Os Miseráveis (2019)

Os Miseráveis

Les Misérables (título original)

França 2019, (1h42min); thriller

Da condenação aos cultivadores: sobre o que Victor Hugo estava falando?

O filme é uma continuação do curta metragem de mesmo nome dirigido e co-escrito por Ladj Ly, selecionado pela Palma de Ouro no Festivalde Cannes de 2019, e ganhou o prêmio do juri dividindo a honraria com o brasileiro Bacurau de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. Les Misérables traz então a fala dos excluídos na França em seu longa metragem e reler por outra perspectiva Les Misérables (1862) do escritor Victor Hugo. O livro, best-seller na França revolucionário traz o protagonista Jean Valjean que por roubar um pão é condenado a dezenove anos de prisão. As principais pautas que atravessam este anti héroi são a pobreza, desigualdade social e a condenação. O epílogo do filme traz uma frase do romance, que é mais ou menos isso: Não existem homens bons, nem existem homens maus, o que existe são maus cultivadores. A frase transcrita sem compromisso com a tradução, ressoa na contemporaneidade do diretor como um chamado final. Ou o que Victor Hugo irá desdobrar em a “após a filosofia, a ação é indispensável”.

No filme dirigido por Ladj Ly a história narra sobre as pertinencias atuais das temáticas sobre a miséria, a guerra dos poderes, e as poéticas sobre o ponto de virada do oprimido. O cenário na França contemporânea, Stéphane (Damien Bonnard) muda-se para Montfermeil (mesmo bairro do livro de Victor Hugo) e entra no esquadrão anti-crime da comuna de estrangeiros do bairro. Juntamente com outros dois homens, Chris (Alexis Manenti) e Gwada ( Djibril Zonga), formam um grupo esquadrão anti-crime com práticas pouco convencionais. O bairro formado por uma maioria negra, e estrangeiros, mas que também mistura os aspectos religiosos desses estrangeiros, e o mercado popular informal desse lugar.

O filme então faz questão de mostrar os aspectos positivos sobre o bairro. Ainda que um lugar de violências nas esferas macro, e micro, as vielas da comunidade são repletas de sequências vivas com as ações cotidianas dos moradores. Ainda não para aí no que diz respeito a linguagem de câmera, o diretor Ly enfatiza nas brigas entre os grupos uma câmera espectadora, e posicionada no meio das brigas. Dando o ar, street fighter, existem mecanismos sutis de ponderação sobre o poder nesse território. A urgência que também é enfatizada pelo personagem de Damien Bonnard, como Stéphane o personagem mais esquentadinho da gangue, e que vive longe da família.

Para Victor Hugo e para Ly a idealização de uma identidade francesa cai por dentro das misérias humanas em bairros estrangeiros ontem e hoje. A tensão social na periferia, e a violência policias marcam todos os conflitos com os jovens e crianças do bairro. Nem o Arco do Triunfo e a Torre Eiffel escapam das leis da savana africana. Uma das metáforas exploradas nos momentos chaves do filme, é o rapto de um filhote de felino de um dos donos do circo que está pelo bairro. Durante a jornada dos jovens, e dos policias, temos a sensação que a configuração das tensões entre os grupos equiparam-se às leis selvagens.

Sobre o formato scope, com planos panorâmicos, e o uso do recurso dramáticos do drone aparece para ainda mais dar a sensação dialética entre os grupos.

O filme tem a previsão de estreia hoje no Brasil (16 jan. 2020)

 

Os Miseráveis (2019)

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