O filme de Marcos Baldini tem a intenção de ser uma comédia policial, mas acaba não sendo nem uma coisa, e nem outra, por fugir das regras da escrita tanto da comédia, quanto da trama policial. Pode ser que alguém consiga se divertir com as piadas grosseiras ou até a falta total de coerência no universo policial. Mas vale dizer que o filme vai divertir quem não for exigente.

Uma Quase Dupla é quase um filme bom. A parte técnica é bem executada e são os pontos positivos do longa. Uma pena que os dois ingredientes principais se perdem por completo. O roteiro e a direção não funcionam e é isso que faz o filme se perder.

Quando o roteiro não tem uma história coerente, deixa o filme totalmente perdido. Os personagens não têm uma construção coerente e os diálogos não ajudam em nada, causando incômodo ao longo do filme. É inacreditável como as coisas vão acontecendo na trama.  As motivações para os crimes que acontecem em Joinlândia são fracas.

Talvez muitas cabeças criando uma história não tenha funcionado como se esperava. O roteiro é escrito por Leandro Muniz e Ana Weber e tem a colaboração de Daniel Furlan, Tatá Werneck e Fernando Fraiha.

 

O elenco é bom, mas mal aproveitado. Não adianta ter um bom elenco se o diretor não souber tirar o melhor de cada ator e atriz, além de como usar esse melhor. E aqui fica visível a falta de direção do elenco. Parecia na tela que era um exercício de improvisação sem controle. E fica mais difícil ainda para o elenco tentar construir um personagem sem os elementos necessários para dar estrutura ao personagem.  A falta desses elementos também dificulta a vida do diretor no set de filmagens. Como ele vai dirigir o elenco sem informações básicas de estrutura e intenção dos personagens em cada cena?

Assim como o roteiro, a direção também ficou perdida e não soube aproveitar o bom elenco do filme. Talentos como de Cauã Reymond, Augusto Madeira, Gabriel Godoy, Alejandro Claveaux e Louise Cardoso foram desperdiçados, sendo que Alejandro conseguiu tirar leite de pedra. Tatá Werneck não foi dirigida e estava tão perdida que fugia da compreensão tanto quanto personagem, quanto sua fala acelerada que perde o tempo da comédia e faz com que qualquer piada fique perdida, além de atropelar as palavras ditas como se fossem ditas por uma metralhadora.

E um detalhe chamou atenção, o personagem de Augusto Madeira é o André, amigo do policial Cláudio (Cauã Reymond) e por acaso mora perto da casa da detetive Keyla. Em duas únicas cenas. E nos créditos finais está escrito “Vizinho da Keyla. ” Triste isso. Se era para fazer isso poderia ter dado oportunidade para um iniciante, e não desperdiçar o talento de um dos melhores atores da atualidade. Enfim, não é uma crítica negativa e sim um alerta para não criar expectativas no público que não serão atendidas.

Uma pena os roteiristas se perderem nas piadas sem graça, como a detetive lamber vários objetos nas cenas de crime para saber o que aconteceu. Além de causar nojo, os policiais só tocam em qualquer coisa em uma cena de crime com luvas para evitar a contaminação da cena impossibilitando de resolver o caso.

Apesar dos pontos negativos terem bastante peso, o filme tem pontos positivos como a fotografia de Rodrigo Monte, a montagem de Danilo Lemos e a trilha sonora. O figurino caiu no clichê brega para fazer graça com as roupas dos personagens e acabou ficando tudo fora de contexto. A maquiagem também não funcionou bem como deveria, mas os cadáveres estavam mais bem trabalhados que os vivos. Já a detetive, estava sempre muito bem maquiada para a personagem que não ligava para essas coisas e ser muito acelerada para ter tempo de fazer uma maquiagem de beleza tão detalhada.

Para quem gosta de ver Tatá Werneck sendo Tatá Werneck, vai se divertir. Uma pena que ela exagerou na dose e não trouxe a personagem que estava vazia, sem estrutura de construção. Em alguns momentos a atriz parecia estar tentando parecer com a personagem Shannon Mullins interpretada Melissa MCarthy no filme “As Bem Armadas”.

O cinema nacional é extremante competente e tem tudo para continuar crescendo no mercado interno e externo, mas nem sempre as coisas saem como o esperado. Vamos torcer para que o próximo projeto funcione melhor.

 

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