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Itaú Cultural Play recebe produções do 28° forumdoc.bh até 08 de dezembro
Um dos maiores e mais representativos festivais de documentário do país, o forumdoc.bh – Festival do Filme Documentário e Etnográfico, Fórum de Antropologia e Cinema, cuja 28ª edição acontece desde a última quinta (21) e vai até o próximo domingo (01°) em Belo Horizonte, exibe, mais uma vez, uma janela de filmes na Itaú Cultural Play, plataforma gratuita de cinema brasileiro do IC.
A partir de 22 de novembro, o catálogo da IC Play recebe 10 produções vindas da Mostra Contemporânea Brasileira, que reúne o cinema produzido em diversos estados do país nos últimos dois anos, e da Mekarõ Ti: Mostra-Seminário Coletivo Beture de Cineastas Mebêngôkre, com filmes assinados pelo Coletivo Beture, um dos grupos de realização indígena mais atuantes no país hoje, formado por cineastas da etnia Mebêngôkre-Kayapó. Além de abarcarem a cosmovisão dos povos originários brasileiros, os curtas e longas-metragens da seleção incorporam temas relacionados ao patrimônio afrobrasileiro e à desigualdade no país.
A curadoria escolhida pelo forumdoc.bh para a IC Play contém dois filmes da Mekarõ Ti: Mostra-Seminário Coletivo Beture de Cineastas Mebêngôkre. Ambos são curtas-metragens produzidos por cineastas das novas gerações em diálogo com líderes veteranos da etnia, que vive em aldeias no Pará e no Mato Grosso. Como o próprio título descreve, Tuíre Kayapó – O gesto do facão (2023), de Patkore Kayapó e Simone Giovine, relembra o gesto emblemático da ativista Tuíre Kayapó, morta em agosto deste ano, durante o Encontro das Nações Indígenas do Xingu, em 1989.
Na época, a mulher, então com 19 anos, ficou conhecida mundialmente ao confrontar o então presidente da Eletronorte, José Antônio Muniz, colocando um facão em seu rosto, em protesto à construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, em Altamira, no Pará. No filme, ela narra os detalhes do ato ao seu neto, o próprio diretor Patkore Kayapó.
Por sua vez, Mebêngôkre pyka mã ruwyk â ujarej – A chegada dos Mebêngôkre na Terra (2024), que Simone Giovine dirige junto de Kokokaroti Txucarramãe e Matsipaya Waura Txucarramãe, faz referência ao líder indígena e ambientalista Raoni Metuktire, conhecido como Cacique Raoni. No enredo, ele conta aos jovens cineastas Kayapó a história da chegada do povo Mebêngôkre na terra.
A Mostra Contemporânea Brasileira, cuja função é mapear o audiovisual no país e exibir documentários que explorem a multiplicidade do Brasil, está presente na plataforma com oito filmes. Seis deles também retratam a cultura e os saberes indígenas. O longa-metragem Bibiru: kaikuxi panema (2023), de Latsu Apalai e André Lopes, segue um caminho similar aos dos filmes anteriores. O protagonista é Bibiru, um cachorro de caça da aldeia Bona, no Pará.
Quando o cão fica “panema”, ou seja, sem sorte na caça, seu dono vai em busca de sua cura para que possam voltar a caçar juntos. A narrativa acompanha os ensinamentos do homem aos jovens da aldeia, fazendo uma reflexão sobre a convivência entre humanos e animais e sobre a alimentação. A captação de imagens foi feita por jovens Wayana e Aparai, que aprendiam a filmar pela primeira vez.
Captado em uma oficina de audiovisual do III Encontro Nacional de Mulheres Guarani, realizado em 2023, na aldeia Tekoa Koenju, no Rio Grande do Sul, o curta-metragem Nhemboaty kunhangue (2023) mostra o papel fundamental das mulheres Mbya-Guarani na existência material e imaterial da aldeia. A direção é da dupla Para Yxapy Patrícia e Geórgia Macedo.
Os sonhos guiam (2023), de Natália Tupi, é também um registro dos costumes dos Mbya- Guarani, etnia espalhada em aldeias em vários locais do Brasil e de outros países da América do Sul. No documentário, a cineasta indígena traduz a perspectiva da comunidade acerca dos sonhos — que seriam como portais para tudo aquilo que não vivemos no mundo físico — a partir das experiências espirituais e sensoriais do jovem líder indígena Mateus Wera, morador da Terra Indígena Jaraguá, na capital paulista.
Também um curta-metragem, mas não de realização indígena, A fumaça e o diamante (2023) narra o reencontro emocionante de uma família Yanomami após uma densa fumaça tomar conta da Aldeia Catrimani, na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, em outubro de 2016. Assinam a direção Bruno Villela, Fábio Bardella e Juliana Almeida.
O último filme da curadoria protagonizado apenas por indígenas é A transformação de Canuto (2023), da dupla de cineastas Ariel Kuaray Ortega e Ernesto de Carvalho. O longa-metragem, uma mescla entre documentário e ficção, foi premiado com quatro Kikitos no Festival de Gramado deste ano: melhor filme, direção, ator e fotografia. Ele resgata a lenda de Canuto, originária de uma pequena comunidade Mbya-Guarani entre o Brasil e a Argentina. Segundo o mito, Canuto foi um homem que, há muitos anos, se transformou em onça e depois morreu tragicamente. Brincando com a metalinguagem, no filme, os diretores decidem reencenar a história com a ajuda dos habitantes do povoado. A transformação de Canuto fica na IC Play apenas até 1 de dezembro, último dia do festival.
Lançado neste ano, O encantar das folhas amplia o enfoque da seleção para além das questões indígenas. O longa-metragem explora a relação entre natureza e espiritualidade em diferentes culturas brasileiras, como o Candomblé Jeje, a Umbanda e a cosmovisão de mestras indígenas do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, e da Amazônia. Os cineastas César Guimarães e Pedro Aspahan são os diretores.
Encerram a janela de exibição do forumdoc.bh na IC Play os documentários Carteira assinada (2023), de Pietro Picolomini, e Amadeu (2024), de Felipe Canêdo, ambos longas-metragens. O primeiro se debruça sobre as questões sociais e econômicas do Brasil e da América do Sul ao colher relatos de pessoas que esperam em uma fila em busca de emprego no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo. Elas compartilham suas histórias de vida, alegrias, decepções e sonhos.
Amadeu retoma a discussão acerca do patrimônio afrobrasileiro. O filme de Felipe Canêdo mergulha na trajetória de Amadeu Martins, mestre de capoeira responsável por popularizar a prática e a cultura africana em Belo Horizonte. Assim como A transformação de Canuto, o filme fica disponível no catálogo até 1 de dezembro.
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