“Nada +” do diretor Juan Carlos Cremata Malberti com roteiro de Manuel Rodríguez retrata a crise de 1992 do país. A imagem de abertura é de um carimbo em P.B dos correios, sendo carimbadas várias vezes e fecha no que está escrito nele “PRIORIZADO”. Pois essa palavra que quer dizer, confidencial, e em cima desse carimbo caí tinta, mas está aparecerá em colorido, pois nos remete a grande virada do filme.
Um drama do cinema cubano em P.B mostra alguns objetos de dramaturgia coloridos para pontuar sua importância na trama e nos fazer refletir em cima das situações vividas pela nossa protagonista, que ainda não nos foi apresentada, pois está com o rosto coberto com papel em um grande tabuleiro de xadrez rodando em sentido horário, como se fosse um relógio e filosofando sobre sua própria vida.
Destaca-se um jogo de palavra cruzada e um lápis amarelo, pois ele é o fio condutor da história desde o começo e tem a função de mudança. A palavra cruzada mostra a nossa heroína buscando uma solução para seus conflitos. A apresentação da personagem Carla Pérez vivida por Thais Valdés que tira a palavra cruzada de frente e mostra-se em close, bastante pensativa e ao fundo parecia um jogo de xadrez que na verdade é o chão de sua casa, reforçando que como num jogo, ela precisa dar cheque-mate e encontrar a solução do problema que ela mesma criou.
Em sua sala passa um programa onde ouvimos a voz do apresentador e depois mostra a imagem, sempre azulada e um tanto chamuscada, onde mostra o apresentador professor dando conselhos aos telespectadores de uma maneira que parece que está falando com a nossa protagonista.
O rosto do apresentador aparece na tela da TV azulada pedindo para prestarmos atenção nas pequenas coisas da vida e nossa heroína ouve um chora de criança e vai conferir na janela. Take escuro, mas destaca o seu rosto e um feixe de luz acima de sua janela. Como se nos dedicarmos encontraremos sempre uma luz no fim do túnel da vida.
O Take da TV mostra o professor pede sempre um sorriso nos lábios e a personagem interage com ele desenhando uma carinha sorridente em cima do seu rosto. Isso nos remete dizer que mesmo diante aos problemas nunca devemos perder as esperanças.
Essa película é um grande quebra- cabeção onde os elementos de dramaturgia que aparecem destacados não são aleatórios, eles tem uma função dramática dentro do contexto da narrativa.
Carla coloca os óculos escuros e andando e a câmera acompanha de costas com música ao fundo até o correio. Mostra o dia-a-dia dos funcionários do correio e Cam destaca o “jornal “Gramno” com a matéria “I Comenzo La Zafra”. Publicidade e propaganda dentro do filme, que é proibida em um país socialista que foi governado quase 50 anos pelo saudoso Fidel Castro, mas através dessa marca que o filme foi rodado.
PV da Carla olhando a rotina do correio “oficina” enquanto faz uma retrospectiva do tempo que trabalha lá e nunca ninguém lhe deu ao menos um simples bom dia. Olha o seu chefe tomando o café e cuspindo. Carla reclama e pensa que não tem nada da vida. Porém a senhora do cafezinho lhe cumprimenta e assustada deixa a tinta do carimbo cair em carta ao professor Cruzata do programa que assiste. Destaque na carta com a tinta colorida, pois este é a virada da história que aparece no primeiro take, pois temos uma película com uma narrativa bem costurada.
A partir deste momento a protagonista da história muda a vida dos outros. Carla sente em sua escrivaninha com fone no ouvido. Destaque para o abajur colorido e o lápis amarelo, nosso fio condutor da história, o maior elemento de dramaturgia, pois através dele começamos a interferir no destino dos outros. Carla resolve responder essa carta como se fosse o professor Cruzata e não simplesmente a deixa secar e entrega ao seu verdadeiro remetente.
A heroína começa a responder por conta própria e sua voz aparece em off sussurrada. Música clássica pontua esse acontecimento. Como sofre de solidão passa a expressar os seus mais profundos desejos através da carta. As palavras aparecem com destaque! Enquanto se movimenta na cadeira aumenta a efervescência da carta, pois faz com que o apresentador professor se declare para a professora. Com uma lupa analisa mais a carta. Destaque ao abajur e lápis e copia a sua letra do lado de fora da carta, coloca a carta no correio e três dias depois recebe a resposta. Carla se torna refém da história dos outros.
Em cada sequência em P.B sempre temos algo colorido sendo destacado, pois apesar de estarem vivendo um período pós-comunismo, de decadência total, sem o apoio da União Soviética, nossa guerreira não perde as esperanças. Por isso, uma flor é colocada dentro de uma garrafa de coca-cola pequena, mostrando que não tem medo da opressão de um governo autoritário.
A vida de Carla gira em torno da vida dos outros. Começa a se corresponder com milhares de pessoas. P.V dela escrevendo várias cartas onde se perde entre elas e depois também faz o papel do carteiro que admira tanto. Mostra o dia a dia acelerado com destaque pela obsessão dela pela vida dos outros.
Através dos atos da nossa protagonista, acompanhamos a vida das pessoas, como o da vizinha infeliz do apartamento da frente e narra em off com voz sempre em forma de sussurro, a carta de sua vizinha que ela mesma escreveu e a música clássica acompanha. Enquanto mostra quadro a quadro, as situações passadas pela vizinha que pendura blusas no varal. Destaque para a blusa do Che Guevara em vermelho, um dos maiores revolucionários dos últimos tempos, contrastando com Cuba que a nossa protagonista vive, sem colorido.
O longa metragem pontua nossa heroína, vivendo a vida que não a pertence: Em casa Carla, muda o conteúdo da carta de um senhor: a lê antes e depois altera sua resposta. Recebe um novo postal dos pais, mas ignora, o que importante é passar um pouco de alegria para essas pessoas tão sofridas. Enquanto escreve a carta ao senhor. A imagem dele aparece e sua voz em off narrando os acontecimentos. Plano forte, pois o seu choro caí por cima da lente do óculos no papel. A carta de formal passa a ser emocionante e nos remete a refletir sobre os nossos sentimentos.
Nossa heroína acima e o
herói da revolução abaixo.