Depois Daquela Montanha (The Mountain Between Us) / Eua, 2017. 112 min. / Direção: Hany Abu-Assad /Com: Kate Winslet, Idris Alba, Beau Bridges, Dermot Mulroney

Difícil acreditar que “Depois Daquela Montanha” (The Mountain Between Us no original) foi dirigido pelo israelense Hany Abu-Assad, o mesmo cineasta que já teve dois filmes indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro (Paradise Now de 2005 e Omar de 2013) e ganhador de centenas de prêmios em Berlim, Cannes e Rotterdam. As comparações são evidentes: enquanto os dois filmes citados eram poderosas histórias sobre amizades abaladas por conflitos sociais e históricos (como a guerra da Palestina), “Depois Daquela Montanha” se resume a um romance básico sobre dois estranhos que tentam sobreviver a um acidente aéreo nas inóspitas montanhas do Colorado. Nada tenho contra romances, desde que sejam assumidos e convincentes, mas este filme oscila muito neste quesito, pois a química entre o cirurgião inglês Ben Bass (Idris Alba, em seu primeiro papel romântico) e a fotógrafa Alex Martin (Kate Winslet) é zero ao cubo.

A primeira parte se passa praticamente no topo de uma região gelada onde a natureza dita as regras. Até aí, o filme vai muito bem, cativando a atenção do espectador pela forma como os personagens se mantém alertas aos perigos constantes de uma região inóspita (animais selvagens, frio intenso, fome, feridas, etc).
Hany mostra seu virtuosismo técnico na sequência do acidente aéreo, onde a câmera se movimenta livremente pelos minúsculos espaços de um monomotor em plena queda, mas o grande problema aparece na segunda parte quando o roteiro escrito por J. Mills Goodloe e Chris Weitz, baseado num romance de Charles Martin, conclui de forma ultrajante e previsível uma história farta em doses de açúcar melodramático.

O enredo explora a sobrevivência de duas pessoas, que aos poucos vão se conhecendo e cujas vidas dependem do apoio do outro. Algo como a ficção científica “Inimigo Meu” de 1985, onde um soldado e um alienígena são obrigados a lutar pela vida em um planeta hostil.
Mas aqui a opção não é abrir uma discussão sobre a inutilidade de preconceitos ou hipocrisia das diferenças de classes, sexos ou raças. O foco é apenas o drama romântico sem muitos conflitos, já que o único empecilho é Alex estar com o casamento marcado (adiado pelo acidente), o que não impede do casal fazer amor em uma acolhedora cabaninha, sob a luz de uma trepidante e charmosa lareira ao lado, é lógico, de um corajoso e fiel cão labrador.

Hany Abu-Assad teve boas intenções ao mostrar como a amplitude da vida (em magníficas sequências captadas pelas lentes de Mandy Walker – o mesmo de “Estrelas Além do Tempo”) pode ser abreviada em dois seres que vivem sem muita certeza de suas escolhas, reduzindo o espaço cênico em grandes planos nos rostos de Kate e Idris, mas este artifício não consegue reverter a breguice de um argumento do nível de um Nicholas Spark (o famoso novelista, conhecido como o rei dos melodramas), que a esta altura deve estar se remoendo por não ter tido esta ideai antes.

 

 

 

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