Novo longa de terror australiano do estúdio A24, “Talk to me” está sendo ansiosamente comentado nas redes. Pode-se julgar que o filme é, sim, capaz de cumprir com as expectativas do público.

No filme, uma estatueta em formato de mão traz consigo espíritos malignos capazes de possuir o corpo de quem encosta nela. Quando um grupo de amigos começa a “brincar” com essa mão, as coisas saem de controle.

Não se trata de mais uma trama sobrenatural genérica, onde tudo parece desnecessário e forçado e se questiona o juízo mental dos personagens que parecem optar sempre pelos caminhos mais tolos possíveis. Não, “Talk to Me” não é assim. Pelo contrário, entende-se a gravidade das situações que os personagens, pela inocência da adolescência, acabam se metendo, e até mesmo se sofre e agoniza junto a eles, como quem pensa: “Poxa, as coisas parecem só piorar!”.

Há essa ideia popular de que um filme só é inteligente quando o público geral não consegue captar sua mensagem de primeira, sem antes fazer mil análises. Mas isso não é uma verdade absoluta. “Talk to Me” é um perfeito exemplo disso. Sua mensagem é clara e única, mas ele não deixa de ser inteligente. Cheio de prelúdios, ele faz referências a si mesmo em diversos momentos e implícita algumas informações para que o telespectador possa refletir sobre elas e interpretá-las, mas sem precisar se perder completamente no que está acontecendo para isso.

É possível captar críticas e lições de moral em alguns personagens do filme. Por exemplo, a personagem Jade, interpretada por Alexandra Jensen, parece ser uma crítica à passividade exabundante, e há uma reflexão quanto às coisas ruins que aconteceram com ela e com os que amavam terem ocorrido, justamente, por conta dessa passividade.

Contudo, os noventa minutos de filme não são suficientes para lidar com toda a carga narrativa que a história oferece. 

Mesmo antes da estreia, já foi-se confirmado uma continuação. Creio que a liberação dessa notícia foi importante para que o público pudesse compreender que as coisas não ficaram “bagunçadas” ou “mal explicadas”, como poderia acabar sendo a primeira impressão de muitos, e sim que a história é muito rica em conteúdo para ser completamente desenvolvida e explorada em apenas um longa.

Apesar de explorar de vários fatores comuns a outros filmes de terror, (o quê não é, necessariamente, um ponto negativo, visto que é normal isso ocorrer entre obras do mesmo gênero) “Fale Comigo” mostrou-se, inúmeras vezes, original ao juntar elementos distintos: Não se trata de um filme tão mínimo no quesito emocional como alguns filmes de terror teen’, pois, ao utilizar do próprio horror, do mistério e do gore para abordar temas como luto e vazio, ele consegue comover o público, fazendo-o ficar ainda mais interessado na trama e nos personagens. Ainda assim, apesar dessa atmosfera pesada que o filme carrega, ele possui cenas de humor hilárias o suficiente a ponto de ficarem gravadas na mente. 

Quanto às atuações, todos os profissionais cumpriram muito bem com seus devidos papéis. Entretanto, não há dúvida alguma que o destaque vai para Sophia Wilde, que dá vida à personagem principal do filme, Mia, entregando uma performance comovente que faz o público querer saltar da cadeira e gritar como reações imediatas aos fortes sentimentos que a atriz é capaz de transmitir com seu talento. Sua atuação é uma das melhores desse ano e a atriz merece ser lembrada durante a próxima temporada de premiações. Outro destaque positivo é para o ator mirim Joe Bird, que brilha aos seus dezesseis anos ao interpretando Riley.

O trabalho da equipe de maquiagem foi impecável e, juntamente com os efeitos visuais, tornou-se um fator crucial para a trama funcionar bem.

O som agonizante e de extrema qualidade foi outro fator importantíssimo para o impacto do filme, aumentando e abaixando de acordo com a tensão e as emoções presenciadas em cena. A trilha sonora se adapta ao momento e a lembrança de algumas cenas vêm marcadas pela música, como se esta fosse um fator fixo que se mescla diretamente à fotografia. 

“Fale Comigo” cumpre suas funções horripilantes e dramáticas e é uma das melhores novas premissas de saga de terror do século XXI até agora.

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