A Disney resolveu seguir em frente com esse projeto de live action de clássicos da casa. Alguns deram certo, outros não. Cruella é um filme que tem seus pontos positivos e negativos, mas na soma dos pontos, ela passa.

Os pontos positivos estão em diversas etapas do filme, a escolha do elenco foi muito certeira. Emma Stone se apropriou da personagem e parecia ter tido um workshop com Glen Close,a eterna Cruela DeVille, que interpretou a personagem nos filmes filmes “Os 101 Dálmatas” e “102 Dálmatas”. Ela pegou o jeito e os trejeitos da personagem, até a forma de dirigir ficou igual à Cruella da animação clássica de 1961.

Outro acerto foi Emma Thompson como a Baronesa que chegou impecável e com muito da Cruela. A maldade, a soberba, o desprezo pelos outros, a imponência e arrogância estavam presentes na personalidade da Baroneesa somados a uma elegância impecável.

A pequena  Tipper Seifert-Cleveland chegou com muita propriedade dando vida a duplicidade da personagem. Ela nasceu Estella e Cruella é seu lado mau. A mãe de criação, Catherine,  sempre estimulou que Estella seguisse o caminho do bem. Não se pode negar a genética, e seu lado mau, é muito mal.

Outras atuações que merecem atenção é de Mark Strong como o mordomo John the Valet, Joe Fry como Gaspar, Paul Walter House como Horácio, Emily Beecham como Catherine e John McRea como Artie. O diretor soube tirar o melhor de cada ator e atriz nesse longa.

Outra estrela desse longa é o figurino deslumbrante de Jenny Beavan que é com certeza um trabalho para aplaudir de pé! Todos os figurinos são belíssimos e criativos. Beavan já tem dois Oscars na categoria por “Uma Janela para o Amor” de 1987  e  “Mad Max: Estrada da Fúria” de 2015. Fora isso ela já foi indicada 10 vezes na categoria. E ela tem grandes chances de receber a 11ª indicação para a categoria.

A Trilha sonora de Nicholas Britell é divertida e capricha nos clássicos da época retratada, os anos 70.

A fotografia de Nicolas Karakatsanis foi de uma elegância impecável, e fez exatamente o que o filme pedia, e valorizou muito não só os belíssimos e impactantes figurinos, mas como mostrou climas diferentes com as tonalidades da fotografia de acordo como momento certo para cada intenção de cena.

Agora, nem tudo é perfeito!  O que complicou um pouco foi o roteiro. A Disney precisa entender que Live action precisa respeitar a obra original e não pode mudar a essência da obra original. A coerência é algo fundamental para uma boa obra.  A proposta aqui é mostrar a história da Cruella De Ville desde a infância até quando ela se torna a vilã clássica, mas vamos por partes para mostrar tantos erros que me entristece em falar, mas é necessário.

Na obra original criada por Walt Disney em 1961, a Cruella já era uma senhora bem mais velha que Anitta, sua assistente no ateliê e o marido de Anitta, o músico Roger. Se em 1961 ela já era uma senhora ela deveria ter nascido por volta de 1910. E não faz sentido ambientar a juventude de Cruella nos anos 70, uma década na frente dos acontecimentos do filme original. A conta não fecha!

A dupla Dana Fox e Tony McNamara esqueceram de coisas simples como a idade dos cães. Se os três Dálmatas da Baronesa atacaram Catherine, mãe de Estella quando ela tinha apenas 12 anos, Como eles estão do mesmo jeito quando ela está com mais de 20 anos? Só para lembrar, a média de vida de um cão é de 18 anos. E se eles estivessem vivos durante todo esse tempo, seriam tão velhos e estariam dando trabalho e a Baronesa só usa os cães para atacar seus desagravos. Eles não serviriam mais paraatender suas necessidades. Apesar de mostrar que o cão pode ser tornar bom ou mau de acordo com a maneira que é criado. Nesse ponto, acertaram!

Outro fator que não tem explicação é que a Cruella desse longa, gosta de cães. Como assim????  O Walt Disney criou essa história como crítica social séria contra os estilistas que usam pele de animais para fazer casacos de pele para o uso fútil de símbolo de riqueza e glamour que custa uma fortuna. Ele era um apaixonado por animais e quis trazer a causa para um animal que é mais próximo das pessoas, os cães.

A menina Estella adota um filhote e cresce com esse cão. Ela é acolhida por dois meninos de rua, Gaspar e Horácio. Eles viram família e Horácio também tem um cãozinho que ele considera um filho. Então, eles são apaixonados por cães, como vão perseguir os cães e mandar para o peleiro matar, tirar a pele e fazer os casacos de pele que Cruella é tão apaixonada? Não se pode esquecer que a maldade dessa vilã é não se importar com a vida dos animais. Quem ama não mata e a dupla de roteiristas esqueceu desse fator tão importante. Na animação clássica, Gaspar e Horácio são apenas empregados da Cruella para assuntos escusos. Não tem nenhuma intimidade ou proximidade com ela, apenas são funcionários da estilista.

Uma cena extra acaba piorando as coisas, Anitta que é uma amiga de infância de Estella, negra e jornalista recebe Perdita, e Roger que também tem outra etnia, é interpretado por um ator britânico filho de iranianos, é um ex-funcionário de Cruella, advogado, medroso, recebe pongo.

Lembrando que os personagens Anitta e Roger são personagens clássicos britânicos. Ela é estilista assistente de Cruella no ateliê e Roger é compositor de canções para comerciais. A personalidade deles foi modificada, assim como a etnia dos dois. Com isso, dois personagens tão queridos não foram só mal aproveitados, foram completamente descaracterizados. Uma pena, porque os atores Kirby Howell-Baptiste das séries: “Killing Eve”, “The Good Place” e “Verônica Mars” e Kayvan Novak da aclamada série “O Que Nós fazemos Nas Sombras” são ótimos! Poderiam ter sido muito melhor aproveitados criando personagens interessantes para eles, assim como foi criado para John McCrea, que interpretou Artie, um estilista amigo de Cruella. Afinal, como a história se propõe a falar da infância e juventude de Cruella, alguns personagens poderiam ter sido criados, assim como não cabia manter personagens que não teriam nem nascido nessa época da juventude da senhora Cruella De Ville.

É Claro que essas falhas interferem no trabalho do figurino que foi trabalhado na época que foi descrita no roteiro desse longa. Não tem como contabilizar algo que é delimitado no roteiro. O efeito de fogo na capa branca não teria como ser feito nessa época.  E o que Jenny Beavan fez com os figurinos são tão impactantes que é possível relevar um erro que é de outro setor.

Apesar das falhas no roteiro, o diretor australiano Craig Gillespie conseguiu um filme elegante, interpretações marcantes, um visual impactante e uma ótima trilha sonora que vale a pena conferir. O filme é divertido apesar dos erros no roteiro.

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