Ode ao Maracatu Rural

 

Azougue Nazaré. O filme conta a história de alguns acontecimentos estranhos na cidade de Nazaré da Mata, município de Pernambuco. No início, closes misteriosos em mãos, que parecem trabalhar, contudo, que tipo de trabalho é esse? A montagem de som cria uma atmosfera de suspense e aflição. Em outra cena, no chuveiro, Darlene (Joana Gatis) acaricia a barriga enquanto canta um louvor, de repente, corte para a igreja, o pastor (Mestre Barachinha) e seu rebanho. Ao longo do filme vamos entendendo melhor a importância dessas tomadas.

 

A cinematografia se faz presente com esmero em filme que passa por um conjunto de temas aparentemente contrastantes como religião e carnaval. Valmir do Côco faz o personagem Catita, um dos mais carismáticos do longa-metragem. Duelos de rimas, tanto ao vivo quanto por redes sociais. É o maracatu rural se adaptando aos novos tempos. Além disso, vemos provocações, relações familiares conflitantes, infidelidade, cobiça, magia, folclore, tradição, arrependimentos. Ufa! Tudo isso é possível de se ver nesse movimentado filme. Bom dia, Nazaré, essa cidade do interior cheia de eletricidade.

 

Do banco de trás do carro, uma cena de sexo e um crucifixo pendendo no retrovisor. O tempo todo vemos essa provocação entre fé e pecado. Temos um chaveiro que mal sabe fazer uma chave. Aparentemente, não faz nada direito, e acaba por ganhar algumas “recompensas” por isso. Cambinda, chegou a hora de conhecer mais sobre a cultura do maracatu, as paixões e os ódios que provoca. No cruzeiro das brigas, a tempestade se avizinha. O sobrenatural rodeia a estória do filme. Certa cena mostra como a bíblia pode servir para interesses pessoais e enganação do próximo a partir do direcionamento da interpretação.

 

O elenco conta com mais de sessenta integrantes do Grupo de Maracatu, temperando a narrativa do filme ao acompanhar personagens fictícios misturados em questões contemporâneas conversando com a realidade – e a surrealidade. “E eu vim bater mão ao cangaço / E cantar sem cansaço”, diz uma letra. Maracatu Cambinda Brasileira existe desde 1918 e esse filme é uma ode a ele. É o mais antigo grupo de maracatu em atividade. O filme dirigido com boa dose de ousadia por Tiago Melo e com direção de arte caprichada de Ananias de Caldas louva esse maracatu e a cultura pernambucana. A trilha sonora é sangue nordestino correndo com vontade.

 

Aliás, não é por acaso que o longa percorreu dezenas de festivais no Brasil e no mundo, e recebeu mais de quinze prêmios. Entre eles, o Bright Future Award, no Festival Internacional de Roterdã, Melhor Direção no BAFICI 2018, Menção Honrosa no Lima Independiente Film Festival 2018, Prêmio da Crítica no Festival de Toulouse, Prêmio Especial do Júri, Melhor Ator e Melhor Montagem no Festival do Rio 2018. No 13º Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro, levou Melhor Filme – Júri Oficial, Melhor Filme – ABRACCINE, Melhor Filme – Júri Popular, Melhor Roteiro, Melhor Direção e Melhor Fotografia.

 

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