O filme de Steven Spielberg é um dos melhores do ano!  Coragem é a palavra mais apropriada para definir esse filme. Não apenas por contar uma história baseada em fatos reais, mas como trazer isso à tona em um momento que o planeta vive uma turbulência política globalizada.

The Post: Guerra Secreta  surge como uma luz para nos lembrar que é possível mudar quando se tem coragem e força de vontade em fazer a mudança. Mas é preciso uma boa dose de coragem para executá-las. Ainda mais quando podemos ter como exemplo histórias já vividas pela humanidade. O mundo sempre passou por períodos de turbulência e até de trevas e conseguiu superar. O filme nos mostra que precisamos de coragem e motivação para mudar aquilo que não está bom.

A história roteirizada por Liz Hannah e Josh Singer conta a coragem de um homem que correu riscos em levantar as provas e expor segredos do governo que estavam prejudicando a população, e outra dose de coragem e muita determinação dos jornalistas em publicar a história desse homem que viu a realidade de uma guerra estúpida que estava matando milhares de soldados dos dois lados. E quando você vê, o fato de unir forças e coragem em prol de um bem comum pode sim mudar o rumo da história. E mudou.

O filme é baseado nos acontecimentos que antecederam o caso Watergate retratado em outro filme, “Todos os Homens do Presidente” que derrubou de vez o governo de Richard Nixon.

O roteiro tem uma boa linha de condução da história. Hannah e Singer souberam construir a estrutura dos personagens que ganharam força na tela com um ótimo elenco que soube aproveitar o material oferecido, o que facilitou a vida do diretor em saber como tirar o melhor de cada ator. Nem todo diretor sabe dirigir seu elenco, e Spielberg faz isso muito bem. Ele fez Tom Hanks e Maryl Streep brilharem mais ainda. Os Bons diálogos enriquecem mais algumas cenas nos fazendo pensar na mensagem do filme.

O elenco é ótimo em sua totalidade. A começar pela dona do Washington Post, Katherine Graham interpretada por Maryll Streep que está em uma de suas melhores performances e indicada para várias premiações, inclusive o Oscar. Ela representa o amor pelo jornalismo. Isso deixa qualquer jornalista orgulhoso e emocionado por essa profissão tão bonita ser tão bem retratada. A essência é preservada.

Tom Hanks representa o obcecado editor do Washington Post, Ben Bradlee. Ele e Maryl Streep tem ótimas cenas juntos. Ele tem intensidade na forma de interpretar o jornalista, tanto com os olhos como na forma como expressa seu texto. Vemos ali uma pessoa determinada, um estrategista que as vezes extrapola um pouco em busca do seus objetivos, mas vemos alguém extremamente dedicado ao Washington Post.

Sara Poulson interpreta Tony Bradlee, a esposa de Ben. Ela tem uma ótima cena com Tom Hanks, onde mostra ser mais do que vemos e tem um dos melhores diálogos do filme.  Ela poderia ter sido mais aproveitada mostrando mais a força de Tony. Vimos mais a doçura da esposa até ver que ela é mais forte do que aparenta.

Bob Odenkirk interpreta Ben Bagdikian um jornalista muito importante para que a história funcione. É ele quem leva os documentos de Daniel Ellsberg para o WWashington Post. Bagdikian era armênio e foi ainda criança para os Estados Unidos e se tornou um dos mais respeitados e admirados jornalista do século XX. E Bob Odenkirk executou muito bem.

Matthews Rhys interpreta a mola que move a história, o analista militar Daniel Ellsberg. O ator galês ficou com um personagem cheio de nuances emocionais. E trabalha isso com delicadeza deixando os sentimentos do personagem fluírem naturalmente de acordo com cada momento. Não são muitas cenas, mas o bom ator é aquele que sabe aproveitar as oportunidades. E Matthews aproveita cada momento.

Bruce Greenwood interpreta Robert McNamara empresário e político americano que ajudou a implementar o sistema de análise política. O ator estava muito bem caracterizado e a maquiagem o deixou irreconhecível. Vemos que essa tem sido uma tendência dos maquiadores de cinema nos últimos anos. Transformar rostos, cabelos e feições de atores em personagens da vida real.

