Crítica: Casal Improvável

Casal Improvável (Long Shot) / Eua, 2019. 125 min. / Direção: Jonatham Levine / Com: Charlize Theron, Seth Rogen, June Diane Raphael, Andy Serkis, Ravi Patel, Alexander Skarsgard.

Quem nunca se identificou com uma comédia romântica? Desde os anos 30, quando Carole Lombard fazia a platéia suspirar nos braços de Clark Gable passando pelos anos 90 quando Julia Roberts conquistava Richard Gere com seu largo sorrisão, Hollywood sempre soube que os fãs deste gênero queriam rir, chorar e torcer pelos personagens enfrentando situações repletas de clichês, mas que tinham algo em comum com suas histórias pessoais ou maneira de ver o mundo.

Eis que chegamos ao século 21 e o gênero continua firme e forte, como demonstra “Casal Improvável” (Long Shot) dirigido pelo diretor Joseph Levine (expert em comédias fáceis e ligeiras como: “Meu Namorado é um Zumbi” de 2013 e ”Viagem das Loucas” de 2017). Na trama, a estonteante Charlize Theron é Charlotte Field, primeira ministra norte americana, uma das mulheres mais poderosas do mundo que contrata o amigo de infância Fred Flarsky (Seth Rogen), um jornalista desempregado, para escrever seus discursos para a corrida presidencial. Ao longo da trama, o casal apesar das grandes diferenças, descobre que tem muito em comum.

O que temos aqui é uma reciclagem nos moldes das antigas comédias com um toque atualizado e contextualizado. É a velha fórmula onde o rapaz conquista a garota, o rapaz perde a garota para depois conquistá-la definitivamente sob o manto do movimento Time’s Up, onde as mulheres é que ditam as regras e cabe ao homem conquistá-las sem recorrer ao assédio freqüente ou as baixarias machistas.

Charlotte Field é culta, bonita, refinada, resolvida e independente representando o verdadeiro empoderamento feminino enquanto Fred Flarsky se veste mal, é inseguro, barulhento, usuário de junk food e adorador de cultura pop, ou seja, um consumidor típicamente nerd. Seu melhor amigo é Lance, um afro descendente que lhe dá as dicas para se aproximar da garota de seus sonhos formando deste jeito um tripé dos representantes de algumas minorias ativas e militantes. Há ainda a dupla de assessores de imagem formada por um indiano (Ravi Patel) e uma executiva invejosa e esnobe (June Diane Raphael) que estão ali apenas para dar suporte à dupla principal.

“Casal Improvável” (Long Shot) atinge seu clímax na hilária seqüência onde Charlotte é chamada para resolver um impasse terrorista sob os efeitos de drogas após uma farra noturna, mas perde pontos em não aproveitar todo o potencial cômico das situações apresentadas. Com excessivas 2 horas de projeção, este conto romântico acerta pela escolha de uma representatividade muito atual no cinema popular, embora não consiga esconder seu flerte com a tradicional comédia romântica.

Mas a melhor questão proposta por este filme é a seguinte: como um mulherão como Charlize se apaixona por um nerd ruivo bobo, barbudo e balofo como Seth? Será esta a proposta do novo milênio onde as mulheres estão cansadas do modelo do homem sério, responsável e poderoso? Sinal dos tempos.