O diretor Joe Wright leva para o cinema uma história já contada em outros filmes, mas com um novo foco. Os dias que antecederam o “Dia D”, na Segunda Guerra Mundial, e como foram esses dias para O Primeiro Ministro Britânico, Winston Churchill, o estrategista que salvou mais de 300 mil soldados britânicos e intimidava Hitler.

Enquanto no filme “Dunkirk” de Christopher Nolan, o foco está na situação dos soldados coletivamente, em “O Resgate do Soldado Ryan” de Steven Spielberg, o foco era o soldado resgatado e o grupo que foi salvá-lo. Em “Churchill” o foco era mais pessoal e podemos ver mais de perto as pessoas em torno do dia a dia do Primeiro Ministro. Já em “O Destino de Uma Nação” vemos de perto apenas Churchill em seus dilemas e o delicado e perigoso jogo de xadrez para fazer valer suas convicções, tentar salvar as vidas dos soldados britânicos e a soberania de sua nação.

Para contar a história e dar um foco mais pessoal ao protagonista, o roteirista  Anthony McCarten (Teoria de Tudo) trabalhou mais os conflitos internos e como ele lidava com as pessoas à sua volta, sua personalidade excêntrica um tanto quanto assustadora no modo como falava com as pessoas. O ator Gary Oldman entendeu todos os elementos e mergulhou de cabeça em dar vida ao personagem que é um dos maiores ícones da história do Reino Unido e o resultado foi que o ator realizou um de seus melhores trabalhos de sua extensa carreira com um total de 67 filmes.

A transformação de Gary Oldman em Winston Churchill é impressionante e podemos apreciar um excelente trabalho em conjunto: roteirista na estrutura na construção do personagem, na direção em como tirar o melhor do ator, na atuação em como saber usar e aproveitar todos os elementos e ferramentas oferecidas a ele, o Figurino impecável recriando o modo de Churchill se vestir, direção de arte que se preocupou com todos os detalhes e elementos de cena usados pelo ator que tem uma grande importância no desenvolvimento da atuação e a impecável maquiagem de David Malinowski que transformou as feições do ator no personagem com uma precisão impressionante. Parece que o Primeiro Ministro está vivo na tela revivendo sua história. É impossível reconhecer Oldman.

Em algumas cenas temos belas tomadas criando uma estética que encanta aos olhos e deixando em foco principal o protagonista, que nos ajuda a sentir mais os sentimentos do personagem sem precisar de diálogos. E falando neles, são ótimos, bem escritos, principalmente a cena do discurso de Churchill no parlamento.

O diretor de fotografia francês Bruno Debonel trabalha bem as cores mesmo nas cenas mais escuras proporcionando um visual elegante. Ao mesmo tempo retrata o clima tenso que antecedia o “Dia D” deixando escurecido sem usar o tradicional recurso de graduações de preto, cinza e branco. Principalmente nos focos em cenas de Churchill sozinho que nos ajuda a ter mais uma leitura maior do momento do personagem. Podemos conferir que a fotografia ajuda traduzir os sentimentos e pensamentos do protagonista na tela sem que ele precise dizer uma única palavra.

O elenco está à altura do protagonista com boas interpretações. A esposa do Primeiro Ministro é vivida por Kristen Scott Thomas que está muito bem, mas suas aparições são mais limitadas. Ben Mendelsohn interpreta o Rei George VI e tem ótimas cenas com Gary Oldman. Ronald Pickup interpreta Neville Chamberlain, que foi Primeiro Ministro Britânico antes de Churchill. Lilly James interpreta a secretária de Churchill, Elizabeth Layton, que tinha uma grande importância no seu dia a dia. Ela entendia como deveria lidar com ele, já que nenhuma secretária conseguia ficar muito tempo trabalhando para o chefe exigente e genioso.  Para completar o time de feras, temos Stephan Dillane, o Stannis Baratheon de Game Of Thrones, como o nobre diplomata e político conservador Halifax. O ator já habituado ao clima nobre, fica com o político sisudo e adversário interno de Churchill. Claro que tem outros atores e todos têm bons momentos e chance de mostrar porque foram escolhidos para seus personagens.

É mais difícil interpretar um personagem que já viveu e aqui será mais cobrado para ser o mais próximo possível da pessoa real que interpreta. Não só há cobrança em relação ao trabalho de Gary Oldman, mas em relação a cada ator em cena, mesmo que seja uma pequena participação.

O fator histórico é um importante fato a ser registrado sobre um período da história da humanidade. Recomendo que estudantes assistam ao filme para entender um pouco a estratégia de uma das passagens mais marcantes da Segunda Guerra Mundial.  Mas também recomendo para qualquer pessoa. É importante entender as diversas visões da nossa história. Mesmo que alguns momentos sejam mais cinematográficos do que histórico, vale como elementos que o proporciona um toque mais artístico à obra. Por isso não é uma replica da história e sim baseado na história real dentro do entendimento do roteirista e do diretor. O filme tem imagens reais de arquivo, as interpretadas dos fatos reais e as licenças poéticas.

No fim das contas “O Destino de Uma Nação” é um ótimo filme e merece ser assistido no cinema.

 

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