Alguém aqui sabe, se lembra ou, conhece o jogo Canastra? Rapidamente, irei recordá-los ou, apresentá-los às regras básicas. A partida é sempre realizada com quatro jogadores, e destes, duas duplas. Os regulamentos deste jogo assemelham-se ao jogo chamado, Buraco, sendo que, este último, não há necessidade de formação de duplas. Continuando, a premissa básica do jogo é formar sequências de cartas, do mesmo naipe (Copas, Espadas, Ouro e Paus), a partir da carta número 4 até o Ás.

Podem ser formadas trinca de cartas com o mesmo número, mas em diferentes naipes. A carta número 2 substitui qualquer outra carta de qualquer naipe, valendo como Coringa, aliás, esta carta também vale no jogo, com a mesma equivalência, sendo que, ela é estampada com o símbolo em inglês, Joker. Ganhará a partida, a dupla que formar a canastra limpa (sem a utilização do Coringa) ou, a canastra suja (com o aproveitamento da mesma carta), sempre em um conjunto de sete ou mais cartas.

Foi e é necessária a explicação desta brincadeira, para apresentar-lhes um filme que é uma verdadeira surpresa no teor máximo em direção, roteiro e produção. Divulgo a todos, o filme CANASTRA SUJA.

Sob a primorosa direção, roteiro e produção do compositor, dramaturgo e do precursor do movimento de cinema bruto, Caio Sóh (Teus Olhos Meus, 2011; Minutos Atrás, 2013 e Por Trás do Céu, 2017) chega a assustar os espectadores com a suposta selvageria colocada em suas obras cinematográficas, mas que refletem perfeitamente o estado em que a nossa sociedade se encontra nos dias de hoje, e pior, não sente a menor timidez em mostrar suas atitudes publicamente, e muito menos, revê-las e corrigí-las, o que é mais aterrador ainda.

Caio Sóh – diretor

Caio Sóh nos conta a história do casal Batista e Maria e seus três filhos, o mais velho Pedro, a filha do meio, Emília e a caçula e autista, Rita. Esta família reside em uma comunidade, a forma educada e cortês de referir-se ao termo favela, na Cidade do Rio de Janeiro. Logo no início do filme, Batista é apresentado ao público como um viciado em bebidas alcoólicas e passando a frequentar os AA (Alcoólicos Anônimos). O líder desta família tem um comportamento completamente machista e autoritário para com a mulher e os filhos, gerando com isso, claro, conflitos muito sérios entre ele e o filho mais velho.

CANASTRA SUJA que entra na classificação de drama, mas que se mistura à categoria de suspense na medida certa. Por este motivo, na introdução à crítica, a explicação sobre o jogo Canastra, ou seja, o enredo é separado em vários capítulos similar ao movimento deste jogo de cartas, isto é, cada um esconde a sua carta, esta simbolizando um segredo escondido. Muito importante destacar que não existe a melhor ou, a pior interpretação. Todos os personagens têm a sua devida relevância e influência na trama.

Mas como crítico, devo destacar as atuações de Adriana Esteves, Marco Ricca e David Júnior, respectivamente, as personagens Maria, Batista e Tatu. O espectador é enganado logo ao início do filme, ao mostrar uma família muito bem estruturada emocionalmente. Engano! Ao longo de todo o filme, os segredos de cada personagem são expostos ao público, mais uma vez, mostrando as cartas deste jogo.

Adriana Esteves – Maria
Marco Ricca – Batista
David Júnior – Tatu

Acrescentando mais uma característica importantíssima que Caio Sóh implementa neste longa é a linguagem cinematográfica, por intermédio do movimento de câmeras, desenhando, representando o gesto físico das personagens, como por exemplo, um travelling em uma praça, com crianças brincando. Outra amostra sobre o deslocamento de câmera está na descoberta de um dos segredos da personagem Maria, definindo a expressão em seu rosto, impressionante mesmo.

As críticas sociais colocadas em questão no diálogo das personagens merecem todo o destaque. Conversas que revelam o autoritarismo, o machismo, críticas sobre a elite branca e masculina brasileira, não esquecendo, evidente, o discurso homofóbico. Imprescindível salientar a quase onipresença da personagem Tatu, amigo negro do filho mais velho, Pedro. Assistam ao filme e descobrirão o porque.  O Coringa pode ser qualquer uma das personagens.

A trilha sonora é outra qualidade plus neste filme. Toda ela composta por Maria Gadú. Não realizando o famoso spoiler, mas CANASTRA SUJA promete grandes viradas, algumas delas surpreendente. Grande realce e referência à Direção de Produção, liderada por Daniela Rebellov.

No elenco, além de Adriana Esteves (Maria), Marco Ricca (Batista) e David Júnior (Tatu), estão também:

 Bianca Bin (Emília)

Pedro Nercessian (Pedro)

Cacá Ottoni (Rita)

Emílio Orciollo Netto

Milhem Cortaz

Mais uma vez, vejam o filme e se impressionarão!

Wellington Lisboa.

  • Avaliação Final
5
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Wellington Lisboa, nascido no bairro das Laranjeiras (mas não é tricolor), formou-se e por duas vezes em Comunicação Social, nas habilitações de Publicidade & Propaganda e Relações Públicas, pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso - FACHA, após cursar a disciplina 'Comunicação & Cinema', com o Professor Carlos Deane, percebeu que o Cinema poderia se tornar a Sétima Arte em sua vida. O falecido Coordenador do Núcleo Artístico e Cultural (NAC), Heleno Alves, propôs a ideia de criar um coral. Foi quando o nosso crítico e colunista enveredou pelo caminho musical. Criado o Coral da FACHA e, logo depois, rebatizado com o nome de DANOCORO, Wellington Lisboa, construiu uma carreira musical, junto com o grupo, ao longo de quase quinze anos. Após concluir as duas habilitações, ele cursou Letras (Português - Italiano) na UFRJ mas, não terminou. Entitulando-se 'um eterno ser em busca de si mesmo', Wellington Lisboa enveredou pela graduação em Cinema, foi quando (re)descobriu que o Jornalismo caminha junto com esta arte.

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