Clint Eastwood me surpreendeu ao desistir da aposentadoria de ator anunciada em 2018 ao lançar o filme “A Mula”. Clint não só atua, mas como dirige e aos 91 anos está muito bem com seu jeitão clássico de caubói, só que desta vez, sem tantas cenas de luta. As cenas de luta, ele manda muito bem mesmo sendo mais comedido. O roteirista Nick Schenk ainda colocou o personagem Mike como um charme para mulheres, já que duas mulheres em sua jornada se interessam por ele.

A história não tem nada de novo, mas é um bom entretenimento. A trama gira em torno de Mike Milo um ex-campeão de rodeo que após um acidente ficou fora dos rodeos e passou a criar cavalos. Como um homem do campo tem jeito com animais. Seu antigo chefe, Howard Polk, o demite e um ano depois pede a ele que vá resgatar seu único filho, Rafael, das garras da mãe que permite que o filho sofra abusos.  Só que eles moram no México e Howard não pode atravessar a fronteira dos Estados Unidos com o México. O melhor do filme é a jornada do senhor determinado em cumprir sua missão e o garoto de 13 anos que não confia em ninguém e o medo que sente em morar a com a mãe.

Para manter a jornada dos dois novos amigos, Clint e o ator Eduardo Minett parecem se dar bem. Não temos grandes atuações, mas para esse filme não precisa de nada grandioso, o simples é melhor. Já vimos muitos filmes com essa temática da jornada onde um adulto que precisa resgatar ou simplesmente, levar uma ou mais crianças para algum lugar e criam vínculo durante a jornada. O drama de Rafo mexe com o emocional de qualquer um. E quem é Macho?  Macho é o galo de briga de Rafo. Um personagem carismático.

É interessante ver Mike quebrar um pouco dessa filosofia do “Macho”. Em uma cena ele diz para Rafo: “Não use essa expressão nos Estados Unidos, não é bem-visto”. Com um toque de bom humor e leveza, ele retoma sua carreira de ator com essa desconstrução da imagem clássica do caubói durão. Nunca é tarde para inovar e mudar a forma de fazer e encarar as coisas.

Como habitual em filmes do diretor Clint Eastwood, podemos ver belas tomadas de estrada. A montagem mantém um ritmo menos acelerado sem perder a diversão. Uma grande sacada da dupla David S. Cox e Joel Cox para dar continuidade a obra de Clint Eastwood sem perder a essência. É claro que aos 91 anos, não teremos muitas cenas de luta, mas é gratificante ver um senhor de 91 anos ganhando de um jovem que tem um terço da idade dele para defender um menino que sofria de abusos por esse vilão. Joel Cox já trabalhou com Clint Eastwood em Os Imperdoáveis (1992) filme que rendeu o Oscar de Melhor Montagem de 1983, além de quase 30 filmes.

A trilha sonora de  Mark Mancina trabalha bem o clima texano e mexicano do filme com destaque a canção: “Sabor A Mi” que deixou a cena da dança de Mike e Martha mais memorável.

Um dos pontos mais interessantes do filme é pensar na história do menino Rafo de 13 anos. Pior é quando nos damos conta de quantos Rafos existem por ai. Rafo tem que criar um mecanismo de autodefesa dos maus tratos e do ambiente insalubre que sua mãe proporciona. Mike ao cumprir a missão de resgatar o menino da mãe a pedido do pai, ele cria vínculo com Rafo e ensina ao menino outros valores do que é ser homem e responsável. O pai de Rafo, um texano rico assim como a mãe mexicana, Howard Polk, também não é uma pessoa muito boa.

O que mais vale no filme é a jornada de Mike e Rafo. Isso torna o filme mais interessante e não sentimos o tempo passar. E em uma jornada não só Rafo cresce como pessoa, mas Mike também encontra redenção para sua amargura e descobre uma vida mais leve e mais feliz da que levava antes dessa jornada.

Embarque nessa viagem com Clint Eastwood que é muito bem-vindo de volta ao mundo da atuação. Não diga mais que vai se aposentar, sua alma só fica feliz quando você faz o que ama. É bem-vindo também para nos trazer mais filmes, seja dirigindo ou atuando.

Rota Suicida (1977), Bronco Billy (1980), Honkytonk Man – A Última Canção (1982), Impacto Fulminante (1983), Um Agente na Corda Bamba (1984), Cavaleiro Solitário (1985), Destemido Senhor da Guerra (1986), Bird (1988) Coração de Caçador (1990), Os Imperdoáveis (1992) filme que rendeu o Oscar de Melhor Montagem de 1983, As Pontes de Madison (1995), Poder Absoluto (1997), Meia Noite no Jardim do Bem e do Mal (1997), Cowboys do Espaço (2000), Dívida de Sangue (2002), Sobre Meninos e Lobos (2003), Menina de Ouro (2004), A Conquista da Honra (2006), Cartas Para Iwo Jima(2006), A Troca (2008), Grand Torino (2008),  Invictus (2009), Além da Vida (2010), J.Edgar (2011), Jersey Boys: Em Busca da Música (2014), Sniper Americano (2014), A Mula (2018) e agora Cry Macho (2021).

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