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Críticas

Crítica Branca de Neve

Andrea Cursino

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“Branca de Neve” é melhor do que o esperado! Entrega boas técnicas, mas falta alma e se distancia do clássico a que ela se baseia.”

O filme não é ruim como aparentava nos trailers, tem bons momentos e se fosse um filme inspirado no conto, poderia ser considerado um bom filme sobre o tema, mas a parte triste é a insistência em querer vender “Branca de Neve” como um Live Action. E é nesse ponto que a estratégia escolhida da produção empurra o filme como mediano.

Esse filme é a prova viva que a insistência em fazer live action de clássicos da Disney com atores é um equívoco e um desperdício de dinheiro da forma como tem sido feita. A ideia em criar filmes com atores das versões animadas é interessante, mas esse filme entra em uma galeria de filmes medianos por conta das mudanças feitas na história. Isso deseduca a formação de um cinéfilo a entender como as coisas eram feitas nas suas respectivas épocas. A ideia de fazer versões com atores das animações é ver as possibilidades de como ficaria, mas não de mudar o conceito das histórias. Há alguns anos atrás quando se fazia uma versão em Live Action de uma animação, era chamada de “O Filme”, exemplos: “Os Flinstones, O Filme”, “Scooby Doo, O Filme”.

Mesmo com os problemas que o filme enfrentou com mudanças, polêmicas, e caos, o filme é melhor do que o esperado.

Essa versão de Branca de Neve 2025, parece uma peça de teatro com muitas modificações na história. Parece que estamos a um musical da Brodway.

Desta vez, o filme já começou em meio a polêmicas e decisões equivocadas. O que é triste, já que, a produção do filme ficou perdida em querer agradar diversos grupos e esqueceram do principal, em realizar uma versão com pessoas e cenários reais de  um dos filmes mais importantes do cinema.

O clássico criado por Walt Disney, “Branca de Neve e os Sete Anões” foi a primeira animação em longa metragem da história do cinema e foi para as salas de exibição em 1937. Depois disso, se tornou o maior dos clássicos da Disney e da história do cinema, servindo de referência e inspiração. A animação atravessou gerações e conquistou o coração de crianças e adultos com o mundo girando, evoluindo, desenvolvendo novos conceitos e modos de vidas de tempos em tempos em todas as culturas do planeta. São 88 anos em que o clássico cumpriu seu papel na vida de famílias sem necessidade de se adaptar a novos costumes. Precisamos criar nossas crianças para conhecer o passado, entender como era para entender o presente e sim, buscar acertos para o futuro. Não podemos vendar nossas crianças e criar impedimentos para que elas conheçam nossas histórias e culturas pregressas. Uma casa sem alicerce não fica de pé.

Em respeito a sua história e sua trajetória, “Branca de Neve e Os Sete Anões” merecia ter ficado eternizado na memória afetiva e no coração dessa e das próximas gerações sem ter que ser alterado por um Live Action que não seguiu a sua essência e sua importância.

Infelizmente, ainda não houve um entendimento do que é um Live action, salvo pouquíssimos filmes como “Cinderela” e “Aladdin” e antes desses, “Os 101 Dálmatas”.

Um Live Action é diferente da versão de uma obra. Seria mais bonito falar que esse filme é uma versão do conto dos Irmãos Grimm criado em 1817 e 1822. Até porque os Irmãos Grimm, se basearam em contos populares que eram passados de geração em geração de forma oral para criar suas obras.  Quando o projeto se vende como uma versão da animação do Walt Disney, ele está limitado a ser um filme com atores naquela versão. Quando ele é uma versão do conto, o leque se abre para viajar nos elementos da história e até criar algo novo, assim como o Disney fez quando criou seu filme e deixou sua marca para a eternidade.  

Versões do conto são muito bem aceitas e tem algumas delas bem divertidas, mas a versão que todos conhecem é o clássico de Walt Disney. Esse filme poderia ter sido divulgado com uma versão como foi feito em “Espelho, Espelho Meu” dirigido pelo indiano Tarsem Singh.

Agora vamos falar do filme de 2025 propriamente dito!

Para dirigir o longa a escolha foi acertada, Marc Webb é um diretor com um toque especial para construir relações entre os personagens. A construção da Branca de Neve e o Príncipe encantado, que aqui deixa de ser príncipe e vira Robin Hood, assim como Branca de Neve e os bichinhos, Branca de Neve e os Anões e enfim o grande embate, Branca de Neve e sua madrasta, a Rainha Má. Nisso Marc Webb acertou e a tela tem belas tomadas em algumas cenas.

