O filme russo dirigido por Aleksey Fedorchenko que também roteirizou em parceria Nataliya Meshchaninova mostra um outro foco da Segunda Guerra Mundial. O filme é centralizado em uma garotinha, Anna que é a única sobrevivente ao ataque dos nazistas que dizima sua família. Ela é encontrada aos escombros embaixo dos corpos mortos de seus familiares. Ela é levada por um casal de idosos para uma casa grande que parece ser uma escola. O que vemos aqui é uma visão da segunda guerra com a visão das crianças que sofreram durante esse período negro da história do mundo.

Anna tenta sobreviver como pode e com o que encontra em seu pequeno esconderijo e luta para sobreviver em meio ao terror dos nazistas. Anna é o centro da história e a câmera acompanha bem de perto todos os movimentos da menina interpretada por Marta Koslova que mostra que sabe segurar um filme com tão pouca idade. Ela não tem diálogos porque ela vive em solidão total e apenas observa o que acontece em torno do seu esconderijo.  Isso também é mérito do diretor que soube tirar o melhor de Marta e é tarefa difícil para quem é ator com formação profissional e experiência, imagina trabalhar isso com uma criança de 10 anos? Trabalhar a interpretação só com olhar sem fala, sem interação e com pouco espaço para atuação mais ampla. Ele conseguiu mostrar para o mundo do que Marta Koslova pode ser capaz de fazer e que tem um ótimo caminho para trilhar. Ele mostrou que ele também tem potencial para fazer cada vez mais filmes que tenham o que dizer. Isso é essencial para um bom contador de histórias.

Desta vez, não temos a visão de soldados e estrategistas de guerra, e sim de uma criança que representa tantas crianças que sofreram as mazelas da guerra. O que faz esse filme ser mais minimalistas nas tomadas e o uso das câmeras são mais próximas para dar mais sensação de intensidade de cada acontecimento nas cenas.

O filme causa um certo incômodo com a situação de Anna, escondida em um lugar escuro, sem comida, sem água, sem higiene e ela luta para sobreviver com todas as dificuldades. Ela não tem um raciocínio político das coisas, afinal tem apenas 6 anos. O que nos passa é o instinto de sobrevivência e o choque de ver uma criança passar por tantas adversidades que só a estupidez da guerra pode trazer.  A noite ela circula pela sala de aula que fica vazia e de dia ela fica escondida em uma lareira e observa tudo que acontece em um buraco no tijolo. Mesmo com tantas mazelas é bonito ver a cena em que ela interage com um gatinho. Mesmo com tudo de ruim que aconteceu, a afetividade dela ainda estava ali, representada no gesto de fazer carinho no gato.

Para quem vem preparado para assistir um filme de reflexão, ganha o interesse em compartilhar com alguém sobre todos os lados de discussão que o filme traz, já para quem quer um filme para entretenimento vai achar o filme um tanto monótono, já que demora muito tempo para as coisas acontecerem. Para quem tiver interesse em conhecer o que Aleksey Fedorchenko tem para dizer, vale a pena assistir A Guerra de Anna para refletir sobre o assunto como um drama de sobrevivência.

A fotografia   de Alisher Khamidkhodzhaev trabalha a escuridão de forma que todos os objetos de cena fiquem visíveis. Ele ressalta a beleza que existe no caos.

A direção de arte fez um trabalho de reprodução de época com maestria.

A Guerra de Anna é um filme para absorver aos poucos e pensar bastante sobre quem paga as contas de uma Guerra. Não importa a guerra e nem à proporção que ela tenha, ela sempre deixa um rastro de dor, tragédia e muitas consequências. Podemos fazer um paralelo de Anna com as crianças que vivem em situações de guerra e tem vidas sub humanas e ainda são separadas de suas famílias. A história do mundo coleciona muitas histórias assim. O filme leva a reflexão de que nenhuma guerra deveria existir mais.

 

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