O Mistério do Relógio na Parede (The House with a Clock in its Walls) / Eua, 2018. 104 min. / Direção: Eli Roth / Com: Cate Blanchet, Jack Black, Owen Vaccaro, Kyle MacLachlan, Colleen Camp.

 

Considerado o mais novo expoente do exploitation, Eli Roth, vem (ou vinha) provando uma incrível habilidade em conduzir histórias que falam dos limites humanos. Desde que abriu as porteiras do “torture porn” (gênero marcado por mostrar longas e gráficas cenas de tortura) com “O Albergue” (2005), “O Albergue 2” (2007) e “The Green Inferno” (2013 – explícita homenagem aos filmes italianos de canibais de baixo orçamento da década de 70/80), Roth vem recebendo vários títulos, entre eles, “o futuro do terror”, como seu parceiro e amigo Quentin Tarantino declarou a uma revista especializada.

Mas o infant terrible encantou-se com Hollywood aceitando projetos nada autorais. Em parceria com a poderosa Amblin de Spielberg, Roth já assumiu o remake do thriller “Desejo de Matar” (2018) com Bruce Willis no lugar de Charles Bronson, e agora nos brinda com um filme familiar baseado na aclamada fantasia infantil de John Bellairs.

Em “O Mistério do Relógio na Parede” (The House with a Clock in its Walls) não há sangue nem violência. Temos um mix de resultados com referências que vão desde “Harry Potter” até “Desventuras em Série” com feiticeiros, bruxas, mágicos e um rito de passagem envolvendo Lewis Barnavel (Owen Vaccaro) um órfão nerd, fã de super herói que se muda para a mansão de seu tio excêntrico, Jonathan Barnavelt (Jack Black). Auxiliados pela melhor amiga e vizinha Florence Zimmerman (Cate Blanchet), eles terão que achar um relógio escondido e evitar que forças malignas acabem com o mundo.

Enquadrado como um típico filme de Halloween, “O Mistério do Relógio na Parede” peca pela falta de originalidade e aderência mágica, deixando o espectador com a mesma sensação de uma visita a um brinquedo dos parques temáticos da Disney. O charme reside no calibre de artistas como Blanchet e no carisma de Jack Black e Kyle MacLachlan (sob uma pesada maquiagem) cuja alquimia transforma bobagens em diversão.

Apesar de Roth fazer um bom uso dos elementos góticos, o resultado é mais uma aventura doméstica infantil com intenções de tornar-se um filme memorável (o que não acontece) tropeçando feio nas poucas tentativas lúdicas que o roteiro tenta incorporar. O melhor exemplo é quando Lewis se deslumbra com uma encantadora visão do universo e seu êxtase é quebrado pelos dejetos de um gigantesco leão de grama.

“O Mistério do Relógio na Parede” tenta forçar uma identidade própria, mas seus alicerces não são profundos suficientes para a criação de uma franquia mesmo que o material original ofereça uma considerável série de livros.

 

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Zeca Seabra – Cinéfilo carioca com formação em Comunicação Social pela Puc em 1980 e em Hotelaria pela Estácio de Sá em 1983. A partir de 1995 participou de vários cursos e em 2006 começou escrevendo textos críticos para o blog paulista “Cinema com Pipoca”, um dos primeiros a tratar do assunto. Desde 2010 participa de debates e encontros com textos já publicados em catálogos de mostras especializadas. Em 2016 participou da oficina crítica cinematográfica com o renomado crítico francês Jean-Michel Frodon. É membro da ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro) desde 2013 e crítico do site Almanaque Virtual.

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