Coringa (Joker, no original) chegou aos cinemas brasileiros no dia 03 de outubro em meio a uma grande expectativa por parte do público. A ânsia de assistir ao longa é perfeitamente compreensível, devido às notícias relacionadas à sua recepção dos espectadores e críticos em festivais e aos ótimos trailers lançados, deixando em destaque a atuação de Joaquin Phoenix.

Este não é um filme de herói. A própria Warner estabelece essa diferença no começo, exibindo o seu logo próprio, sem estar acompanhado do selo da DC em seguida.

O tom de Coringa é pesado e em diversos momentos chega a causar um certo incômodo em parte daqueles que o assistem. O filme apresenta uma característica violenta e as mortes ocorridas são muito reais, sem pirotecnias, sem efeitos visuais extravagantes e sem uma tentativa de amenizar a cena relacionadas a essa situação. Momentos secos.

Este clima melancólico é perceptível logo nos primeiros minutos de tela, com Arthur – que viria a se tornar o famoso vilão – tendo que lidar com o seu problema neurológico. As risadas são acompanhadas por uma expressão de sofrimento, sem ter o menor controle sobre a condição da doença. É agonizante ver que o personagem quer parar com este momento, mas não consegue. A brilhante atuação de Phoenix contribui muito para transmitir essa dor mental que Arthur passa.

O trabalho do ator é um show à parte no longa. Muito se falou que ele é um forte candidato a, no mínimo, uma indicação ao próximo Oscar e a obra cinematográfica deixou claro que a empolgação e expectativa pela possível premiação faz todo o sentido. Suas expressões, jeito de andar, demonstrar sofrimentos e o modo que ele usa seu corpo magro são um espetáculo digno de estatueta.

Uma atuação incrível, ainda mais considerando que o elenco é pequeno e basicamente conta com apenas personagens de suporte – embora importantes dentro da narrativa e em termos de influência – e operantes ao redor do protagonista. Para Coringa dar certo dentro da forma que foi apresentado, era preciso um trabalho inspirado de sua peça principal. E foi o que aconteceu.

A contradição entre os risos do personagem durante o filme e a sua melancolia relacionada a ela é marcante. Mesmo o momento genuinamente engraçado que causa risadas no público é uma cena repleta de sangue e tensão. Apenas alguns segundos para os espectadores respirarem um pouco, mas ainda assim refletirem e terem noção do quão desesperadora é a cena.

O personagem muda gradualmente de acordo com as circunstâncias e torna a sua evolução fácil de ser notada, até chegar ao ápice. São várias situações adversas que constroem a camada de Coringa até ele assumir um rumo definido em sua vida. O sofrimento interno em meio às ocasiões que ele considera injusta na cidade de Gotham estão presentes a todo momento e fazem parte de quem ele se torna. O que acontece ao redor, tanto na cidade em si quanto com o próprio Arthur são elementos chave para a condução do roteiro. Um arco muito bem construído.

O filme procura estabelecer uma conexão com a família Wayne para assim linkar com a história de Batman. É interessante ver a relação entre o ponto de partida do icônico herói e seu respectivo vilão principal, mas não havia tanta necessidade de criar esse vínculo. A obra funcionaria sem este elemento, o que não significa que esse plot seja descartável. O modo que o roteiro uniu os dois foi extremamente competente.

A catarse em seus minutos finais impressiona principalmente pelo clima de caos estabelecido e o quanto a figura do personagem passou a ter um poder de influência. Se no início do longa Arthur questionava a si mesmo se ele existia, após todo o arco demonstrado, a resposta é evidente.

Coringa é um filme incômodo, sujo, triste, com uma ótima fotografia esverdeada ditando o clima do ambiente e conta com um excelente trabalho do diretor Todd Phillips. A obra, que já é boa enquanto assistida, cresce ainda mais após o espectador digerir o filme.

1 COMENTÁRIO

  1. O Filme eh muito bom…
    Direção e texto…ufaaa de tirar o folego
    O Ator e de uma interpretação que chega chocar quem esta assistindo..frieza…calculismo!!
    tres cenas que eu achei o ápice…
    Quando ele desce as escadarias cantando e dançando / quando ele entra no palco para entrevista / a morte do Bruce pai pelos palhacos..

    Sua critica e realmente ..bem escrita e de muita clareza!!

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui