O Vento Muda
divulgação: TMZ

“Depois da tempestade, sempre vem a bonança”, diz o provérbio. Nem sempre. Esse filme chamado de “O Vento Muda” (With the Wind) começa com uma chuva forte, que parece prenúncio do amor. Mãos que jazem romanticamente umas sobre as outras. Aliás, é louvável a delicadeza da diretora Bettina Oberli com um olhar para as peculiaridades. A cineasta leva o filme de uma forma extremamente bonita com cenas que dizem muito. Os planos-detalhes são esmerados e precisos para entregar para o espectador o que é preciso, através de toques. Tudo se passa numa fazenda isolada em uma região remota do Cantão do Jura, onde Pauline e Alex estão transformando em realidade seu sonho de viver em harmonia com a natureza.

Vamos percebendo aos poucos o que vai acontecer. Somos Galina (Anastasia Shevtsova), a menina russa de Chernobyl, que chega do mundo urbano para passar um tempo naquela fazenda, um tedioso sonho na natureza para se curar. O plano aberto que mostra Galina num canto e a casa de campo no outro, enquanto ela busca sinal do celular, é extremamente eficiente para marcar a discrepância. Somos como ela, alguém chegando e começando a entender a rotina daquele local, conhecendo um casal unido num objetivo.

Solução Eólica

Porém, a ideia de uma torre de energia eólica vai trazer novos ventos. E o vento muda rumos. Afasta, aproxima. Um toque sutil num ombro fala mais do que um olhar, planta uma semente. A cena na densa neblina é um divisor de águas. Lindamente tensa de várias maneiras, o perigo ronda naquele momento. Um nervosismo quase gostoso em busca de um porto seguro. Apesar de que aqui não há busca por segurança. Mas há uma procura por uma fagulha de vida.

O elenco consegue passar tudo que precisamos. Nuno Lopes como Samuel Nieves, Mélanie Thierry como Pauline e Pierre Deladonchamps como Alex apresentam uma interação que fornece faíscas. E você sabe bem o que acontece quando o vento sopra algumas fagulhas, né?

“Desculpe pela bagunça”, diz um personagem em certo momento. A frase tem tantos significados. Com 25 minutos, quando vem a cena da neblina que citei anteriormente, parecia que já havia passado mais tempo. Sentia como se o filme fosse mais longo do que é. Contudo, isso não era ruim. Há tantas cenas em que a cineasta deixa claro como o vento já mudou, mas sem soprar na sua cara. O lado da mesa para o qual você pende, demonstra sua escolha. As alegorias do final, essas sim, gritam. O vento mudou, não tem jeito.

Por fim, o recado que esse vento traz – a essência do vento – está em uma palavra: liberdade.

*O Cinema Para Sempre recebeu o convite para ver antes alguns dos principais filmes do Panorama Digital do Cinema Suíço que chega à sua 8ª edição, a primeira online. O indicado para a missão foi o jornalista cultural Alvaro Tallarico. O evento acontece de 27 de agosto a 6 de setembro e busca aproximar brasileiros da produção cinematográfica suíça. Os filmes serão exibidos gratuitamente na plataforma Sesc Digital. O festival é uma realização do Consulado da Suíça em São Paulo e do Sesc São Paulo, em parceria com a agência de cinema Swiss Films. 

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