Recentemente, os diretos autorais da Disney sob Ursinho Pooh foram encerrados e a obra tornou-se propriedade pública; o que significa que qualquer um poderia utilizar da imagem do reconhecido e querido urso amarelo e seus amigos e montar a narrativa que bem entendesse em volta deles. Não tardou muito para que fosse anunciada a produção de Ursinho Pooh: Sangue e Mel, filme que prometia trazer terror ao transformar os até então adoráveis personagens em versões macabras de si mesmos.
Uma promissa assim, obviamente, chama atenção – e não é a toa: Pegar um personagem que foi amado por gerações e transformá-lo em um assassino nojento exige, no mínimo, alguma coragem.
E foi justamente essa promissa chamativa e coragem irrefutável que fizeram com que Ursinho Pooh: Sangue e Mel se tornasse notável, a ponto de ter uma estreia popular nos Estados Unidos e ser muito comentado nas redes.
É bem incomum que um filme independente e de orçamento tão fraco – a obra contou somente com 100mil dólares para ser feita – ganhe tanta repercussão. Nesse caso, os personagens são inteiramente responsáveis pelo sucesso da obra, visto que não hão nomes famosos dentro da produção ou elenco, e muito menos qualidade – como irei citar posteriormente.
Sendo assim, é inimaginável qualquer outra razão para que qualquer um queira assistir o filme, senão a curiosidade em ver os personagens fofinhos se tornando aterrorizantes.
Do diretor britânico independente Rhys Frake-Waterfield, ‘Ursinho Pooh: Sangue e Mel’ é um terror slasher onde criaturas humanoides, movidas a aversão e rancor pela raça humana por conta de um passado dramático, se tornam assassinas. Tais criaturas, você deve imaginar, são Pooh e seus amigos – na verdade, seu único amigo, Leitão. No filme, Ió é morto em um sacrifício que é demonstrado por uma animação desnecessária e desleixada, simples demais para conter em si qualquer vestígio de drama ou terror, logo no início do filme; e Tigrão, apesar de ter sido mencionado brevemente, é simplesmente esquecido na trama. A suposição popular é a de que o orçamento não foi suficiente para bancar os figurinos e maquiagens desses dois personagens esquecidos.
De qualquer forma, Pooh e Leitão são assassinos com um ódio da humanidade, o quê é explicado, porém não explorado: Assim como tudo no filme, nós somos capazes de “compreender” o ódio, porque ele é jogado no filme da forma mais óbvia e tosca; entretanto, não somos capazes de nos conectar com ele, pois ele não é desenvolvido; nada no filme é.
Além deles, conhecemos brevemente mais duas histórias, a de Christopher, ex-amigo de longa data dos assassinos, inspirado pelo criador original dos bichinhos, e a de um grupo de amigas em viagem.
Dentro de uma narrativa sem sentido algum, onde os personagens possuem uma apresentação tão breve quanto tosca apenas para fazer o filme rodar, nada é desenvolvido e nenhum elo é propriamente criado. Tudo parece estar acontecendo simplesmente por acontecer, nada possui um rumo claro e não existe uma atmosfera de terror capaz de manter o telespectador vibrado ao filme.
A obra é quase uma ofensa às mulheres, ao sexualizar suas atrizes desnecessariamente e colocar todas as suas personagens femininas como tolas e indefesas.
Quanto às atuações, nenhum dos atores pareceu levar suficientemente a sério seus papéis e entregaram, cada um, uma atuação sem caprichos. Entretanto, é difícil colocar a culpa completamente nesses profissionais quando o filme têm roteiro e diálogos tão falíveis.
Talvez também justificado pelo seu baixo orçamento, o filme conta com caracterizações esquisitissimas e efeitos visuais grotescos, que eram melhores se deixados de fora. Salvas algumas cenas sangrentas e de gore, a produção realmente deixa muito a desejar.
Sendo assim, pode-se dizer que ‘Ursinho Pooh: Sangue e Mel’ abusa de todos os elementos negativos que marcam o terror slasher em sua história desde os anos 80 e descarta todos os seus pontos positivos, sendo um ótimo exemplo de tudo que há de errado dentro desse subgênero.