Existe uma construção na relação de Branca de Neve e Jonathan. Eles se conhecem como Alladin conhece Jasmine. Com essa mudança de Príncipe para ladrão, o personagem que se ficou conhecido como Príncipe Encantado, ganhou um nome. Esse é um ponto positivo que ganha da animação. Ele ganhou um nome, uma história e uma interação maior.

Em relação ao bichinhos da floresta, a relação que começa muito bonita, enfraquece e fica apenas no capo da estética. Os animaizinhos da floresta que ajudam Branca de Neve a encontrar a casa dos sete anões, arrumar a casa e fazer uma bela refeição perdem muito de sua interação com sua humana preferida.

Já a relação com os sete anões, ficou fraca e perdeu muito do encanto. Com a falta de atores reais, a opção foi a criação dos personagens em CGI. O resultado foi frio, sem alma, sem a dose de fofurice que os personagens da animação tem. Cada um dos sete tem seu espaço na animação e no coração de Branca de Neve. Aqui só o Mestre e Dunga aparecem mais. Zangado tem uns dois momentos e Atchim tem um, assim como soneca. Agora fica a pergunta e os outros ? Viraram figurantes? Soneca, Dengoso e feliz só enfeitaram a tela por segundos e não tiveram interação com Branca de Neve.

Enfim, a relação entre Branca de Neve e sua madrasta, a Rainha Má ficou realmente sem graça. A culpa nem é do diretor, Webber fez o que pode com as ferramentas que tinha. O roteiro de Erin Cressida Wilson deixou a relação insossa. Branca de Neve tinha medo da rainha, e só aparecia na frente da madrasta quando era chamada. Na tentativa de mostrar empoderamento á protagonista, perde uma característica clássica da personagem. A coragem da Branca de Neve não é enfrentar alguém que é visivelmente mais forte e poderosa que ela, cara a cara. Lembre-se a Madrasta Má era uma bruxa e todos temiam as bruxas naquela época. A Força da Branca de Neve com sua terrível madrasta, era a persistência em continuar vivendo e a benevolência com suas maldades. Isso irritava muito a Madrasta que era tomada pelos pecados capitais da Inveja, ira e vaidade. O que tornava Branca de Neve mais bela que a Madrasta era a combinação da sua beleza física, quanto a beleza interior de coração e alma.

Em termos de atuação Rachel Zegler está melhor que Gal Gadot, em termos de cantar Rachel Zegler é muito superior e isso não se discute. Sua potência e qualidade vocal já foi provada e comprovada em outros filmes como “Amor Sublime Amor” e “Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes”. Ela é uma atriz de musical sem dúvida nenhuma. Gal Gadot é uma atriz esforçada, apesar de afinada, mas sem potência vocal e uma atuação morna sem vida. As duas atrizes estão em lados opostos que chega a ser engraçado. Enquanto Gal Gadot está muito bem caracterizada como Rainha Má, Rachel Zegler perdeu a beleza por uma caracterização ruim. No fim temos um desequilíbrio no resultado desse trabalho que está fora das possibilidades de Webber resolver.

O time de profissionais escaldo foi sim, uma demonstração de quem quer alcançar a excelência e alcançou em alguns setores. Tecnicamente o filme é bem executado em alguns setores como fotografia, direção de arte, coreografia dos números musicais, trilha sonora .

Começo a falar sobre a fotografia vibrante  da australiana  Mandy Walker (“Elvis”, “Estrelas Além do Tempo” e “Mulan”) que entende a filosofia das cores nos filmes da Disney. Como já trabalhou antes com a Disney, Walker ajudou a valorizar os figurinos e cenários do filme com o visual limpo até mesmo nos momentos mais escuros, era possível ver o que estava acontecendo na tela.

E falando em figurino, a Disney chamou a premiada britânica Sandy Powell que fez o figurino de “Cinderela” e o inesquecível vestido azul com cristais Svarovsky. Ela fez um figurino de acordo com a proposta. Cada personagem teve seu figurino adequado, mas a Branca de Neve só teve uma única roupa igual a da personagem da animação. As roupas eram lindas! Isso não se discute, mas a fase serviçal da Rainha Má, as roupas eram lindas demais, faltou a caracterização clássica.

