O Festival do Rio 2022 abre sua edição em formato tradicional depois de 2 anos de Pandemia e faz isso com chave de ouro. A curadoria acertou em escolher para a abrir os 10 dias de trabalhos, o filme de Sam Mendes, “Império da Luz”.
Depois de 3 anos de dirigir 1917, Sam Mendes volta para o cinema com um novo projeto que tem uma proposta de discutir o amor pela sala de cinema. Assunto muito discutido mundo à fora por conta de Pandemia e novas formas de consumir entretenimento. O trailer mostra uma beleza poética e uma fotografia deslumbrante que emociona qualquer cinéfilo. Ele ambienta essa história nos anos 80 em uma cidade litorânea no sul da Inglaterra. E é sempre melhor quando o diretor é também o roteirista. Ela consegue transmitir uma pureza de ideia maior, já que tudo é formado em sua imaginação.
Para isso ele convoca um time de peso para levar sua história da melhor forma. Para começar o elenco estrelar encabeçado por Olivia Colmon, uma das atrizes mais premiadas e festejadas dos últimos anos. Ela interpreta a gerente da sala de cinema Império, Hillary Small. Ela é o elo de ligação entre os personagens da sala de cinema. A primeira vista vemos uma mulher com uma vidinha casa-trabalho-trabalho-casa. Ela não demonstra ânimo em fazer as coisas, nem quando seus colegas a estimula com conversas e brincadeiras. Ela tem uma relação mal resolvida com seu chefe, o dono do cinema, Sr. Ellis, interpretado por outro ator premiado, Collin Firth. Tudo estava como sempre até a chegada de um novo funcionário, Steven, interpretado pelo ganhador do BAFTA Michael Ward pela série “Small Axe” e também do filme da Netflix “Old Guard”. Steven e Hillary começam uma amizade que logo evolui para um sentimento mais profundo que mexe com o marasmo da vida que Hillary levava.
Sam Mendes soube como tirar o melhor de seu elenco para fazer cada um brilhar a seu modo. Apesar do indiscutível talento dos atores, é o personagem Norman de Toby Jones quem transmite o que é o amor à sala de cinema. É dele as melhores falas que faz com que o filme arrebate os corações cinéfilos. É o projecionista Norman quem nos representa! Quando ele ensina Steven a operar os projetores, nos remete uma viagem no tempo ao clássico “Cinema Paradiso” quando Alfredo ensina o Totó. É lindo!
Para que essas cenas possam ficar completas, Mendes convocou Roger Deakins para garantir uma fotografia deslumbrante que transmitisse a magia de uma sala de cinema. É claro que sem um diretor de arte, nada disso ganharia vida. Entra em cena o premiado diretor de arte Mark Tildesley. Ele recriou com uma riqueza de detalhes impressionante uma sala de cinema com seu foyer, escadarias, plateia e claro a sala de projeção, onde as melhores cenas do filme são feitas. As cenas na praia também merecem atenção.
A trilha sonora criada pela dupla Trent Reznor e Atticus Ross nos ambienta e emociona completando esse passeio de amor à sala de cinema.
Mas não se engane! Apesar de ter todos os elementos de um apaixonado por cinema, a trama não foca nesse como assunto principal. A história dos relacionamentos entre Hillary, Sr. Ellis e Steven tem mais destaque.
Os problemas políticos e raciais na Inglaterra dos anos 80 movimenta bem a trama. Hillary é branca e Steven é negro. Vemos a orda de skinhead, um grupo de racistas violentos de extrema-direita que fez muitos estragos na Inglaterra. Como a proposta do filme não era falar da violência e sim, mostrar o que período onde as salas de cinema eram muito procuradas, não tem como fazer de conta que isso não existiu. Com isso, Sam Mendes optou por mostrar de forma mais inteligente, sem imagens impactantes. Você sabe que está ali. É o suficiente para pontuar sem comprometer a beleza do filme.
O mais importante de um filme é poder contar uma história. Em alguns casos, como este, pode se contar mais de uma história em um único filme.
Império da Luz ainda não tem data de lançamento no Brasil, mas adianto que vale comprar o ingresso, a pipoca, juntar os amigos e fazer essa ida ao cinema valer muito a pena. É como um passeio especial, vale o investimento.
Vamos aguardar!
