Imagine que você é um diretor de cinema, que depois de uma carreira bastante regular, consegue conquistar a crítica especializada (e parte do público) com um projeto ambicioso e ganha reconhecimento mundial e prêmios dos principais festivais de cinema do planeta. Depois que passa esse momento, você parte para algo ainda maior e ainda mais pretensioso, para não perder o embalo, certo? Bem, não é bem isso que pensou Richard Linklater. Após se consagrar com “Boyhood: da infância à juventude”, que foi premiado com os Globos de Ouro de Melhor Filme de Drama, Direção e Atriz Coadjuvante para Patricia Arquette, além de também dar o Oscar para Arquette, Linklater resolveu fazer um filme bem mais descontraído e descompromissado e que, segundo ele, tem uma ligação com dois de seus filmes anteriores. Assim, “Jovens, loucos e mais rebeldes!!” (“Everybody wants some!!”, 2016) traz de volta o estilo peculiar do diretor de contar histórias, que mistura comédia, drama e questões existenciais protagonizadas por um elenco jovem, de uma maneira pouco vista entre os cineastas americanos da atualidade.
A história se passa em 1980 e mostra o período de três dias na vida de Jake (Blake Jenner), que vai para a universidade jogar beisebol. Ele vai morar na casa que serve como dormitório para os outros atletas e logo faz novos amigos entre os jogadores, sejam eles novatos ou veteranos. Enquanto aguarda as aulas começarem, Jake e seus novos parceiros passam o tempo entre festas, jogos, paqueras e muita farra ao som de muita música, regada a bebidas, drogas e outras formas de diversão.
A partir de um argumento simples, Linklater retoma o clima e a forma que já havia apresentado em um de seus primeiros sucessos, “Jovens, loucos e rebeldes” (“Dazed and confused”, 1993), com a narrativa sendo costurada a partir de vários e corriqueiros episódios envolvendo os personagens. A diferença é que, desta vez, o diretor dá um espaço melhor distribuído para que os personagens possam ser mais importantes para a história, ao contrário do filme lançado há mais de 20 anos. O humor é bastante peculiar e muita gente que espera rir do início ao fim da projeção pode se decepcionar. Mas quem já é fã do estilo do cineasta certamente ficará feliz com a sua nova obra.
Outra característica semelhante que une “Jovens, loucos e mais rebeldes!!” a “Jovens, loucos e rebeldes” é a decisão de Linklater em trabalhar com um elenco composto de atores e atrizes praticamente desconhecidos do grande público, mas que já atuaram em diversas produções. Um exemplo é Tyler Hoechlin, que foi o filho de Tom Hanks em “Estrada para Perdição” (2002) e atuou nas séries “Teen Wolf” e “Supergirl”, onde interpreta ninguém menos do que o Superman. No filme, ele vive o veterano e competitivo McReynolds, que age como uma espécie de líder da equipe de beisebol. Também se destaca Ryan Guzman, que foi visto como o jovem que atormenta a vida de Jennifer Lopez em “O garoto da casa do lado”, e, aqui, interpreta Roper. Entre as garotas, quem se sobressai é Zoey Deutch, que dá vida a Beverly, com quem Jake acaba se envolvendo. A atriz é bem carismática e pode se tornar um nome famoso nos próximos anos.
Com uma ótima trilha sonora, composta por hits de estilos como Rock, Pop e Soul, “Jovens, loucos e mais rebeldes!!” não vai mudar a vida de ninguém. Mas funciona muito bem como um descompromissado passatempo e certamente deixará grande parte do público com um sorriso no rosto quando a história acaba. O filme mostra que Linklater, mesmo quando não quer fazer nada muito mirabolante, ainda assim faz um cinema de qualidade e, como dizem nos dias de hoje, “fora da curva”.