Em “Uma Noite em Haifa”, o diretor israelense Amos Gitai cria um microcosmo da relação contemporânea entre árabes e judeus em um bar/galeria situado na região do porto da cidade de Haifa (norte de Israel) durante uma única noite. Com essa premissa, ele foca seu olhar nas mulheres presentes no local e nos apresenta suas histórias e dilemas. Laila é uma galerista de arte casada com um homem mais velho e rico, e que tem um caso com Gil, um fotógrafo judeu crítico do governo israelense e cínico em suas relações. Sua irmã Naama, que veio à galeria prestigiar sua exposição, tem a mente aberta e tenta conversar com os palestinos presentes no local, mas não é bem recebida por eles. Khawla trabalha na cozinha do bar com seu marido, com quem tem um relacionamento mal resolvido. E Roberta é uma artista renomada na América, que quer levar tanto Laila quanto Gil para trabalhar no exterior, mas cada um deles tem questões próprias que dificultam essa saída do país.

 

As histórias desses personagens são contadas de maneira breve, simulando uma noite de bar típica, na qual as pessoas vêm e vão e as situações vão se desenrolando. O diretor usa essas histórias para traçar um panorama da pluralidade da sociedade atual de Haifa. Essas cenas são entrecortadas em alguns momentos, seja pela passagem de um trem de carga que passa bem ao lado do bar, seja para mostrar brevemente outros frequentadores presentes, tal qual o casal gay discutindo a relação, ou a senhora viúva que marcou um encontro às escuras com um jovem rapper. Esses frequentadores secundários logo se perdem em meio à multidão dançante no estabelecimento. Porém esses pequenos contos interrompidos acabam sendo os que mais chamam a atenção, talvez porque nos deixem com vontade de saber como aquelas histórias terminam.

 

A questão política que envolve árabes e judeus é apresentada neste filme em nuances, sutilmente, em pequenos diálogos entre os personagens. Gitai não explicita esse conflito e, como são diversas as histórias que estão sendo contadas no longa, é possível nos dispersarmos nas reais intenções dos personagens e de seus relacionamentos.

 

Essa dispersão é um dos problemas do longa: parece não haver uma trama central a ser resolvida e isso nos dá a sensação de que a película pode acabar a qualquer momento, sem que o espectador lamente ou sinta falta de algo. Ao final do filme, fica a impressão de que gostaríamos de ver um pouco mais das histórias dos frequentadores secundários, que fizeram uma ponta, ao invés de acompanharmos os personagens principais.

 

Nota: 3,0 estrelas

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