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IC Play celebra quatro anos com clássicos do cinema nacional no catálogo e produções do Festival Olhar de Cinema
Em 19 de junho, data na qual se comemora o Dia do Cinema Brasileiro, a Itaú Cultural Play, plataforma de streaming gratuita destinada ao audiovisual do país, completa quatro anos. Em comemoração ao seu aniversário, a IC Play realiza uma ampla programação durante o mês, que inclui parcerias com importantes festivais de diferentes regiões do Brasil, como o Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, cuja curadoria será exibida de 20 de junho a 9 de julho, e a CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, presente na plataforma de 27 de junho a 13 de julho.
A IC Play recebe, ainda, a partir do próprio dia 19, lançamentos de clássicos na coleção permanente Histórias do Cinema Brasileiro, em cópias restauradas e novas versões digitais. A coletânea incorpora, por exemplo, Também somos irmãos (1949), com o aclamado ator Grande Otelo (1915-1993), filme que se tornou pioneiro ao abordar o racismo, e Limite (1931), longa-metragem de Mário Peixoto (1908-1992), considerado uma das obras-primas do cinema nacional.
Nesses quatro anos, a Itaú Cultural Play amadureceu com o cinema brasileiro e cresceu numericamente. Seu catálogo, iniciado com 135 filmes, até hoje já recebeu mais de 1.500. A seleção abrange cada vez mais produções realizadas por indígenas, mulheres, diretores negros, além de animações e filmes para crianças. A IC Play também ampliou seu conteúdo voltado à educação, com coleções específicas para professores e sequências didáticas, e passou a disponibilizar mais filmes com recursos de acessibilidade, como tradução em Libras, audiodescrição e legendas.
“Celebrar o aniversário da Itaú Cultural Play é reafirmar nosso compromisso com a valorização do audiovisual brasileiro. A cada filme, mostra, festival ou nova história compartilhada, a IC Play celebra o Brasil, nossa diversidade e capacidade de criar”, afirma André Furtado, gerente de Criação e Plataformas, núcleo do IC responsável pela plataforma.
Novos filmes no catálogo
Histórias do Cinema Brasileiro, uma das primeiras coleções permanentes da Itaú Cultural Play, celebra os diferentes caminhos que a sétima arte percorreu no Brasil desde sua origem, valorizando os filmes muitas vezes ignorados pelo cânone. Para comemorar seu aniversário, a plataforma adiciona mais oito produções à coletânea, clássicos que perpassam a década de 1930 até os anos 2000.
Um dos novos filmes a entrar na coletânea é Limite (Rio de Janeiro, 1931), de Mário Peixoto (1908-1992), considerado um dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos. A trama se inicia com abutres pousando sobre uma pedra e segue com três personagens — duas mulheres e um homem — em uma pequena embarcação, aparentemente à deriva. Através de flashbacks, as histórias individuais de cada um são poeticamente contadas, enquanto as condições dentro do barco se deterioram. Limite foi restaurado com o apoio da World Cinema Foundation, presidida pelo cineasta Martin Scorsese. Sua cópia foi cedida à plataforma pelo Centro Técnico Audiovisual (CTAv), que comemora 40 anos de existência em 2025.
Outro lançamento é Também somos irmãos (Rio de Janeiro, 1949), longa-metragem do cineasta José Carlos Burle (1910-1983). A história acompanha um viúvo que adota quatro crianças, entre brancos e negros, criando uma família aparentemente unida. No entanto, o filme, um clássico da Atlântida Cinematográfica, destrincha as fissuras dessa harmonia à medida que o racismo e o preconceito social afloram, revelando humilhações e injustiças.
Reconhecido como um precursor na discussão sobre o racismo no cinema brasileiro, Também somos irmãos conta com um elenco formado no Teatro Experimental do Negro e a performance impactante do ator Grande Otelo (1915-1993). Em 2023, o filme passou por uma restauração digital realizada pela Cinemateca Brasileira, a partir dos materiais remanescentes em 16mm, uma vez que os materiais originais em 35mm não sobreviveram.
Outra produção histórica, Eles não usam black-tie (São Paulo, 1981), um clássico de Leon Hirszman (1937-1987), é uma adaptação da aclamada peça de Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006). O filme explora o conflito familiar entre Tião e seu pai, Otávio, ambos operários de uma fábrica. Quando a namorada de Tião engravida, o jovem anuncia o noivado. Paralelamente, os operários decidem entrar em greve, e a escolha de Tião de não aderir ao movimento do pai gera um profundo embate familiar. A obra foi premiada no Festival de Veneza e conta com um grande elenco, com atuações de Fernanda Montenegro e do próprio Guarnieri.
