A tradução correta para o termo “Feud” é rixa ou discórdia e foi através deste tema que o produtor/diretor/roteirista Ryan Murphy (o criador das séries “American Horror Story” e “Glee”) apresenta sua mais nova empreitada.

A primeira temporada intitulada “Bette and Joan”, estreou pelo canal FX em 5 de março de 2017 e é baseada em um roteiro de longa-metragem chamado “Best Actress” de Jaffe Cohen e Michael Zam. A série é inspirada na rivalidade entre dois grandes mitos de Hollywood, Joan Crawford e Bette Davis e explora questões que vão além da disputa de egos entre duas divas da maior indústria de cinema do mundo. Sexismo, alcoolismo, machismo, misoginia, indústria da fofoca, impotência dos artistas frente aos estúdios e o desmoronamento de ilusões são temas que tornam esta série um produto de nosso tempo. Além de ser um deleite para cinéfilos, principalmente para os fãs das atrizes, “Feud” faz uma sutil (e cruel) crítica às exigências da indústria do entretenimento que trata os artistas não como seres humanos e sim como indivíduos sem domínio próprio à mercê da demanda de um público consumista.

A série tem início em um período bastante delicado para as duas estrelas quando o desemprego e o envelhecimento pôe à prova a capacidade de resistir a este tipo de pressão, mostrando a pré-produção de “O Que Aconteceu com Baby Jane” (1962), peça fundamental de toda a série.

Cada capítulo reforça os dois lados da disputa com destaque especial para o 5º episódio (And the Winner Is… The Oscars of 1963), quando Joan Crawford engendra uma campanha clandestina por não ter sido indicada ao Oscar de melhor atriz no lugar de Bette Davis mostrando como o desespero e o sofrimento encubado explodem numa farsa amarga e degradante . Aqui Ryan Murphy faz questão de assumir a direção oferecendo uma das melhores realizações feitas para a televisão norte americana com uma espetacular abertura e um plano sequência (sem cortes) onde Joan/Jessica desfila pelos bastidores da premiação como uma rainha em pleno domínio de seu território.

A série termina com um melancólico e doloroso epílogo intitulado “You mean all this time we could have been friend?”, com a morte de Joan Crawford em 1977 praticamente abandonada em um apartamento em Nova York e o completo desaparecimento de uma era de glamour e magnetismo, rendendo uma bela homenagem à imagem da atriz, arranhada pelo livro-vingança “Mommie Dearest” (transformado em filme em 1981 com Faye Dunaway), escrito pela filha adotiva Christina Crawford.

Vale ressaltar o magistral trabalho de caracterização de Jessica Lange (como Joan) e Susan Sarandon (como Bette) que se concentraram nas características marcantes de seus personagens evitando a simples e grotesca imitação. Certamente Sarandon e Lange encabeçarão indicações às premiações do próximo ano, assim como o excelente elenco de apoio que conta com Alfred Molina, Stanley Tucci, Judy Davis e Jackie Hoffman. 

Além de retratar a rivalidade entre as famosas atrizes, a série tem qualidades que extrapolam uma simples narrativa. Ela mostra como o sucesso, a fama, a beleza e a juventude são efêmeros e até as grandes divas do cinema são seres humanos que sentem falta de afeto, atenção e carinho. Uma belo recado para aqueles que almejam o sucesso mesmo que seja transitório.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui