É um clássico dos anos 70 que retrata a história de um "jovem delinquente"...

Lúcio Flávio, O Passageiro de Agonia/ Brasil 1976. 120 min/ Direção Hector Babenco/

Inspirado na obra do saudoso mestre José Louzeiro. Roteiro: José Louzeiro, Jorge Durán e Hector Babenco

Protagonista/Anti herói: Reginaldo Faria: Lúcio Flávio

Lúcio Flávio, O Passageiro de Agonia é um clássico do cinema da metade dos anos 70. Lançado em plena ditadura militar, teve repercussão em todo o país e até hoje continua atual por tratar de um tema bastante explorado, mas nem sempre retratado com o devido conhecimento de causa nas telas de cinema e isso o eterno mestre da dramaturgia José Louzeiro (*1932+2017) com quem aprendi o ofício de escrever roteiros, faz com maestria por conhecer a fundo a história do retratado que entrevistou como repórter policial e de uma matéria surgiu o livro, pois o “marginal sensação da época”, o anti herói Lúcio Flávio se sentiu tão a vontade na época ao retratar sua vida ao veterano dramaturgo que transformou sua trajetória em uma obra prima rico em detalhes da qual inspirou o renomado diretor Hector Babenco(*1946+2016) contar através das lentes sua história real.

Para entender melhor, a diferença do anti herói para o bandido. Segue resumo em algumas palavras: O segundo é socialmente sempre desprezado, enquanto o primeiro não. Ao contrário, o anti-herói sobrevive no imaginário popular despertando simpatias. O anti herói também não é movido pela nobreza em seus atos como o herói, mas é capaz de atos e bondade.

É com o significado bem próximo ao que delineamos o nosso personagem como tipo social que um escritor, referindo-se a certa identificação que tal tipo, marcado pela ambiguidade, costuma despertar no público, escreveu:

“O termo anti-herói é enganador e pode induzir a alguma confusão. Por isso é bom deixar bem claro, de saída, que um anti-herói, não é o oposto a um herói, mas um tipo especial de herói, alguém que pode ser um marginal ou um vilão, do ponto de vista da sociedade, mas com quem a plateia se solidariza, basicamente”. (VOGLER, 1997).

 

O ator consagrado Reginaldo Faria, galã da época, incorporou de fato o “delinquente” com quem tinha uma semelhança assustadora e parecia um verdadeiro “James Dean” de “Juventude Transviada” a ponto de defender seu Lúcio Flávio com unhas e dentes. Pois  a identificação não se dá apenas entre o personagem e o público, mas entre o ator e o personagem que interpreta. Relação que pode ser tão marcante que seja capaz de provocar uma espécie de simbiose entre os dois. Segundo informações dadas por  Louzeiro: Reginaldo se envolveu tanto com seu protagonista que não conseguia “descolar” nem fora do set. Foi por esta razão que ao passar pela obra de um prédio em construção em Laranjeiras, quando se dirigia para a produtora de seu irmão, o cineasta Roberto Farias, foi abordado por um operário da construção que largou um carrinho de mão no chão e xingou de “Noquinha”, nome que  Lúcio Flávio não admitia ser chamado conforme fica claro em cena. Reginaldo momentaneamente tomado pelo seu personagem, sentindo-se ofendido, agiu no impulso e foi ao encontro ao operário, para brigar com ele. No meio do caminho, caiu em si, voltou à realidade de que não era “Lúcio Flávio”mas não podia recuar, chegando perto do operário, abraçou-o fraternamente.

 

O tema abordado mostra a importância de refletir sobre as reações que os “delinquentes” provocam nas pessoas quando saem das páginas policiais e dos telejornais para virarem personagens da dramaturgia. Lúcio Flávio ao se transformar em personagem fictício exerceu um poder de persuasão muito grande sobre o público, de um modo geral. O poder da imagem consegue transformar anti-heróis em heróis admirados pela população, quando acredita e se identifica na construção do personagem. Este é capaz de exercer fascínio ao sair da sua zona de conforto e se tornar anti-herói com traços de herói. A ficção é a melhor forma de contextualizar essas pessoas aparentemente comuns, mas com uma carga dramática muito forte que são revelados através dos seus inúmeros conflitos.

Sobre o sucesso de público do drama policial que já se caracterizava na estréia, o autor-roteirista relatou:

“Superou todas as expectativas. A fila para assistir o filme no cinema Odeon, estava tão grande que chegava até as escadarias do Theatro Municipal. Houve uma sessão atrás da outra, até meia noite e o próprio diretor Hector Babenco ficou surpreso, com esse tremendo sucesso de bilheteria e público”.

Lucio Flávio o passageiro da agonia (1975) e Pixote infância dos mortos (1977), são romances reportagens classificados por uma crítica literária como “obras-primas”, acrescentando tratar-se de “espaços onde se desnudaram faces dolorosas do Brasil durante a ditadura militar, desvelando a corrupção, o desdém pela vida humana e a inoperância do Estado” (PINHEIRO, 2005).

Conforme descrição do autor: “- Era um jovem de boa aparência, fala rebuscada e bons modos no trato com a imprensa. Tinha as condições sociais para desfrutar do estereótipo de “bom moço”, mas ao enveredar pelo caminho do crime tornou-se figura de destaque do noticiário policial.  Era uma pessoa um tanto ou quanto esquisita, de pouco falar, mas de um diabolismo incrível. Nasceu numa família de bom nível social em Minas Gerais. Seu pai que foi cabo eleitoral de JK e ganhava a vida como funcionário do ministério de viações e obras e sua mãe, a famosa Zuma, era uma mulher valente. Na época do Dops, quando Lúcio Flávio ainda era um menino, sua casa foi invadida,  ele assistiu seu pai ser humilhado, jurou vingança para cada um dos envolvidos e foi até o final”. (LOUZEIRO, Entrevista concedida a autora em 26 de agosto de 2012).

Algumas das premiações do filme, inspirado no livro do escritor que introduziu o romance-reportagem no Brasil, do qual o escritor norte-americano Truman Capote (*1924+1984) foi considerado pela crítica literária como o criador.

Festival de Gramado 1978 (Brasil)

  • Recebeu quatro Kikitos de Ouro nas categorias de Melhor Ator (Reginaldo Faria), Melhor Ator Coadjuvante (Ivan Cândido), Melhor Fotografia e Melhor Edição.
  • Foi indicado na categoria de Melhor Filme.

Mostra Internacional de Cinema São Paulo 1977 (Brasil)

  • Foi escolhido como o Melhor Filme pelo Júri Popular.

 

o veterano Reginaldo Farias em ação com

Ana Maria Magalhães, atriz e escritora,

sua namorada na película.

Lúcio Flávio: Ficção e Realidade

O verdadeiro Lúcio Flávio

Cartaz do clássico Lúcio Flávio

*Em homenagem a memória do autor José de Jesus Louzeiro (*19/09/1932 +29/12/2017)

  • AVALIAÇÃO LÚCIO FLÁVIO
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