assassins_creed_miniposterO mercado de games não para de crescer a cada ano, assim como a sua arrecadação. Segundo dados do Digi-Capital, banco de investimentos de produtos digitais, em 2017 o setor deve faturar mais de US$ 100 bilhões, bem mais que a indústria cinematográfica americana, por exemplo. Por isso, não é de se espantar que Hollywood tem investido em produções que procuram adaptar para as telas os jogos campeões de venda e popularidade, de olho no público que garante o sucesso tanto nos games quanto no cinema: os jovens na faixa etária de 10 a 17 anos.

O problema é que, salvo raras exceções, como “Mortal Kombat”, “Silent Hill” e a franquia “Resident Evil”, a grande maioria deste tipo de filme ficou bem abaixo do esperado, resultando muitas vezes em obras verdadeiramente constrangedoras. Mas os grandes estúdios não desistem e continuam tentando, na espera de conseguir o melhor de dois mundos, ainda mais que, nos jogos de sucesso atuais, como “Grand Theft Auto”, “The Last of Us” ou “Uncharted”, utiliza diversos elementos que certamente poderiam ser vistos num bom filme. A mais recente empreitada procura levar uma das franquia mais longevas e lucrativas da Ubisoft, com toda a pompa e circunstância que se pode esperar de um candidato a blockbuster. Só que “Assassin’s Creed” (Idem, 2016) não cumpre tudo o que era esperado e fica num meio termo que pode desagradar tanto os fãs de cinema quanto os de games.

A história é centrada em Callum Lynch (Michael Fassbender), um criminoso preso e condenado à morte por assassinato. Após ter sua sentença executada nos Estados Unidos, para sua surpresa, ele descobre que foi transportado para a sede da Abstergo Foundation, em Madri, para realizar uma experiência liderada pela bela e misteriosa cientista Sofia Rikkin (Marion Cottilard). Com a ajuda de um equipamento chamado Animus, Sofia quer que Callum transporte sua mente para o passado, mas especificamente para 1492, durante a Inquisição Espanhola, para descobrir onde seu descendente, Aguilar de Nertha (também Fassbender), integrante do Credo dos Assassinos, escondeu a Maçã do Eden, um poderoso artefato que, acredita Sofia, ser capaz de erradicar a violência no mundo. Só que o presidente da Abstergo, Alan Rikkin (Jeremy Irons), pai de Sofia, tem outros interesses pela busca de Callum, que vai adquirindo as habilidades de Aguilar à medida que vai experimentando cada vez mais o Animus, e desconfia de que tem algo mais em sua missão.

O que chama a atenção em “Assassin’s Creed” é a impecável direção de Justin Kurzel, especialmente nas cenas de ação que mostram como agem Aguilar e sua parceira Maria (Ariane Labed), com destaque para uma fuga sobre os telhados de casas e castelos do século XV, realizada de uma forma alucinante, que fica ainda mais instigante em 3-D. O diretor coloca aqui seu estilo já visto no ótimo “Macbeth: Ambição e Vingança”, de 2015, e que também foi estrelada por Fassbender e Cotillard, com uma fotografia amarelada nas cenas ambientadas no passado e que ganha tons azulados, porém sem vida, nas sequências do nosso presente. As coreografias de lutas são muito bem executadas e empolgam. A edição consegue fazer boas fusões de épocas diferentes na mesma imagem, como nos momentos em que Callum passa a agir como se fosse o seu ancestral. Além disso, vale destacar a direção de arte e os figurinos, especialmente os uniformes usados pelos integrantes do Credo de Assassinos, bem fiéis aos vistos nos jogos no qual o filme se inspirou.

Só que, se a parte técnica merece aplausos, o roteiro escrito por Michael Leslie, Adam Cooper e Bill Collage deixa muito a desejar, especialmente a partir da segunda parte da trama, que é inédita para os conhecedores dos jogos. Parece que os escritores perderam a criatividade lá pelo meio do que estavam escrevendo e passaram a apelar para coisas genéricas e pouco interessantes em relação ao que mostraram no início. Para piorar, alguns personagens se tornam desnecessários, a ponto de não fazerem falta se não existissem, desperdiçando ótimos atores. como Michael Kenneth-Williams. Outros mudam de motivação de uma hora para outra, sem maiores explicações. As reviravoltas são mais do que previsíveis, o que aumenta ainda mais a frustração quando o filme termina.

Outro destaque de “Assassin’s Creed” está no ótimo elenco principal, embora nenhum dos atores tenha grandes atuações. Michael Fassbender tem mais uma competente performance e impressiona seu fôlego para fazer boa parte das cenas de ação. Marion Cottilard está apenas correta como Sofia Rikkin, assim como o seu “pai”, Jeremy Irons, que usa o seu já conhecido talento para dar um bom ar de mistério ao seu personagem. Mas dá pena de ver a veterana Charlotte Rampling totalmente deslocada e obrigada a dizer frases que não fazem o menor sentido, especialmente na parte final.

Com um gancho para uma possível sequência, “Assassin’s Creed” tinha tudo para acabar com a “maldição” que ronda as adaptações de games para o cinema. Mas só conseguiu ser bem sucedido em 50%. Quem não for muito exigente pode até gostar dessa produção, que custou cerca de US$ 130 milhões. Mas certamente os fãs dos jogos podem se decepcionar de um jeito que nem o Salto de Fé resolve o problema. Parece que a ideia unir games e cinema ainda não deu totalmente certo. Mais sorte na próxima vez.

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