Rashomon / Direção: Akira Kurosawa / Japão / 1950 – Com: Toshiro Mifune – Machiko Kyo – Massayuki Mori

A importância de Rashomon para o cinema é fundamental em vários aspectos: Foi com ele que Kurosawa abriu as portas do Cinema Oriental mostrando para o Ocidente sua incrível habilidade técnica e visual. Em 1950 ele ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza e impressionou o público com esta arrebatadora obra, que mesmo vista hoje em dia, ainda não perdeu seu impacto criativo. E foi através deste filme, também, que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood decidiu abrir uma categoria especial premiando filmes de língua não inglesa.

Através de quatro personagens Kurosawa apresenta visões bastante diferentes sobre um mesmo crime e concede ao público o significado que está por trás de cada história humana ensinando, com isso, que a verdade pode estar tão profundamente escondida que talvez nunca seja realmente conhecida.
O espectador poderá ver e rever filme tantas vezes for necessário e, mesmo assim, ter interpretações diferentes duvidando sobre suas escolhas. O que torna Rashomon uma obra de caráter universal e atemporal.

Usando basicamente três cenários (o abrigo em ruínas Rashomon, a selva e o tablado do tribunal) o filme é um tratado sobre os variados atos comportamentais do ser humano com seus vícios de conduta. Certo? Errado? Verdadeiro ou Falso? Não importa. O fato é que Kurosawa sublima um aparente e simples enredo e o transcende num questionamento básico sobre a moral humana através do sexo, poder e dinheiro, que são na verdade as 3 molas mestras do mundo capitalista.


A história também explora a condição submissa da mulher no Japão feudal (que perdura até hoje) que, sem nenhuma opção num mundo radicalmente masculino, resta apenas a subordinação e o rebaixamento servil. Após o estupro, a mulher Masako é considerada, pelos homens, impura e sórdida e só pode continuar existindo sob um mando de extrema humilhação. No entanto, numa das versões, a mulher manipula os homens ao seu bel prazer e deixa o destino fazer as escolhas deixando a dúvida pairar mais uma vez sobre as cabeças do espectador.
É reservado para a mulher, também, o papel misterioso e sobrenatural através da personagem de uma médium que incorpora o marido morto.

Fora o belíssimo tema, o filme apresenta uma impecável direção técnica (com uma espetacular fotografia em P&B de Kazuo Miyagawa (colaborador de vários filmes do lendário diretor Kenji Mizoguchi) e um elenco em estado de graça com destaque para o internacional Toshiro Mifune como o debochado e irônico ladrão Tajômaru cuja credibilidade nunca é questionada.

Tudo em Rashomon é sublime e repleto de julgamentos morais. Na verdade, o que Kurosawa fez pelo cinema é transformá-lo numa experiência de riqueza fantástica e de extrema inteligência sem apelar para aprofundamentos intelectuais.

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