A atriz Carrie Coon interpreta a jornalista Meg Greenfield, uma das jornalistas mais influentes e respeitadas dos Estados Unidos. Ela foi grande amiga de Katherine, mas o filme peca nisso, não é mostrada a amizade entre as duas. Era uma amizade natural entre elas por serem mulheres trabalhando juntas com personalidades fortes e com uma liderança presente em suas vidas em um mundo dominado pelos homens. Mesmo sem mostrar essa relação de amizade entre as duas, sem dar tanto espaço merecido para Meg, Carrie Coon mostrou uma força presente em todas as suas cenas que estava com grupo dos jornalistas do Post. Era ela e um time de homens. Todos a respeitavam e admiravam sua inteligência e personalidade. Ela tinha uma garra estilo “Lois Lane” e se destacava entre o grupo.

E falando em caracterização, esse é um dos pontos fortes do filme, tanto em figurino, quanto em maquiagem e penteados, quanto em direção de arte.

O figurino da experiente Ann Roth, ganhadora do Oscar por “O Paciente Inglês”, recria os figurinos dos anos 60 com perfeição. Os vestidos usados por Maryl Streep são belíssimos e mostra que os figurinos ajudam a contar a história dos personagens sem precisar de texto para isso.

A maquiagem e os penteados recriados foram ótimos trabalhos em equipe.  Os maquiadores Carol S. Federman e Todd Kleitsch caracterizaram o elenco recriando feições para ficarem os mais próximos dos personagens reais. E o maquiador e cabeleiro J. Roy Helland trabalhou somente com Maryl Streep em um trabalho impecável que favoreceu a atriz em buscar uma proximidade com sua Katherine. Os cabelos foram criados por Christen Edwards e Gary English. O que complica a vida deles é ter que trabalhar com tantas próteses capilares, cabelos artificiais e até naturais para deixar o ator com a imagem mais próxima do real. Entendemos a essência do cinema ao ver como é importante o trabalho de cada profissional para que conjunto da obra funcione.

A direção de arte de Rick Carter é detalhada e tem a difícil tarefa de recriar 1965 tanto nos Estados Unidos, quanto nas cenas da Guerra no Vietnã. O ganhador do Oscar nessa categoria por “Avatar”, faz um belíssimo trabalho não só estético, mas também como registro histórico de como cada objeto conta a história dos personagens. Os cenários internos como a casa de Katherine, a Casa de McNamara, a Casa de Ben e as redações do Washington Post e New York Times foram elaboradas para que o público sentisse que estava realmente naquele local e naquela época. Um trabalho muito bem sucedido.

A trilha sonora de John Williams é clássica e reconhecemos seu estilo e seus acordes, sua assinatura de trabalho. Como já era esperado Spielberg convoca seu amigo para executar a função de pontuar todo filme. O resultado é positivo e a trilha é a cereja do bolo.

Como não poderia ser diferente, Spielberg convoca mais uma vez Janusz Kaminski para fazer a fotografia. Assim como em “A Lista de Schindler”, “O Resgate do Soldado Ryan”, “Cavalo de Guerra”, “Lincoln” e o mais recente “Ponte de Espiões”, Kaminski faz uma belíssima fotografia harmônica que trabalha os tons claros e escuros com vivacidade.

E Steven Spielberg capricha nos planos e nas tomadas nos proporcionando um visual interessante e inovando na forma de contar sua história. São lindas as cenas em que vemos como o jornal era feito e quantas pessoas trabalhavam para colocar um jornal nas ruas logo de manhã cedo. The Post é uma obra que mostra o toque de mestre daquele que dedicou toda sua vida a sétima arte e nos deixando obras belíssimas como essa.

Como jornalista só posso dizer que o diretor entendeu a essência da profissão sem ser ou exercer o jornalismo. Katherine e seu time do Washington Post nos traz o orgulho de ser jornalista acima de qualquer dinheiro. É como se confortasse nossos corações e nos desse a motivação necessária para exercer o jornalismo puro na sua essência.

Com certeza logo após assistir esse filme fiquei com vontade de assistir novamente “Todos os Homens do Presidente”. The Post não é um filme grandioso sua grandeza está em sua história contada com dedicação e muito amor. Isso é visível na tela. A dedicação de cada integrante da equipe para fazer tudo funcionar e virar um bom filme.

The Post: Guerra Secretas é um filme que vale o Ingresso!

 

Aqui tem um video com Entrevistas com Maryl & Tom que vale a pena conferir.

 

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