Os Sonhos que Não Funcionam em Dente Por Dente

Ao assistir ao thriller de suspense “Dente por Dente”, dirigido por Pedro Arantes e Júlio Taubkin, a primeira coisa que notamos é um problema que parece começar a ser rotineiro no cinema nacional: atores de grande fama ganham enorme destaque nos trailers e cartazes, porém fazem participações minúsculas nos filmes, de poucos minutos de duração. No caso de “Dente por Dente”, Paolla Oliveira e Renata Sorrah dividem o cartaz com o protagonista Juliano Cazarré; porém as participações das duas atrizes somadas não devem chegar a 15 minutos da trama. Esse recurso de divulgação já havia sido utilizado no filme “A Vida Invisível” com a atriz Fernanda Montenegro.

 

O filme conta a história de Ademar (Juliano Cazarré), associado de uma empresa de segurança particular que presta serviços para construtoras da cidade de São Paulo, e que começa a investigar o desaparecimento de seu sócio, Teixeira (Paulo Tiefenthaler). Enquanto investiga, Ademar sofre de insônia ao mesmo tempo em que tem sonhos acordado, sonhos esses que são premonitórios. A princípio o protagonista não consegue compreender o que está acontecendo – seus sonhos deixam apenas lapsos, com pessoas e lugares que ele ainda não conhece, mas que irá conhecer em muito breve. Ele começa a entender que se tratam de visões do futuro quando nota que sempre que alguém perde algum dente em seus sonhos, logo depois a mesma pessoa perde os dentes também na vida real. A investigação de Ademar o leva até o movimento dos sem-teto em São Paulo, tentando fazer do filme uma crítica social à ocupação urbana com leves toques de “Donnie Darko” (filme de 2001 dirigido por Richard Kelly).

 

“Dente por Dente” se apoia na introspecção do protagonista para criar uma atmosfera de suspense psicológico. Ademar passa a maior parte do tempo sozinho, perdido entre sonho e realidade, e se apoiando no recurso de narração em off. Nesse sentido os diretores se equivocaram na escalação do ator principal, que entrega pouco do que o texto pede. Nas muitas visões em que o personagem vê seus dentes sendo arrancados, por exemplo, o ator não transmite o desespero necessário às cenas. Além disso ele utiliza a mesma expressão facial durante todo o filme, em qualquer tipo de situação.

 

A narração em off incomoda em todos os momentos em que ela se apresenta. Inicialmente pela escolha do efeito sonoro que a acompanha, que tenta deixar a voz como se viesse de um vácuo . Esse efeito acaba dificultando o entendimento das falas (essa dificuldade só ocorre nesses momentos pois o trabalho de captação e edição de som do restante do filme é muito bem realizado). Existe também o problema de o texto usado na narração em off buscar confundir ainda mais o espectador, através do uso de frases de oposição, tais como “o que desaparece sempre volta” ou “o passado é o futuro”. Os diretores tentam emular o recurso utilizado no filme “Donnie Darko”, porém sem oferecer qualquer contexto acerca do motivo pelo qual o personagem está tendo essas visões e sofrendo esses efeitos de déjà-vu.

 

A trilha sonora funciona muito bem e acentua o clima psicológico que os diretores queriam para o filme. Aliás, toda a parte técnica funciona muito bem.

 

A ideia desenvolvida no roteiro de Arthur Warren e Michel Laub é bem interessante, e apresenta uma trama que poderia ser mais bem explorada se o público tivesse mais elementos para entender o que está acontecendo com o protagonista e seus sonhos premonitórios. Não precisaria ser algo mastigado, mas seria interessante a inserção de elementos que dessem pistas ao espectador sobre os motivos pelos quais Ademar começou a sofrer disso. Sem sequer apresentar um efeito catalisador, o filme deixa muitas pontas soltas. E apostar em uma narração em off com frases desconexas para elucidar a trama não foi uma boa solução.

 

Nota: 2,0 estrelas

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