O Retrato de Dorian Gray (The Picture of Dorian Gray) / Direção: Albert Lewin / Eua, 1945. 111 min. / Com George Sanders, Hurd Harfield , Angela Lansbury, Donna Reed

 

Esta grandiosa produção da MGM de 1945 contém todos os elementos que fizeram a fama deste grande estúdio. O diretor Albert Lewin cercou-se dos melhores técnicos da época para apresentar este extraordinário conto lúgubre repleto de citações filosóficas e simbólicas, a começar pelo texto inicial de Omar Khayyan (que abre e fecha o filme). A partitura dramática de Herbert Stothart, com seus acordes comoventes, oferece a tonalidade certa que, esta extravagante história pede.

Dorian Gray (Hurd Hartfield) é um jovem burguês da alta sociedade inglesa que tem seu retrato pintado por um amigo. Após ouvir as amoralidades ditas por Lord Henry Wotton (George Sanders); Gray deseja, de corpo e alma, trocar de lugar com a pintura. Ou seja, ele permaneceria jovem e bonito, enquanto o retrato envelheceria. O desejo é atendido, mas após um incidente trágico amoroso, Gray assume um comportamento grosseiro e áspero transportando seus pecados, doenças e agressividade para a pintura.

Como é notório, Oscar Wilde era um homossexual não assumido que despejava em seus textos todos os impulsos sexuais reprimidos, apresentando personagens ambíguos e inseguros e Dorian Gray é, quase como, um alter ego de sua persona. Um almofadinha mesquinho, preocupado apenas com a efemeridade da juventude e beleza. O filme reflete muito bem estas incertezas, pois os personagens masculinos estão constantemente admirando-se e trocando elogios sobre suas aparências.

Embora o roteiro contenha ligeiras modificações em alguns conceitos, o filme é bastante fiel à essência do texto de Wilde, pois os personagens refletem a imagem da repressão sexual da era Vitoriana. O filme é narrado em off, por Lord Henry Wotton, uma espécie de colunista social da Inglaterra de 1886, um hostess que analisa e apresenta os personagens, impregnando o texto com tiradas sarcásticas e cheias de ironia.

O diretor Albert Lewin dirigiu apenas seis filmes em sua carreira, mas atuava como produtor e supervisor de produção e de roteiros, o que facilitou transportar toda a complexidade da história de Oscar Wilde para as telas. Ele consegue transmitir sensações e sentimentos e apresentar os vários personagens, com um simples e econômico movimento de câmera. Como exemplo deste virtuosismo assista a cena onde o irmão de Sybil, James Vane, (Richard Fraser) aparece. Em um primeiro plano, Lewin expõe o ciúme e a preocupação do personagem sem dizer uma única palavra. Outras analogias são fartamente utilizadas ao longo do filme, como a borboleta presa por Lord Henry Wotton. Ao segurar o inseto, Wotton manifesta sua preocupação ilusória em segurar a vitalidade e a juventude.

A fotografia prateada de Harry Stradling Jr. (Uma Rua Chamada Desejo, Suspeita) é outro mérito. Trabalhando com um belíssimo jogo de sombras, ele vai modificando a paleta ao longo da história, criando um ar fúnebre e lúgubre. Há um interessante uso do Technicolor quando o retrato aparece por quatro vezes. O efeito é impressionante.

O elenco é primoroso. Hurd Hatfield encarna Dorian Gray com tamanha convicção e elegância, que nunca mais conseguiu livrar-se do estigma do papel. George Sanders, como o influente Lord H. Wotton é eficaz quando desempenha papéis de homens prepotentes e arrogantes. Angela Lansbury, como a angelical Sybil Vane, em seu terceiro papel, é outro destaque. Com a fragilidade de um rouxinol assustado, Angela transmite a humilhação e insegurança om muita sensibilidade.
“O Retrato de Dorian Gray” (The Picture of Dorian Gray no original) é uma obra prima do cinema dos anos 40, que merece todos os elogios possíveis. E acima de tudo é uma história atualíssima que fala da eterna preocupação humana em manter-se jovem a qualquer custo e da decadência da intelectualidade.

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui