O filme de Rodrigo Bittencourt fala sobre os bastidores da criação do Plano Real. O caminho encontrado para falar sobre essa história foi acertado e o roteiro é um dos pontos fortes do filme. As opções feitas para contar a história e os diálogos bem elaborados nos mostram de forma inteligente os bastidores de como o plano real surgiu até ser implementado. É claro que tem muito mais história depois disso, mas a proposta aqui é contar como ele surgiu.

Nessa proposta algumas máscaras caem como por exemplo, quem é o pai do Plano Real?

Um ponto muito positivo do roteiro é tratar o público com respeito e inteligência. Durante as reuniões de elaboração do Plano Real, os economistas falavam o bom e velho economês. Isso foi importante para mostrar de forma realista esse processo e de como era difícil entender o que era e como funcionava esse plano não sendo economista. Até o próprio governo tinha dificuldade para entender, então precisava de um tradutor do plano. O diplomata Rubens Ricupero recebeu a missão de decodificar o economês e explicar o plano para a população e os membros do governo. E melhor, o público entende tudo sem precisar ser Tatibitate como vemos muito em diversos filmes. A coragem do roteirista Mikael Alburqueque é admirável e vamos torcer para servir de modelo para outros roteiristas tenham a mesma coragem em acreditar mais no seu público e na capacidade de seu elenco em saber transmitir a mensagem. Os diálogos são ótimos! Muito bem escritos e temos momentos em que ele entra em cena para dar a força necessária. Como uma discussão entre Gustavo Franco e um amigo de infância, Marcelo, vivido por Kleber Toledo sobre pontos de vistas divergentes. A cena ficou muito atual, e aconteceu em 1993. Outra boa cena com diálogos é uma cena entre o Presidente Itamar Franco bem interpretado e caracterizado por Benvindo Siqueira e o Ministro Rubens Ricupero interpretado por Ricardo Kosovski.

 

O elenco está ótimo com destaques para as atuações de Emílio Orciollo Neto, Benvindo Siqueira, Juliano Cazarré, Arthur Kohl e Mariana Lima.

Emílio Orciollo Neto está intenso como Gustavo Franco, esse homem com uma visão distorcida do mundo, egocêntrico e antipático com as pessoas em geral. Uma de suas melhores atuações no cinema.

Benvindo Siqueira está ótimo como Itamar Franco, tanto em caracterização como em reproduzir o Presidente da República na tela.

Juliano Cazarré interpreta Gonçalves um líder do PT e também ficou muito bem representado.

Apesar de José Serra, que na época era Deputado Federal, não ter gostado de sua aparição no filme, um dos maiores destaques em termos de representar uma figura real na tela, foi o ator Arthur Kohl quem praticamente vira uma cópia cômica de Serra. A voz ficou impressionantemente igual.

As mulheres também tiveram papeis importantes na história. A começar pela firmeza repórter interpretada por Cássia Kiss que não interpreta uma jornalista específica, e sim, várias delas.  Paola Oliveira faz a esposa de Gustavo Franco. Ela imprime na personagem uma doçura, e mesmo sendo uma mulher forte, Gustavo não a vê dessa maneira e considera alguém para atender as pretensões políticas dele. Ele usa o amor que Renata tem por ele para manipulá-la. Mas é Mariana Lima quem faz uma de suas melhores atuações no cinema como Denise, braço direito de Gustavo Franco.  Ela tem boas cenas com ele.

O grupo dos economistas está muito bem e não fácil interpretar um economista desses que tem um entendimento particular do economês, sem ser economista de verdade. Pedro Malan ganha vida na tela por conta do bom trabalho de Tato Gabus Mendes. O maior rival de Franco é Pérsio Arida vivido por Guilherme Weber que está bem mostrando o contraste e a rivalidade entre eles.

Uma boa história e um bom elenco merecem um trabalho técnico à altura. A montagem foi eficiente e imprimiu um bom ritmo que prende atenção nos 95 minutos do filme. A trilha sonora é a cereja do bolo e nos leva a entrar no período que a história aconteceu clareando as informações de uns e a memória de outros. Efeitos visuais e maquiagem e cabelo merecem aplausos por entender a proposta do roteiro e da direção e fizeram um ótimo acabamento ao longa. Assim também como a fotografia que foi acertada para representar a época em que se passa essa história.

Apesar dos acertos, o filme também falhas, pequenas que não interferem ou alteram o resultado final. Como ter escalado um ator para interpretar um político do PSDB com a fisionomia do Lula de hoje, o que pode confundir um pouco o público. Vale lembrar que o visual de Luiz Inácio Lula da Silva na época era diferente. E o trailer não vende bem o que é realmente o filme, e faz parecer de que se trata de um filme de ação, e não é.  Fora isso, o filme funciona muito bem.

No fim das contas, “Real – O Plano por Trás da História” é um dos melhores filmes do ano. É uma sinfonia cinematográfica, onde o maestro soube aproveitar o melhor de cada integrante de sua equipe.

 

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