O polêmico filme de Maria Augusta Ramos inicia com imagens da votação do impeachment e os discursos quase sempre bizarros dos parlamentares para justificar seus votos. A partir daí o tom tragicômico segue permeando várias passagens – talvez para mitigar um pouco a aridez do tema –  e se alterna com momentos mais sérios. A sensação que fica é, de que os defensores do impeachment são sempre retratados de forma caricata e os opositores de forma mais generosa. Glesi Hofmann, Lindbergh e aliados aparecem como figuras sérias, enquanto Janaína Pascoal funciona como uma espécie de alívio cômico, arrancando risadas quase sempre que aparece.

Maria Augusta coloca a câmera quase como um observador passivo da história, sem planos mirabolantes ou invencionices. Isso ora funciona, ora não. Há passagens prosaicas dos protagonistas, que provavelmente, visam reforçar a humanidade deles e criar identificação, mas, por vezes, parecem deslocadas no filme. Além disso, independente do lado em que o personagem se encontra, muitas ações soam mais encenadas do que naturais. Fica ainda a sensação de que o filme abraça um ponto de vista sem se preocupar com o contraditório no documentário. A única figura que tem destaque do lado oposto ao dos aliados de Dilma é justamente uma caricata Janaína. Um olhar mais distanciado, abrangendo todos os ângulos seria mais interessante enquanto proposta documental. Entretanto, cabe dizer que a diretora justificou em entrevista para o Jornal O Globo, em 23/02/18 que isso não foi exatamente uma opção, visto que seu acesso à acusação foi bastante restrito, não tendo lhe sido permitido, por exemplo, participar das reuniões do PSDB e do PMDB.

O filme ganharia se fosse mais curto. Algumas cenas são demasiadamente longas, incluindo o tempo das cartelas explicativas, e as mais de duas horas de projeção podem cansar, especialmente quem não tenha tanta familiaridade com termos jurídicos. Faz falta ainda a identificação dos personagens, afinal, nem todos são conhecidos do público brasileiro e menos ainda do público internacional. E é preciso considerar tratar-se de uma produção que busca “viajar” e que fez parte da seleção oficial de importantes Festivais internacionais, como o Festival de Berlim, onde ficou em terceiro lugar no voto popular.

O processo tem bons momentos e retrata uma época importante da política brasileira. Provavelmente, não vai mudar a visão de quem já tem opiniões formadas, sejam elas pró ou contra o processo de impeachment, mas, é válido tanto como forma de livre expressão artística quanto como incentivo para que se comecem a produzir mais filmes políticos no Brasil.

 

 

Critica de Elaine Azevedo com a supervisão de Raquel Duarte Garcia.

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