Cantando na Chuva (Singin’ in the Rain) / Eua, 1952. 103 min / Direção: Stanley Donen/ Gene Kelly

Com: Gene Kelly, Debbie Reynolds, Donald O’Connor, Cyd Charisse

“Cantando na Chuva” (Singin’ in the Rain, 1952) pode ser considerado um dos filmes mais importantes da história do cinema. Há logicamente várias razões que o colocam neste elevado patamar, mas a mais importante é o fato de ter sido produzido numa época que marcava o fim do domínio dos grandes estúdios que manipulavam a indústria cinematográfica norte americana. No final dos anos 50 e início dos anos 60 uma grande revolução mundial (bomba atômica, revolução sexual, Guerra do Vietnam e o homem pisando na Lua) iria revolucionar as engrenagens desta máquina e foi neste período que os musicais entrariam em declínio, pois a sociedade ansiava por mais veracidade e menos escapismo.

A direção de Stanley Donen mantém o frescor e o colorido dos feéricos musicais e demonstra todo o vigor de um elenco em perfeita sincronia. O enredo possui basicamente a mesma estrutura ingênua de todos os musicais (rapaz conhece moça, moça conhece rapaz, rapaz se apaixona pela moça, moça resiste ao rapaz, mas acaba cedendo até atingir o final romântico), mas “Cantando na Chuva” aponta para além do que é mostrado, pois demonstra a enorme necessidade de se apoiar em uma cultura de felicidade absoluta. A icônica sequência onde Gene Kelly canta e dança na chuva num evidente e simulado cenário (a famosa canção Singin’ in The Rain) é a síntese desta equação.

Gene Kelly, então com 40 anos, atinge o auge como bailarino atlético e profissional. É de sua autoria a direção de algumas sequências como “Got A Dance” onde uma extravagante e vampiresca Cyd Charisse, dá um show de coreografia em um dos mais sensuais balés do cinema. Tudo é milimetricamente sincronizado com as necessidades de uma indústria que atingia o Olimpo idílico, mas “Cantando na Chuva” atua como um corante que vai diluindo conforme a projeção termina. Ele aponta para o fim de uma era onde os sonhos eram pré-fabricados em celulóide technicolor e o amor era sempre a maior e melhor recompensa de nossas vidas.

Obs: A morte da atriz Debbie Reynolds em dezembro de 2016 e os prêmios no Oscar do filme “La La Land, Cantando as estações” , ironicamente trouxeram de volta a lembrança deste filme. Ambos reforçam que o ciclo nunca se fechará completamente e que, de tempos em tempos, o cinema sempre nos oferecerá uma nova maneira de sonhar e dançar na chuva.

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