Peter Blatty numa das mais bem sucedidas adaptações para o cinema. Em 1980 ele desce, mais uma vez, aos porões do inferno, mostrando uma versão medonha da comunidade gay sado masoquista de uma Nova York pré Aids transformando “Parceiros da Noite” (Cruising) numa história de terror social, provando que sua intimidade com o demônio é bem maior do que possa imaginar.

O bizarro comportamento S&M e as atitudes de um submundo acostumado a violenta satisfação erótica em inferninhos enfumaçados são explorados pela exuberante fotografia azul escura de James A. Contner (em seu primeiro trabalho como diretor de fotografia) num filme de conotações bem sinistras.
O barulho de correntes e algemas e o uso abusivo das jaquetas e bonés de couro negro refletem esta analogia com a degradação moral de um grupo de indivíduos extremamente autodestrutivos sem a mínima noção de preservação.

O roteiro assinado pelo próprio Friedkin baseado no livro de Gerald Walker foi taxado de anti homossexual pela comunidade gay na época de seu lançamento. Contudo, tal afirmação não passa de uma enorme mentira, pois toda a narrativa aponta para uma única direção.
Na história, um assassino em série está matando brutalmente os gays barra pesada de uma comunidade em Nova York. Após uma série de investigações, o inspetor de polícia constata que o assassino é apenas um mero pretexto para a destruição daquela comunidade, fazendo deste jeito uma macabra profecia. Em meados da década de 80 surgiria a AIDS (apelidado de câncer gay) consolidando a extinção de um grupo acostumado apenas ao prazer sexual intenso e bizarro.

A trilha sonora é estupenda (tem até Egberto Gismonti) e a impecável cenografia representa os locais como verdadeiras masmorras de prazer perpétuo.
Al Pacino alcança o ápice como ator num papel difícil e repleto de nuances. O policial Steve Burns tem sua vida afetada pelas investigações e seu comportamento é lesado por tudo que vê e experimenta. O enigmático olhar de Pacino/Steve através do espelho representa esta descida ao calabouço da devassidão que ao mesmo tempo fascina e causa repulsa.

Mesmo visto hoje em dia, o filme é impactante e mostra um mundo dentro de outro onde os personagens parecem seres vindos de outro planeta. Não é a toa que quando uma vítima pergunta ao assassino de onde ele veio, sua resposta é curta e grossa: de Marte.

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