Os estilos cinematográficos representados pela violência e pelo sangue há muitas décadas fazem parte desta cultura no cinema mundial. Claro, alguns com maior destaque, outros não. E na grande maioria das vezes, a proposta destes filmes está justamente neste ponto, ou seja, não há proposta alguma. Ou seja, como essa mesma indústria precisa sobreviver, por vezes, não há parâmetros para a criação, produção e lançamento destes longa metragens.
Mas com certeza, este comentário não se aplica ao filme REVENGE – VINGANÇA. Aliás, se alguém pensar que o filme trata-se de um remake, baseado na famosa de série de TV americana, exibida pela emissora ABC, contando a história de Amanda Clarke, que quando menina foi testemunha da prisão do pai, acusado de terrorismo sob forma injusta e condenado e, na prisão, acaba assassinado, além disso, anos depois, Amanda Clarke, retorna como Emily Thorne e com dupla missão, esclarecer e vingar a morte deste sentimos muito, errou.
O filme revela a estreia da cineasta Coralie Fargeat na direção de longas metragens. De nacionalidade francesa, Coralie Fargeat é escritora e lançou-se na Sétima Arte com o curta Lé Télégramme (O Telegrama, 2003). O filme conta a história de duas mães em uma cidadezinha do interior francês e que esperam telegramas de seus filhos, que estão em um front de guerra. No entanto, ambas conhecem um carteiro, o qual, as mesmas têm o mesmo sentimento: o mensageiro trará a notícia da morte de um dos seus filhos. Ainda faz parte de sua filmografia, o curta metragem Reality + (2014), no estilo ficção científica.
Coralie Fargeat certamente faz parte do time de mulheres que defendem ferozmente o empoderamento do sexo feminino, não admitindo que o gênero seja submisso às arbitrariedades masculinas. A prova disso está na liderança não somente na direção, como no roteiro. A diretora e escritora não se furta em romper o comportamento masculino, através dos conceitos machistas, que ainda insistem em permanecer em pleno século XXI.
E a confirmação deste discurso é representada amplamente em REVENGE – VINGANÇA. Coralie conta a história de Jen, amante de um empresário, na verdade um traficante de armas e casado, Richard. Ele e seus sócios resolvem caçar no Marrocos, quando Richard decide levar a sua jovem amante. Chegando ao pais árabe, todos desfrutam do conforto de uma casa sofisticadamente equipada e bem completa em mantimentos, em pleno deserto marroquino.
Altas festas acontecem na mansão entre os quatros integrantes da casa, atentando para o detalhe voyeurístico dos sócios de Richard, em todos os momentos em que o empresário se relaciona de forma bem erotizada, com Jen. Já realizando spoiler sobre o filme, a protagonista é violentada por um dos sócios de Richard, além do fato da mesma praticamente exigir do amante, que ele acabe com o seu casamento para que ela assuma o lugar da titular.
Neste momento, começa o história. Em armadilha preparada por Richard e testemunhada por seus parceiros, ele empurra Jan de um penhasco, e ao cair, esta é cravada por um grosso tronco de árvore. Como escrito, inicia-se o enredo e, também, o momento terror trash.
Surpreendentemente, Jan sobrevive à queda e, mesmo gravemente ferida, ainda planeja com cuidados a sua sede de vingança. Tem início o verdadeiro banho de sangue, literalmente, que percorre todo o filme. Algumas cenas são meio que inexplicáveis, como por exemplo, a forma como a personagem principal sobrevive à tamanha queda, além da agonizante cena em que ela se submete a uma auto-cirurgia para retirar o restante dos galhos da árvore, o qual, a atravessou.
Mesmo com algumas cenas desnecessárias, REVENGE – VINGANÇA merece mesmo todo o destaque em seu discurso. Coralie Fargeat faz questão de quebrar todos os paradigmas impostos pelo mundo masculino. E o faz de forma brilhante. No elenco, Matilda Lutz (Jen), atriz de O Chamado 3 (Rings, 2017), Kevin Janssens (Richard), Vicent Colombe e Guillaume Bouchède (os sócios de Richard).
Destaca-se também, os diálogos simultâneos em inglês e francês entre os personagens, além do leve toque Alfred Hitchcock, em Janela Indiscreta (Rear Window), relacionado ao voyeurismo a respeito dos personagens interpretados e a excelente direção de fotografia.
Para quem possui sangue frio, vale mesmo à pena conferir!
Wellington Lisboa.