Cadê Você, Bernadette? (Where’d You Go, Bernadette?, no original) é um filme baseado em uma obra literária homônima lançada em 2012. A história aborda a vida de Bernadette Fox (Cate Blanchett) e todos as suas frustrações e problemas acerca da vida profissional e a fobia de estar inserida em locais com muitas pessoas. Uma base de fácil identificação, visto que muitos passam por isso.

A ansiedade é um ponto chave que move a trama, que circula em torno principalmente da família formada pela protagonista, o marido Elgie (Billy Crudup) e a filha Bee (Emma Nelson), que por sinal é um grande acerto do filme. A jovem atriz brilha em cada cena, o que enriquece a projeção e não deixa tudo dependente da personagem principal. A relação de mãe e filha é um grande pilar do filme, que demonstra esta força ao longo da obra, explicando assim todo o contexto durante o crescimento de Bee.

Bernadette Fox apresenta grandes dificuldades para se relacionar com terceiros e isso fica explícito sem que haja a necessidade da mesma verbalizar isso. Alguns recursos tecnológicos substituem a interação humana, trazendo assim um maior conforto a Fox e fazendo com que ela fique quase completamente afastada de outras pessoas, excetuando sua família.

Apesar de apresentar claros e graves problemas relacionados a ansiedade, o filme tem um tom leve e divertido. A atuação de Cate Blanchett e seu sarcasmo dão um ótimo toque e cativam o público. A narrativa demonstra situações mundanas, triviais e toda a problemática envolvida dentro da cabeça de Bernadette. O desejo dela de sempre fugir é um flerte e um anúncio do que pode vir a ocorrer em uma situação mais crítica.

Para o público conhecer mais Bernadette, a obra recorre a métodos expositivos através de, por exemplo, vídeos acessados pela própria personagem, o que por um momento quebra o ritmo da narrativa, muito por conta de sua longa duração. É uma estratégia válida, mas que poderia ser melhor trabalhada. No livro, este recurso também é acessado e muitas informações da protagonista passam a ser conhecidas por meio de e-mails, artigos de revistas, etc. Na tela grande, no audiovisual, não deu tão certo. É o ponto fraco da obra cinematográfica. Outra questão é o CGI, que falha nas poucas vezes em que é necessário. Quando os personagens estão na Antártida, o cenário ao redor não parece que é real, o que causa um rápido estranhamento.

Em torno de Bernadette, além da família, há adições interessantes e funcionam, como Audrey (Kristen Wiig). A relação estabelecida entre as duas é boa e todos os momentos de tela das duas juntas são bons, principalmente no terço final da obra. Kristen Wiig tem uma relação forte com a comédia, o que torna boa parte de seus momentos engraçados, e também consegue explorar bem uma maior seriedade quando há necessidade. Suas participações em Cadê Você, Bernadette? são cirúrgicas e fazem parte da composição da personagem principal.

Ao longo do filme, algumas subtramas crescem. Entre elas, a relação entre Bee e o pai. No início, alguns sinais de que há algo de errado até chegar ao clímax e o conflito. Emma Nelson brilha e traz uma carga emocional que soma muito. Isso também dá um tempo de descanso ao arco de Bernadette e não desgasta a protagonista, que pode ficar alguns minutos fora da tela sem que a qualidade da obra caia. Dito isso, a parceria e amor incondicional entre Bee e a sua mãe poderia ser melhor desenvolvida, ao invés de ter um grande foco apenas nos 30 minutos finais. Ainda assim, as duas atrizes conseguem segurar as pontas e exploram uma forte carga emocional.

A questão da ansiedade se faz presente desde os primeiros minutos de projeção e aparece em diversos momentos ao longo do filme, até o público poder ver até que ponto ela pode ser prejudicial e quais recursos a personagem principal opta por recorrer para lidar com ela. Além disso, o espectador conhece aos poucos alguns dos principais motivos para que Bernadette tenha esse distúrbio mental. É algo gradual, sem pressa, o que funciona muito bem.

Cadê Você Bernadette? não precisa de um grande clímax de fazer o público ficar impressionado. Sua narrativa é linear, fluída e que diverte devido a sua simplicidade mesmo lidando com um tema sério e complexo. O tom da obra cinematográfica agrada e, mesmo contando com alguns problemas, é agradável de acompanhar.

 

 

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