Os Farofeiros / Brasil, 2018. 103 min. / Direção: Roberto Santucci /Com: Antônio Fragoso, Cacau Protásio, Danielle Winits, Théo Medon

 

Do mesmo diretor de “Até que a Sorte nos Separe”, “De Pernas Pro Ar” e “Um Suburbano Sortudo”, surge mais um título que prometia coroar a ostentação bagaceira de um gênero que o cinema nacional vem reprisando insistentemente. A comédia “Os Farofeiros” é apresentada como o prato principal de um buffet trivial para uma platéia consumista e nada exigente que se farta com toneladas de clichês e estereótipos sem nenhum tempero. O título, por si só, enche a boca de saliva e o elenco, liderado por Maurício Manfrine (vulgo Paulinho Gogó), Cacau Protásio e Danielle Winits apenas repetem os personagens que estão acostumados a fazer na TV.

Mas, assim como o futebol, cinema é também uma caixinha de surpresas e Roberto Santucci acaba entregando uma das melhores comédias nacionais dos últimos tempos. Na trama, quatro casais, colegas de trabalho, alugam uma enorme casa na Região dos Lagos para o feriado de fim de ano. As coisas não saem como o planejado tornando o fim de semana em um verdadeiro teste de convivência repleto de imprevistos e desacordos.

Graças ao roteiro escrito por Paulo Cursino, “Os Farofeiros” ganha ares de Pablo Trapero no filme argentino “A Família Rodante” e faz uma profunda radiografia das transformações que a sociedade brasileira, em especial a carioca e fluminense, vem apresentando nestes últimos anos. A espetacular casa em Búzios com piscina, quadra de tênis e muito bem equipada na verdade é um lugar caindo aos pedaços, localizado em um lugar desconhecido e longe de tudo, fazendo uma bem humorada analogia com as promessas mentirosas dos políticos em período eleitoral.

Os três casais principais representam diferentes níveis da classe média brasileira (através dos bairros cariocas da Barra, Tijuca e Méier), aquela que mais sofreu nas mãos do fracassado governo populista que nada produziu de concreto. A trama fala desta falência social e econômica com piadas que discutem o desemprego, medo das demissões, consumismo, aparências, machismo, o papel da mulher na sociedade, saúde pública (a sequência animada entre os mosquitos é hilária) até as construções familiares.

Outra grande sacada são as citações e referências a filmes como “Apocalipse Now”, “Poltergeist” e “O Chamado” e apesar da regência narrativa de Santucci ser muito limitada e repleta de cacoetes cênicos (como a enorme quantidade de fades entre as cenas), o ágil argumento consegue extrapolar a mediocridade cênica assumindo com muita propriedade sua identidade trash, incluindo uma sequência metalingüística dentro de um cinema onde a boca de cena é quebrada, resultando num exercício de cognição palco/platéia, caso raro em se tratando do gênero.

A platéia é convidada a participar desta mal fadada viagem e se divertir com os reveses destes brasileiros cuja exagerada caricatura aciona a identificação primária transformando o filme em um diálogo aberto e saudável entre a triste realidade e a sarcástica ficção.

         

 

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