A Direção de Arte ficou com a missão de tornar os cenários e objetos de cena reais, mas ficou parecendo uma grande peça de teatro. O reino ficou parecendo a uma Vila como em que a Bela vivia com seu pai na animação “ A Bela e a Fera” (1991), e falando nessa animação, a primeira cena do filme é um número musical que lembra a estrutura da primeira cena do filme desse clássico. Pouco se via do castelo e da casa dos anões por dentro.

Me senti na plateia de uma peça de teatro.

A Trilha sonora de ficou por conta de Jeff Morrow e da dupla Benji Pasek e Justin Paul. A canção mais marcante do clássico, “Eu Vou, Eu Vou” foi repaginada e ganhou uma versão alongada na letra. A canção “Aprenda Uma Canção” também foi adaptada, mas posso dizer que as versões dubladas ficaram tão boas quanto as versões originais em inglês.

Filme da Disney tem que ter bons números musicais! Aqui a coreógrafa Mandy Moore foi convocada novamente para criar números interessantes. Ela foi coreógrafa de filmes como “Enrolados” e “O Diário da Princesa 2”. O filme abre como os clássicos, um livro é aberto para contar a história e logo tem um número musical, como acontece em “A Bela e a Fera”(1991). A jovem atriz Emilia Faucher, que interpreta a Branca de Neve criança, é muito talentosa e tem possibilidades de ter uma boa carreira pela frente. Canta, dança e interpreta bem.

Maquiagem e cabelo é um dos pontos que sempre marca pontos positivos para o filme, mas infelizmente nesse filme, não funcionou. A Branca de Neve ficou estranha. O cabelo ficou longe de dar a beleza que a personagem precisa ter. Rachel Zegler é uma mulher bonita, mas aqui ficou muito estranha e a peruca usada parece de carnaval. Já não tem muito como errar com a Rainha Má. Só o rosto é maquiado já que ela fica coberta da cabeça aos pés. A caracterização da bruxa até que passa. Poderia ser melhor, mas podemos aceitar que está razoável. Infelizmente, a turma da maquiagem e cabelo não acertou dessa vez. Uma pena!

O elenco ficou restrito aos elementos criados no roteiro. Apesar de  Erin Cressida Wilson ter bons roteiros em sua carreira como por exemplo: “ A Garota no Trem”, esse pareceu perdido. Mudanças de personagens como transformar o Príncipe encantado numa versão de Robin Hood, foi meio sem criatividade. Ele poderia ser um Príncipe mais ativo, mas transformar em ladrão não foi uma boa solução. Por sorte, Marc Webb conseguiu fazer Andrew Burnap brilhar em conexão com Rachel Zegler. O casal funciona!

A Rainha conseguiu ficar mais perdida em todas as cenas e soou artificial em momentos de raiva. Não convenceu! Apesar de vestidos bonitos que seguem a linha da Rainha Má, faltou a potência na atuação de uma das vilãs mais importantes na galeria de personagens da Disney.

Os sete anões são personagens cativantes e aqui foram modificados e enfraqueceu o longa.  Para começar, perderam o protagonismo junto com Branca de Neve, e os anões em CGI não foi uma alternativa boa. O carisma dos sete personagens sumiu. Os personagens animados ficaram sem graça, sem alma e sem conexão. O personagem que mais aparece é o Mestre, e o Dunga que era mudo, aqui fala pelos cotovelos, e ainda por cima tem cabelo e perdeu a fofurice de sua careca. O Zangado ficou meio jogado nas cenas e os outros anões virou, apenas figurantes de luxo com exceção de Mestre que é o anão que mais aparece.

Apesar das falhas, se você ignorar o fato de ser um Live Action da animação clássica e encarar como uma versão do conto, dá para assistir tranquilo.

“Branca de Neve” não está na lista das melhores adaptações de animação para filmes com atores, mas não chega a ser a pior das obras feitas com essa proposta. O filme tem bons momentos e vale conferir. Mas fica aqui um conselho para os pais e responsáveis. Antes de levar sua criança para assistir, mostre para eles a animação clássica de 1937.

Continuo afirmando que a Disney precisa voltar seus esforços e finanças para criar novos clássicos e esquecer esse projeto Live Action. Todo o investimento, os profissionais que se cercou poderia ter criado um novo clássico maravilhoso ao invés de mexer em seus clássicos, e se perder em querer agradar grupos diferentes e não chegar em lugar nenhum. O clássico cria conceitos, mensagens e um público que atravessa gerações para a própria empresa desfazer tudo que foi criado.

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