Sai da frente (São Paulo, 1952), dirigido por Abílio Pereira de Almeida (1906-1977), também foi restaurado e digitalizado pela Cinemateca Brasileira, em parceria com o Museu Mazzaropi. A produção marca a estreia do icônico comediante Amácio Mazzaropi (1912-1981) no cinema. A trama acompanha as desventuras do atrapalhado Isidoro Colepícula, dono de um caminhão de entregas, que parte de São Paulo a Santos com seu fiel cachorro, Coronel, para transportar móveis. Ao longo da Via Anchieta, ele se envolve em uma série de confusões com burocratas, policiais, motoristas e até mesmo uma noiva fugitiva. Produzido pelos estúdios Vera Cruz, o filme foi um grande sucesso de bilheteria nos anos 1950 e projetou o carisma cômico de Mazzaropi para a tela grande.
Uma produção mais recente, Durval Discos (São Paulo, 2001), dirigido por Anna Muylaert, nos transporta para o universo particular de Durval e Carmita, que vivem na mesma casa onde funciona sua loja de discos de vinil. A trama se desenrola quando Durval contrata uma funcionária para auxiliar sua mãe, e a chegada de Célia e da jovem Kiki revela que a vida, assim como um vinil, possui lados “A” e “B”. A comédia conta com participações especiais de Rita Lee e André Abujamra. Este último também contribuiu para a trilha sonora. Celebrado em festivais, o filme arrebatou 7 Kikitos em Gramado em 2002 e pode ser redescoberto em uma novíssima digitalização.
Em O menino e o vento (Rio de Janeiro, 1966), o diretor Carlos Hugo Christensen (1914-1999) apresenta a história de um engenheiro intimado a comparecer a um tribunal no interior de Minas Gerais, acusado do desaparecimento de um rapaz. Enquanto a comunidade local e as autoridades atribuem ao engenheiro uma amizade “suspeita” com a vítima, ele alega que a conexão entre os dois era motivada por uma paixão compartilhada: o vento. Baseado em um conto do escritor mineiro Aníbal Machado (1894-1964), o drama mescla elementos fantásticos em um cenário rural tipicamente brasileiro, resultando em uma narrativa que mistura surrealismo e drama de tribunal, e que ainda constrói uma atmosfera homoerótica instigante entre os protagonistas.
Em A margem (São Paulo, 1967), Ozualdo Candeias (1922-2007), importante nome do cinema marginal, entrega uma obra desconcertante e inaugural. O drama começa com a aparição misteriosa de uma mulher a bordo de uma barca no rio Tietê, em São Paulo, abrindo um novo capítulo onde dois casais perambulam pelas margens do rio e pelo centro da capital paulista. Celebrado por críticos e cinéfilos, o primeiro longa-metragem de Candeias permanece um enigma cinematográfico. Distanciando-se do cinema brasileiro da época, o diretor forja uma estética particular com poucos diálogos, atores não profissionais e movimentos de câmera singulares.
Por fim, Histórias do Cinema Brasileiro recebe Lilian M: relatório confidencial (São Paulo, 1975), segundo longa-metragem de Carlos Reichenbach (1945-2012). Uma obra libertária, provocativa, erótica e política, ela acompanha a jornada de uma mulher do campo que abandona sua família para tentar a vida na metrópole. Sua ascensão social a leva a se envolver com uma galeria de personagens excêntricos, incluindo um industrial, um empresário alemão que financia a repressão e um jovem burguês agressivo e mimado. Censurado pelo governo militar, que cortou 25 minutos de sua duração original, o filme foi restaurado no final dos anos 2000.
Direto de Curitiba
Entre 20 de junho e 9 de julho, a IC Play exibe uma curadoria com oito curtas-metragens da Competitiva Brasileira do 14º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, tradicional espaço para o cinema independente brasileiro e estrangeiro, que acontece presencialmente na capital paranaense até 19 de junho. São dramas, documentários e uma comédia, que refletem sobre o conceito de território – de fronteiras ao chão, passando pelo sobrenatural – como espaços de conexão e desconexão.
Na ficção Maira Porongyta – O aviso do céu (Rio de Janeiro, 2025), a diretora indígena Kujãesage Kaiabi nos imerge na cosmogonia de seu povo, os Kaiabi. O filme acompanha Itaarió, a entidade mais poderosa entre os Mait, os deuses Kaiabi, que convoca uma reunião para transmitir uma mensagem inquietante.
Fronteriza (São Paulo, 2025), das cineastas trans Rosa Caldeira e Nay Mendl, narra a jornada de Lucca, um jovem trans da periferia de São Paulo em busca do pai que nunca conheceu. Essa busca o leva à tríplice fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, onde ele encontra Diego, um paraguaio que o guia pelos mistérios de Foz do Iguaçu.
