Torrente de Paixão (Niagara) / Eua, 1953. 92 min. / Direção: Henry Hathaway / Com: Marilyn Monroe, Joseph Cotten, Jean Peters, Casey Adams

Primeiro filme em Technicolor de Marilyn Monroe e um de seus primeiros papéis principais, “Torrente de Paixão” (Niagara no original) é uma das melhores formas de entender o porquê do sucesso da atriz. Filmado no paradisíaco resort em Niagara Falls no lado canadense, este noir em cores tem a mão firme do diretor Henry Hathaway, um especialista em enquadramentos épicos e dono de um equilíbrio competente, que aqui encontra um dos maiores desafios de sua carreira: ao mesmo tempo em que desenvolve uma trama repleta de traições com tomadas de tirar o fôlego (como a clássica sequência final no campanário), Hathaway abre espaço para a construção do mito Marylin, que aqui explode na tela comparada a uma força da natureza, mesmo interpretando uma vilã sem pudor.

Na trama, Marilyn é Rose Loomis, uma jovem loura fatal casada com um homem mais velho George (Joseph Cotten, de Cidadão Kane) passando as férias à beira das cataratas. Nem 5 minutos de filme, e o espectador já sabe que aquele casal vai de mal a pior
Corte para um casalzinho jovem, belo e feliz – Ray (Casey Adams) e Polly (Jean Peters) que chega à capital da lua de mel para aproveitar as férias e conhecer o vice presidente da empresa que mora próximo as cataratas. Por acaso, Polly flagra Rose nos braços de um rapaz jovem e viril, conflagrando deste jeito a narrativa clássica dos filmes noirs da década de 40/ 50: Mulher infiel e seu amante tramam um plano para matar marido, mas as coisas não saem do jeito imaginado.


Hathaway mantém a tensão e o suspense emoldurado por um belo cenário fotografado pelo competente Joseph MacDonald (Paixão dos Fortes e Viva Zapata!). Aqui o encontro da Bela com o Mestre foi uma das parcerias mais bem sucedidas da atriz que em 1953 alcançaria o ápice de sua carreira com mais dois filmes de sucesso: “Os Homens Preferem as Louras” (The Gentleman Prefer Blondes) e “Como Agarrar um Milionário” (How to Marry a Milionaire), embora todos contribuam para o mito “loira e burra” que acompanhou a atriz até o fim de sua vida.

“Torrente de Paixão” é um vibrante (e até certo ponto pervertido) drama noir que oferece sequências estilosas e que expressa um dos maiores medos masculinos comuns até hoje. A essência da femme fatale (ou da “vagabunda amoral e destrutiva” como avaliou a crítica Pauline Kael na época) é uma figura demoníaca com um decotado vestido vermelho de lábios úmidos e que usa sua espetacular beleza para enganar a todos, mas quando este demônio se chama Marilyn Monroe tudo é permitido.
Obs: Apesar do filme ser concebido em Technicolor gritante, o trailer é em P&B pois era a primeira intenção dos produtores.

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