Indiscutivelmente um dos melhores filmes do ano! Lindo, simples, emocionante e apaixonante. Ao contrário do que possa parecer, o filme tem um foco mais divertido. O que poderia cair em um dramalhão, fica no terreno “do isso faz parte do dia a dia, vamos em frente”.

O filme de Stephen Chomsky é simplesmente extraordinário! O título é perfeito e quando assistimos vamos entendendo o porquê uma única palavra diz tudo que representa esse filme.

O roteiro de Steven Conrad é bem trabalhado em termos de narrativa e construção dos personagens respeitando a obra original de R.J Palacio.

Os personagens tiveram boas escolhas no elenco para dar vida na tela. O que vemos é um encontro entre os atores e os personagens. E podemos sentir o todo em torno de cada personagem e vemos também o ponto de vista de cada um. O que é um ponto positivo por nos fazer lembrar que podemos ver o mesmo fato de diversos ângulos.

A Família Pullman ganha vida com Júlia Roberts e Owen Wilson interpretando Isabel e Nate, os pais amorosos de Via e Auggie interpretado por Izabela Vidovic e Jacob Trambley. Nos conhecemos os dois jovens atores de outros filmes, Izabela foi a filha de Jason Sthatam em “Linha de Frente” em 2013 e Trembley foi o menino que encantou o mundo como Jack de “Quarto de Jack”. Os quatro realmente se tornaram uma família na tela. A Avó de Via e Auggie é interpretada por Sônia Braga. A atriz brasileira tem uma participação pequena, mas bonita. Ela faz a mãe de Izabel, o toque brasileiro no filme. Julia Roberts faz uma Izabel que tem um desenho de personagem dividida como mãe, esposa e profissional. Ela aproveitou Izabel em cada momento para brilhar sem ofuscar os outros. Ela está harmônica com os filhos e fez um casal bonito com Owen Wilson que tem aproveitado bem seus personagens mais sérios sem cair no clichê.

Os personagens que cercam a família são equilibrados com o conjunto e os atores trouxeram uma humanidade para cada um deles que nos faz acreditar que estamos vivendo a história com eles. Nesse time dois jovens atores mostraram que tem futuro no cinema e que merecem um bom investimento em suas carreiras, a jovem Americana Millie Davis da série “Orphan Black” e o britânico Noah Jupe das séries “Dontown Abbey” e “Penny Dreadfull”. Enquanto Millie Davis interpretou Summer, uma garota de personalidade forte sem perder a doçura, Noah teve mais trabalho com Jack Will que teve mais nuances em sua interpretação e é impossível não se encantar com os dois.

Mas quem conquista todos de cara é Auggie! Ele mostra uma criança que passa por várias cirurgias para corrigir problemas de saúde e tem o rosto refeito em muitas idas e vindas de centros cirúrgicos e mostra que a real beleza de Auggie está por dentro em seu coração, na sua inteligência e na sua alma. Lembra um pouco o Corcunda de Notre Dame como história de personagem.

E como toda família merece ter como companhia um cãozinho, a cadela dos Pullman, Dayse era uma fofura a parte. Quem sabe um dia o Oscar cria um prêmio para os animais de Hollywood e seus treinadores?

O filme é tecnicamente bem feito. O foco mais importante é a história e os personagens, mas para funcionar, a técnica precisa trabalhar em harmonia. Um dos grandes destaques do longa é a Maquiagem criada por Naomi Bakstad e Megan Harkness. A prótese facial usada por Jacob Trembley é perfeita em proporção, detalhes e mobilidade. O ator pôde desenvolver todas as expressões faciais. A continuidade dessa maquiagem foi levada a um rigor máximo que nem parece que foram feitas várias vezes para as muitas filmagens.

A fotografia foi trabalhada para valorizar o que precisava ser valorizado. Um visual simples, limpo mesmo em cenas mais escuras como as cenas feitas na casa da família Pullmam.

A direção de arte trabalhou os muitos elementos de cena que ajudam a dar informação para contar essa história.

Os figurinos de Monique Prudhomme foram cuidadosos de mostrar personagens contemporâneos que mostram em seus figurinos as leituras de cada personagem. Mas com certeza ela deixa sua marca com o visual de Auggie e seu capacete de astronauta. A figurinista tem em seu currículo figurinos de filmes como “Juno”, “Percy Jackson e o Mar de Monstro”, ”Anjos da Noite: O Despertar”, o que já mostra uma intimidade com o universo jovem para vestir os personagens e entendemos porque ela foi convocada para a função. Ela também assinou os figurinos da série “Bates Motel” que é de época, mas vestiu os personagens jovens da época com competência. Para falar sobre jovens é preciso entendê-los.

A Trilha Sonora é assinada pelo brasileiro Marcelo Zarvos ( Foi músico da Banda paulista Tokio) é a cereja do bolo. Ela pontua as cenas e é uma ferramenta importante que ajuda transmitir as emoções para cada momento. A canção “Brand New Eyes” de Brea Miller que foi lançada para o filme é linda. E é uma outra possibilidade de indicação ao Oscar 2018, junto com a maquiagem.

A montagem é o que faz o filme ter a forma final e ritmo, e com isso, é um dos pontos mais importantes.  Mark Livolsi e William Kruzykowski trabalharam a montagem com um bom ritmo e sem pressa de contar a história. O casamento da imagem e do som faz o filme cumprir a missão de ser extraordinário.

Então, a beleza desse filme está na simplicidade da execução com precisão. É um filme mais de alma, mais de história e seus personagens. É uma busca pela humanidade de cada um. De como criamos nossos filhos para serem o futuro da humanidade. E nos faz pensar na cadeira de cinema em como lidamos com nossas crianças. Espero que o filme possa trazer à tona essa reflexão para que as novas gerações possam refletir mais, e se humanizar mais.

Não esperaria menos de um diretor que compreende o universo jovem como já mostrado em filmes como “As Vantagens de Ser Invisível”. E o resultado é um filme para a família inteira.

 

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