Rave satânica de Gaspar Noé hipnotiza o espectador com muitas cores, dor e sangue.
Climax / França, Bélgica, EUA, 2018. 95 min. / Direção Gaspar Noé / Com: Sofia Boutella, Romain Guillermic, Souheila Yacoub
Um grupo de bailarinos contemporâneos apresenta um ensaio, numa escola abandonada, para uma turnê aos EUA. Após algumas demonstrações, os bailarinos celebram e aproveitam o buffet que inclui um ponche turbinado com drogas lisérgicas. Inspirado num fato real ocorrido nos anos 90, o diretor Gaspar Noé, mais uma vez apresenta um obra sensorial e provocante que aguça a curiosidade e a libido.
“Climax” é a bad trip de Noé que desce mais uma vez aos porões do inferno (como em “Irreversível”) e mostra a transformação de talentosos jovens em animais descontrolados. Aqui a frágil exuberância da cultura serve apenas de moldura para a energética ferocidade de corpos alterados, como na sequência inicial onde uma Tv, apoiada por fitas VHS de filmes clássicos como “Suspiria”, “120 dias de Sodoma” e “Cão Andaluz” e livros filosóficos, exibe os sonhos, aspirações e anseios de imigrantes ávidos por uma nova oportunidade. A subversão de Noé é melancolicamente dolorosa e atual e não deve ser julgado apenas pelas sequências desta trip coletiva e violenta.
Há uma dose de cinismo crítico onde o diretor levanta interessantes questões sobre a inclusão migratória que a França tanto se orgulha. O que fazer quando há uma ruptura nos padrões sociais e psicológicos destes indivíduos? Noé sugere que há um enorme abismo entre pensamentos e comportamentos de diferentes nacionalidades e culturas tornando a convivência insuportável. A pista e a tela transformam-se então, numa arena de sangue, dor e cores revelando a violenta face do ser humano. O espectador fica dopado com a adrenalina imagética tornando-se um convidado indesejado deste êxtase lisérgico.
No elenco, quase todo formado por bailarinos profissionais destaca-se a presença de Sofia Boutella, desperdiçada em produções como “A Múmia” e “Star Trek Sem Fronteiras” e que aqui tem a oportunidade de mostrar sua habilidade artística e plena forma física.
“Climax” não é entretenimento fácil e entra para a galeria das obras de Noé como um delírio satânico onde o espectador pode (ou não) se arrepender ter embarcado.