Roda Gigante (Wonder Wheel) / Eua, 2017. 101 min. / Direção: Woody Allen / Com: Kate Winslet, Jim Belushi, Justin Timbarlake, Juno Temple, Jack Gore.

Depois de duas produções bancadas pela Amazon (“Café Society” de 2016 e a minissérie para a TV “Crisis in Six Scenes”, ainda inédita no Brasil), Woody Allen retorna a sua prolixa produção anual com um dos filmes mais amargos e aflitivos de sua carreira desde “O Sonho de Cassandra” de 2007.

“Roda Gigante” (Wonder Wheel no original) tem como pano de fundo uma Coney Island dos anos 50, um lugar de diversão em decadência, onde a instável Ginny (Kate Winslet), a mulher do operador de carrossel meio ogro Humpty (Jim Belushi) se apaixona por Mickey (Justin Timberlake), um jovem salva vidas romântico e sonhador. Enquanto isso, a sedutora Carolina (Juno Temple), a filha única de Humpty, pede abrigo na casa do casal fugindo de um casamento abusivo com um gangster vingativo. Narrado por Mickey, a narrativa segue o mesmo ritmo que Allen vem explorando em seus últimos filmes onde acasos, desconfianças e traições empurram seus personagens para opções nem sempre satisfatórias. Como sempre, o diretor revela seu alter ego no personagem principal, neste caso em Ginny, uma precipitada mulher a beira de um ataque de nervos sempre com fortes dores de cabeça e amargurada pelos erros cometidos no passado além de sofrer com o comportamento de seu filho Richie, um pré adolescente fanático por cinema e piromaníaco. Semelhante a Cate Blanchet em Blue Jasmine, Ginny é o veículo ideal para que Kate Winslet explore as sutilezas de um papel tragicômico que parece ter saído das páginas do dramaturgo Tennessee Williams.

Como sempre é impossível resumir os filmes de Woody Allen em apenas uma simples sinopse e a história vai desenvolvendo em camadas com desdobramentos inusitados e às vezes inconclusivos oferecendo vários conceitos. A roda gigante do título, por exemplo, além de ser um símbolo de Coney Island, é um elemento descritivo de um comportamento repleto de altos e baixos que não leva a lugar nenhum, um evidente espelho da personalidade de Ginny com seus rompantes.

E para além da bem construída trama, há uma deslumbrante produção cênica a cargo de Santo Loquasto emoldurada por uma fotografia genial de Vittorio Storaro (ambos fiéis colaboradores do diretor), elementos importantíssimos para a composição de um trabalho seguro e de gabarito. As mudanças na paleta de cores (azul, laranja, dourado, etc) atuam como uma informação indicando os humores dos personagens oferecendo à platéia uma deliciosa e requintada degustação visual que somente cineastas de alto calibre sabem apresentar.

“Roda Gigante” (Wonder Wheel) pode não fazer parte de uma das fases mais criativas de Woody Allen, mas é uma obra que reverencia o Cinema e ainda consegue passar o recado de que um passado mal vivido pode se transformar em um parque sem nenhuma diversão repleto de angústias, mágoas e aflições.

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