Mais um dia (São Paulo, 2025), dirigido por Vinícius Silva, acompanha a rotina da artista Leonora Maia, que vive em uma região amazônica conhecida pelos seringais e produz peças de artesanato a partir da borracha retirada das árvores. A trivialidade e a excepcionalidade da feitura dos trabalhos de Leonora se misturam em um documentário observacional atento à grandeza dos pequenos gestos.
Girassóis (Rio de Janeiro, 2025) é um drama livremente baseado em fatos. Acompanhamos José Carlos e Glória, um casal negro idoso da periferia carioca que, apesar dos desafios diários, precisa continuar trabalhando para sobreviver. O filme aborda a sobrecarga de trabalho e seus impactos na saúde e nas relações familiares, oferecendo um olhar sensível sobre a realidade de muitos trabalhadores do país. A direção é de Jessica Linhares e Miguel Chaves.
Seco (Rio de Janeiro, 2025) é baseado em um conto do livro Homens pretos (não) choram (2022), do escritor Stefano Volp, que também dirige o filme. O curta-metragem retrata um ex-militar viúvo que, após finalizar seu testamento horas antes de sua morte, percebe que não se lembra da última vez que chorou. Em uma busca por suas lágrimas, ele se lança em uma corrida contra o tempo, revisitando gestos e sentimentos há muito tempo adormecidos.
A nave que nunca pousa (Paraíba, 2025), de Ellen Morais, é um dos dois documentários presentes na curadoria. O filme transporta o público para uma comunidade quilombola no sertão paraibano, onde estranhas naves pairam sobre o local. Os moradores precisam lidar com as consequências dessa visita enigmática, que parece uma história de ficção científica.
Ontem lembrei de minha mãe (Bahia, 2025) é o outro documentário. Nele, um homem sem-terra compartilha memórias de sua infância em um podcast. Sua narração nos guia por um acontecimento marcante de sua vida, quando a região onde morava foi inundada pela construção do Lago da Usina Hidrelétrica de Itaipu, no Paraná. A direção do curta-metragem é de Leandro Afonso.
Por fim, na comédia Americana (Pará, 2025), de Agarb Braga, cinco amigas são detidas após um desentendimento em praça pública, desencadeado por uma traição. Durante os depoimentos na delegacia, segredos vêm à tona, revelando verdades inesperadas nas relações entre elas.
Outras novidades
De 2021 para cá, a Itaú Cultural Play, que começou com 135 filmes, já recebeu mais de 1.500 produções. O catálogo, renovado com frequência, atualmente abriga 594 produções, sendo 149 com recursos de acessibilidade, como tradução em Libras, audiodescrição e legendas. Recentemente, produções da IC Play passaram a ser disponibilizadas nas versões gratuitas da Claro TV+ e da Watch Brasil, que se unem às outras possibilidades de acesso.
Nesse período, a Itaú Cultural Play também criou iniciativas voltadas à educação, como coleções específicas para professores. Para quem educa reúne filmes diversos que podem ser exibidos para fins educativos, em contextos escolares, centros culturais e análogos. Há ainda coletâneas temáticas que buscam servir como suporte para esse público na abordagem de determinados assuntos, como direitos humanos e sustentabilidade. No site do Itaú Cultural, o projeto CineAula IC Play, por sua vez, oferece, todo mês, sequências didáticas baseadas em produções disponíveis no catálogo.
No ano passado, a plataforma instituiu o Prêmio IC Play, criado para reconhecer quem faz arte e cultura brasileiras por meio do audiovisual, e já premiou quatro curtas-metragens exibidos em festivais como o Visões Periféricas, do Rio de Janeiro, Guarnicê de Cinema, do Maranhão, e a Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis. Estão previstas mais quatro premiações este ano.
Se, no início, a Itaú Cultural Play tinha três festivais de cinema parceiros, hoje são 24, de todas as regiões do país. Neste mês, inclusive, a programação especial de aniversário conta com exibições de filmes de cinco mostras, ampliando o acesso a esses eventos para todos os brasileiros.
São elas: o 17º In-Edit Brasil – Festival Internacional do Documentário Musical, cuja curadoria fica em cartaz até 26 de junho; a 8ª Parada de Cinema – Mostra de Cinema Brasileiro Contemporâneo, festival piauiense que entra pela primeira vez na plataforma e disponibiliza filmes de 13 de junho a 2 de julho; o 29º Cine PE – Festival do Audiovisual, de 16 de junho a 16 de julho; o 14º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, entre 20 de junho e 9 de julho; e a 20ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, com recorte disponível entre 27 de junho e 13 de julho.
Serviço – Aniversário da Itaú Cultural Play – quatro anos
- Novos filmes na coleção permanente Histórias do Cinema Brasileiro
A partir de 19 de junho
- Curadoria do 14º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba
20 de junho a 9 de julho
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